Governo Lula assume que não negocia com judeus Governo Lula assume que não negocia com judeus
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Governo Lula assume que não negocia com judeus

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Ricardo Kertzman
5 minutos de leitura 09.10.2024 08:48 comentários
Análise

Governo Lula assume que não negocia com judeus

Alemães são alemães. Canadenses são canadenses. Mas israelenses, para o ministro da Defesa de Lula, são “judeus” 

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Ricardo Kertzman
5 minutos de leitura 09.10.2024 08:48 comentários 8
Governo Lula assume que não negocia com judeus
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Rótulos são comuns. Adjetivos, também. Mas muitos são carregados de preconceito, ainda que involuntariamente. Sabem aquela história de “estrutural”? Machismo estrutural, racismo estrutural, patrimonialismo estrutural… Pois é.

Quando alguém se refere a africanos como macacos, quando alguém se refere a homossexuais como bichas, quando alguém se refere a lésbicas como sapatões, quando alguém se refere a transexuais como travecos, quando alguém se refere a pobres como favelados, quando alguém se refere a nordestinos como baianos, quando alguém se refere a muçulmanos como terroristas, quando alguém se refere a interioranos como jecas está sendo asquerosamente preconceituoso

Um americano é americano. Um argentino é argentino. Um francês é… francês! Por que diabos, então, um israelense é judeu? A pergunta é meramente retórica, claro, pois a resposta é irrefutável: preconceito. Mas, atenção! Não confundam com antissemitismo, ainda que comumente associados.

Sincericídio ministerial

O ministro da Defesa do governo Lula, José Múcio Monteiro, em evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI) na terça-feira, 8, resolveu abrir o baú de barbaridades e proferiu um sem número de besteiras, ainda que algumas, com certa razão, e, quero crer, no caso dos judeus, sem má intenção; apenas por preconceito “estrutural”. 

Múcio falou sobre a importação de potássio do Canadá: “Temos a segunda maior reserva, mas como está embaixo da terra dos índios, nós não podemos explorar”. Falou sobre munições: “Temos uma munição no Exército que não usamos. Fizemos um grande negócio. Não faz, porque senão o alemão vai mandar pra Ucrânia e a Ucrânia vai usar contra a Rússia e a Rússia vai mexer nos nossos acordos de fertilizantes“. Falou sobre as Forças Armadas e golpe de Estado: “Se tem muita gente que debita às Forças Armadas o golpe de 64, então tem de creditar às Forças Armadas não ter havido golpe em 2023”. Meu Deus!

Antes de continuar, um lembrete ao ministro: a democracia não é garantida pelas Forças Armadas, mas as Forças Armadas, pela democracia. É o Estado Democrático de Direito que faculta aos militares o uso das armas, para a defesa da nação. O golpe de 64 foi perpetrado pelo Exército, sim. Não se trata de Muita gente debitar”. E se não houve golpe em 2023, não foi por causa das Forças Armadas, mas, repito, pela obediência ao Estado Democrático de Direito e à Constituição Federal. Nenhum brasileiro deve gratidão alguma às Forças Armadas por causa disso.

A coisa só piora

Múcio guardou o suprassumo do sincericídio banal para os judeus, e não israelenses, segundo ele, apesar de estar se referindo ao Estado de Israel, ou, como disse, tentando reparar a gafe, “Povo de Israel”: “Houve agora uma concorrência, uma licitação… Venceram os judeus, o povo de Israel, mas, por questão da guerra, do Hamas, os grupos políticos… Nós estamos com essa licitação pronta, mas, por questões ideológicas, nós não podemos aprovar”.

O ministro se referia à compra de blindados israelenses, e quem, segundo apuração do Portal Uol, impediu a negociação, foi o assessor especial de Lula, Celso Amorim, notório por seus posicionamentos contra Israel.

Não fosse o governo federal e, principalmente, o próprio presidente Lula tão assumidamente anti-israelenses e pró-Irã, cujos aiatolás financiam grupos terroristas, e não fossem (Lula e o PT) tão históricos aliados de ditadores e ditaduras mundo afora, talvez o deslize do ministro passasse batido. 

Antissemitismo de Estado

Mas sendo o representante da Defesa de um governo que se tornou uma espécie de porta-voz informal do Hamas –  e agora também do Hezbollah -, e opositor ferrenho de Israel, inclusive disseminando mentiras e desinformação sobre a guerra entre – aí, sim – judeus e terroristas, tudo fica ainda pior. 

A manifestação de José Múcio é totalmente consonante, contudo, com o pensamento de gigantesca parte da população mundial. Desde que Abraão criou o judaísmo, aliás. 

Não foram por outro motivo as perseguições persa, otomana, russa, árabe, romana, nazista, islâmica, católica e sei lá mais quantas ao longo dos últimos quase 6 mil anos aos judeus por todos os quatro cantos da Terra. 

Estrela de Davi amarela

Somos – e falo na primeira pessoa do plural por ser judeu – um povo rejeitado, mal tratado, perseguido e odiado por muita gente em muitas nações. E os pouco mais de 13 milhões de judeus vivos só não foram ainda extintos da face da Terra, porque desenvolveram uma incrível capacidade adaptativa, habilidades comerciais e científicas fundamentais, um inigualável senso de sobrevivência e, o mais importante, criaram a própria nação

Sem Israel, muito provavelmente, leitor amigo, leitora amiga, vocês não estariam, aqui, me lendo. Eu, como meus pais e avós, teria sido exterminado, como meus bisavós. E como foram, antes deles, os bisavós de seus bisavós. E como foi boa parte de todas as gerações passadas de judeus desde, repito, Abraão. 

Eu sou comentarista de uma rádio em Belo Horizonte. No programa de ontem, ainda sem saber da fala de Múcio, comentando sobre o aniversário de um ano dos atos bárbaros do Hamas, em 7 de outubro de 2023, em Israel, Luiz Fernando Rocha, o âncora, me perguntou : “Por que o mundo dá tanta importância para a guerra em Israel e menos, para a guerra na Rússia?“. “Simples”, eu respondi. “Porque são judeus”.

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Ricardo Kertzman

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Comentários (8)

EUD

09.10.2024 10:42

O Governo lula, por Ser Imbecil Por Excelência, Só Pratica IMBECILIDADES. TODO O GOVERNO !!!!!!!!!


Clayton De Souza pontes

09.10.2024 10:40

O Lula pratica vigorosamente sua politica externa imprestavel , sempre adulando ditadores e demonisando ou atacando democracias


Edmar Moreira

09.10.2024 10:19

Tenho vergonha do governo brasileiro fazendo essas presepadas mundo afora, defendendo o terror e ditaduras. Deus abençoe Israel para que continue vencendo o terror.


Um_velho_na_janela

09.10.2024 10:14

Governo que não tem competência gerencial nem prestígio geopolítico, a não ser o proveniente dos recursos naturais do país, nunca terá independência nem qualidade diplomática.


Luis Eduardo Rezende Caracik

09.10.2024 09:35

Ministro, tenha hombridade e peça demissão imediatamente. Como fez Rubens Ricúpero ao reconhecer a impropriedade de um comentário, aliás muito menos consequente que o seu.


Mª Marcia Abreu Souza

09.10.2024 09:29

Lamento imensamente essa perseguição que vocês sofrem - como qualquer perseguição e preconceito, aliás - e me solidarizo com o povo judeu. Mas é um absurdo e uma ofensa à nação brasileira que isso esteja acontecendo no nosso governo! Sempre fomos um povo pacífico e solidário. Esse governo não nos representa e acho que o Congresso precisa fazer alguma coisa a respeito. Ainda que Lula e o PT tenham sido eleitos, sua política externa desastrosa não se coaduna com o espírito e a vontade do povo brasileiro!


Jose Diogo de Almeida

09.10.2024 09:21

Poís é ... quem são ateus como a maioria dos socialistas, não gostam e/ou tem ojeriza por quem tem religião e acredita em Deus.


Luis Eduardo Rezende Caracik

09.10.2024 09:09

Texto, raciocínio e contexto perfeitos, Kertzman. Além das besteiras proferidas pelo ministro, que até parecia ser uma pessoa ponderada e de bom senso, mostra uma extrema imprudência, e ignorância, ao mostrar que o Brasil está de fato aplicando uma sanção a Israel (ou como prefere o ministro, aos judeus) esquecendo completamente os interesses comerciais e estratégicos entre os dois países (ou entre o Brasil e os Judeus, reforçando a preferência do ministro). Uma lástima, sob todos os aspectos.


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