Sertanejo in Rio
O Rock in Rio mistura estilos desde sua edição original. Depois de se arriscar no ecletismo com Carlinhos Brown, a produção tomou uma precaução essencial ao incluir os sertanejos para o aniversário de 40 anos
Parece a divulgação da Festa do Peão de Barretos, mas trata-se da edição de 40 anos do Rock in Rio. O anúncio de uma série de cantores e duplas sertanejas para o festival que leva rock no nome surpreendeu muita gente e gerou reclamações nas redes sociais, mesmo com os avisos que o chefão do evento, Roberto Medina, vem dando há anos.
Em 2022, Medina já dava sinais de que tinha interesse de contemplar o sertanejo no evento, entre outros estilos brasileiros. Já foram anunciados para a próxima edição Luan Santana, Chitãozinho e Xororó, Simone Mendes e Ana Castela, e deve vir mais por aí.
Mesmo os amantes do rock and roll conhecem, naturalmente, algumas músicas dos veteranos dos palcos de rodeio — quem nunca cantou Evidências? Mas será que o Rock in Rio, cujo aniversário de quatro décadas pode ser marcado pela edição com menos astros de rock, é mesmo um evento para esses artistas?
As vaias históricas do Rock in Rio
O festival uniu estilos musicais diversos desde sua primeira edição, em 1985. No headline original, estavam a icônica banda britânica Queen, o Iron Maiden e o Whitesnake, liderado por David Coverdale, mas também o saudoso Erasmo Carlos, que não escapou de vaias do público do metal, e Ney Matogrosso.
No segundo dia da primeira edição do festival, a cantora Elba Ramalho passou pelo mesmo palco que o guitarrista e cantor de jazz George Benson. O primeiro Rock in Rio também contou com Lulu Santos e Moraes Moreira.
Água mineral
Dezesseis anos depois, em 2001, a produção do evento deu seu passo mais ousado no ecletismo, numa edição que acabou entrando para a história negativamente. No mesmo dia em que se apresentou a banda de metal Iron Maiden, o cantor baiano Carlinhos Brown foi submetido a uma chuva de copos de plástico e latas de bebida no palco principal. Um show, mas de horrores.
Hostilizado pelo público, Brown interrompeu sua apresentação para reclamar dos “adolescentes que renegam o que é brasileiro“. O casal Roberto e Roberta Medina pisou feio na bola naquele dia.
Sertanejo no Rock in Rio?
Mauro Ferreira publicou em sua coluna no portal G1, em 2022, uma defesa da presença do sertanejo no Rock in Rio. Para ele, os cantores do gênero devem estar no festival para diluir o preconceito.
Os roqueiros não gostam de sertanejo, mas o respeitam, e vice-versa. Mas não seria agradável para o público — e nem para o artista — colocar Sepultura para tocar num festival em que a atração principal é Anitta.
Medina começou a mudança mais radical no evento quando incluiu o funk entre as apresentações. Até que deu certo, mas a consequência dessas mudanças é o acanhamento progressivo da presença do rock, pretexto original para o festival.
A produção do Rock in Rio tomou o cuidado desta vez, contudo, de separar os intrusos em um dia específico. Será em 21 de setembro que irão se apresentar os sertanejos, entre outras tribos alternativas.
Dia Brasil
De acordo com o jornalista José Norberto Flesch, responsável por revelar as novidades do festival, o dia alternativo ao rock “não terá headliners e nem shows solo”. “Somente shows especiais com artistas nacionais comemorando os ritmos brasileiros”, explicou o jornalista em seu perfil do X, antigo twitter.
Flesch também divulgou o line-up completo do Dia Brasil: Capital Inicial, Detonautas, Nx Zero, Pitty, Rogério Flausino, Toni Garrido, Baiana System, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Majur, Margareth Menezes, Ney Matogrosso, Cabelinho, Filipe Ret, Kayblack, Matue, Orochi, Ryan SP, Veigh, Zeca Pagodinho, Alcione, Diogo Nogueira, Jorge Aragão, Maria Rita, Xande de Pilares, Duda Beat, Gloria Groove, Jão, Ludmilla, Luisa Sonza, Lulu Santos, Chitãozinho e Xororó, Ana Castela, Junior, Luan Santana, Simone Mendes, Criolo, Djonga, Karol Conká, Mano Brown, Marcelo D2 e Rael.
Desta vez, a organização acertou na estratégia para atrair os admiradores de astros sertanejos, do pagode, do samba e do axé, entre outros estilos, sem que eles precisem se preocupar com vaias e latas arremessadas. Mas talvez o festival pudesse mudar de nome no dia 21.
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