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A catástrofe conceitual do governo Lula

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Rodolfo Borges
6 minutos de leitura 20.01.2024 11:14 comentários
Análise

A catástrofe conceitual do governo Lula

Silvio Almeida foi ao resgate da colega de governo Anielle Franco na terça-feira, 16. O ministro dos Direitos Humanos confundiu para esclarecer, como diria Tom Zé, o conceito de...

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A catástrofe conceitual do governo Lula
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Silvio Almeida foi ao resgate da colega de governo Anielle Franco na terça-feira, 16. O ministro dos Direitos Humanos confundiu para esclarecer, como diria Tom Zé, o conceito de “racismo ambiental”, propagandeado pela ministra da Igualdade Racial — que vestiu colete no mesmo dia para participar dos reforços de resposta às enchentes no Rio de Janeiro (foto, à esquerda). Anielle é cotada para compor a chapa de reeleição de Eduardo Paes (PSD) na capital fluminense.

Almeida disse que o conceito “visa a explicar a forma com que as catástrofes ambientais e a mudança climática afetam de forma mais severa grupos sociais política e economicamente discriminados que, por esse motivo, são forçados a viver em condições de risco”, mas reconheceu que “racismo ambiental não explica o todo”.

Quem dera essa fosse a única confusão conceitual do governo Lula.

Direitos humanos

O próprio Almeida já vem bagunçando o conceito de direitos humanos há meses, usando seu ministério para acobertar violações de direitos por ditaduras amigas e atacar adversários do Palácio do Planalto nem tão autoritários assim. Quando questionado sobre a China em entrevista concedida em setembro de 2023, o ministro desconversou:

Como ministro de Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, me preocupo mais com o destino das centenas de relatórios que falam sobre desafios enfrentados globalmente e, particularmente, pelos brasileiros, como o racismo, a falta de acesso a medicamentos e vacinas, o crescimento da pobreza e da fome, os abismos enfrentados pelas mulheres na busca por igualdade, a exploração sexual de crianças, as condições precárias dos trabalhadores.

Como registrou reportagem de Crusoé, Almeida também se esquivou sempre que o assunto foi Vladimir Putin, e tirou o corpo fora quando Lula atacou o Tribunal Penal Internacional (TPI) por emitir um mandado de prisão contra o autocrata russo pelo sequestro de crianças ucranianas.

Democracia

O conceito de democracia também está sob revisão petista, simbolizada por um acordo com o Partido Comunista Chinês. A fluidez desse conceito no governo Lula acompanha a dos direitos humanos. A depender do governante, como os ditadores da Nicarágua, Daniel Ortega, e da Venezuela, Nicolás Maduro, ou o presidente da Argentina, Javier Milei, a rigidez para definir o que é uma democracia muda.

“O objetivo de Lula e do PT é sequestrar a palavra ‘democracia’ para alterar o próprio conceito de democracia, redefinindo-o para designar ‘cidadania’ ofertada a partir do Estado pelo líder populista e seu partido”, analisa Augusto de Franco em sua coluna em Crusoé. acrescentando: “O resultado dessa operação não será mais democracia, mas um conceito não democrático de cidadania”.

Genocídio

O conceito de genocídio é outro que virou arma política na boca de Lula. Seu governo endossou formalmente a infundada acusação da África do Sul de que Israel está cometendo genocídio em Gaza. Mas contra os Hamas, que declaradamente pretende exterminar judeus e extinguir o Estado de Israel, as palavras são bem mais brandas, e passam longe da acusação de genocídio.

Um grupo de empresários, executivos, pesquisadores e artistas assinou nesta semana um abaixo-assinado que pede a retirada do apoio do governo brasileiro à ação sul-africana, e entre os signatários está até Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, geralmente alinhada aos petistas.

“Autodeterminação dos povos”

Lula também se acostumou a sacar conceito de “autodeterminação dos povos” sempre que questionado sobre os desmandos de Maduro na Venezuela — como na pretensão de anexar território da Guiana.

Quando se tratou da invasão da Ucrânia por tropas russas, contudo, o conceito sumiu da boca do petista, que preferiu dirigir suas críticas ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

A estratégia do petista já foi analisada em artigo por Felipe Moura Brasil.

Centrão

Lula também tenta sumir com o conceito de Centrão, grupo de partidos abertos a negociação no Congresso Nacional, por assim dizer. “O Centrão não existe. O Centrão é um ajuntamento de um grupo de partidos em determinadas situações”, disse o petista em julho de 2023, acrescentando que negocia com partidos individualmente.

É uma questão meramente retórica: Lula tenta se livrar do termo, que já surgiu com ares pejorativos, para negociar da mesma forma de sempre.

Fake news

Para os petistas, fake news é sempre o que os outros dizem. O governo Lula reagiu ao caso Choquei, no qual o perfil de rede social em envolveu na divulgação de mentiras que levaram uma jovem a cometer suicídio, cobrando regulação das plataformas. Sobre o perfil Choquei, cujo criador apoiou intensamente a campanha presidencial de Lula em 2022, poucas palavras.

O governo chegou a lançar uma campanha contra a disseminação de fake news. Naquele mesmo mês, Lula disse que a trama do Primeiro Comando da Capital (PCC) para sequestrar o senador Sergio Moro (União-PR), desvendada pela Polícia Federal, era “mais uma armação do Moro”.

Mulheres

Até o conceito de mãe passa por uma redefinição oficial. O Ministério da Saúde divulgou uma campanha nesta semana sobre puerpério em que as palavras “mulher” e “mãe” não aparecem. É o alinhamento do governo às pautas identitárias — no caso, de acordo com a ideologia, um homem trans (cuja fisiologia é feminina) também pode dar à luz.

Não foi a primeira vez que o Ministério da Saúde omitiu o termo “mulher” em campanhas de saúde que dizem respeito a mulheres. Em publicação recente no site do Ministério, sobre a campanha de distribuição de absorventes, o texto também evita o termo “mulher”, com apenas uma menção a “meninas” ao final. A palavra mais usada no comunicado para se referir aos destinatários do programa é “pessoas”.

Corrupção

A grande redefinição de termo neste terceiro governo Lula, contudo, é a de corrupção. O desmonte da Lava Jato contou com a ajuda das hostes de Jair Bolsonaro, mas apenas Lula tem o aval do mainstream político-cultural para disseminar narrativas como a que reembalou a maior operação contra a corrupção da história do país como uma trama nefasta para persegui-lo — e aos pobres que ele tanto usa nos discursos.

Na quinta-feira, 18, o petista voltou à carga. Em visita à refinaria de Abreu e Lima (PE), um dos símbolos da corrupção na Petrobras, Lula disse que “tudo o que aconteceu neste país foi uma mancomunação entre alguns juízes, alguns procuradores desse país subordinados ao departamento de Justiça dos Estados Unidos, que queria, e nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras”.

O glossário ideológico está aí, cai quem quer.

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Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

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