Pesquisas voltam a sugerir cenários distintos para desfecho da corrida presencial Pesquisas voltam a sugerir cenários distintos para desfecho da corrida presencial
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Pesquisas voltam a sugerir cenários distintos para desfecho da corrida presencial

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7 minutos de leitura 29.10.2022 16:15 comentários
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Pesquisas voltam a sugerir cenários distintos para desfecho da corrida presencial

Em artigo exclusivo para O Antagonista, o cientista político Leonardo Barreto mostra que há dois cenários distintos para este segundo turno, a depender do instituto que fez a pesquisa. Ele também explica por que optou por acompanhar o cenário eleitoral via pesquisas estaduais. "Esperamos esclarecer com isso eventuais dúvidas metodológicas e políticas desse período tumultuado para as empresas", diz...

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Pesquisas voltam a sugerir cenários distintos para desfecho da corrida presencial
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Em artigo exclusivo para O Antagonista, o cientista político Leonardo Barreto mostra que há dois cenários distintos para este segundo turno, a depender do instituto que fez a pesquisa. Ele também explica por que optou por acompanhar o cenário eleitoral via pesquisas estaduais. “Esperamos esclarecer com isso eventuais dúvidas metodológicas e políticas desse período tumultuado para as empresas”, diz.

Leia a íntegra:

No primeiro turno, a diferença entre as diversas pesquisas nacionais levou os clientes da Vector Research a nos provocar sobre qual era, afinal, o estudo mais confiável. O desconforto, no entanto, não estava apenas entre os consumidores dos estudos, mas também entre as empresas.

No início do período eleitoral, uma iniciativa do UOL de tentar classificar as empresas segundo sua confiabilidade causou uma imensa gritaria e foi entendida como uma tentativa de controlar a informação. O episódio foi amplamente lembrado pelo presidente da AtlasIntel que, após o primeiro turno, fez questão de ratificar pelo Twitter que os institutos melhor ranqueados foram os que mais erraram.

Em meio à campanha, a manutenção da disparidade voltou a incomodar e houve um momento raro de discussão metodológica entre Datafolha, IPEC, Quaest e Ipespe sobre adotar ou não estratificação de renda para ponderar os resultados e, depois, qual deveria ser o critério a ser utilizado já que os dados estatísticos brasileiros estão  desatualizados em razão da não realização do Censo em 2020.

As dificuldades particulares para realizar pesquisas neste ano são conhecidas dos institutos, embora não sejam reconhecidas por razões de mercado (quem admitir que há maior margem de erro, encontrará clientes?). As mudanças de cultura dos brasileiros (muitos não atendem mais telefone e outros estão em home office, não podendo mais serem abordados por pesquisas presenciais realizadas em pontos de fluxo) se somaram às dificuldades estatísticas provocadas pela falta do Censo. Esta carência, dentre outras limitações, impede a estratificação da amostra por religião, considerada cada vez mais uma das principais variáveis explicativas de voto. Hoje, ninguém sabe a proporção de evangélicos no Brasil e a subestimação dessa população na amostra pode enviesar o estudo.

Diante desse quadro, a Vector Research decidiu fazer um estudo experimental. Usando metodologia empregada nos Estados Unidos (onde não há uma eleição nacional, mas 51 eleições estaduais), buscamos identificar estudos locais com a pergunta para presidente da República. Os dados entravam em um agregador que considerava o peso relativo do estado no resultado nacional e, assim, conseguimos um resultado nacional derivado da observação das partes.

Agregador de pesquisas estaduais – Vector Research

O experimento foi compartilhado com os clientes da Vector Research acompanhado da descrição de todos os limites metodológicos. O principal deles era o critério de escolha dos estudos que entravam no agregador. Como Ipec e Datafolha, naquele momento, ofereciam os dados mais discrepantes, decidimos, arbitrariamente, não computar seus relatórios no nosso agregador. Note-se que, desde o início, o objetivo do agregador não era concorrer com nenhuma empresa e nem fornecer prognósticos, mas ter uma ferramenta de acompanhamento e criar parâmetros para analisar os resultados das pesquisas.

Aliás, antecipando eventuais críticas, sabemos que o exercício não tem validade estatística nem probabilística. Assim como também não possuem os agregadores nacionais que usam a média de pesquisas como se houvesse alguma verdade subjacente nesse artifício. A melhor forma de classificar o que fizemos é chamá-lo de um exercício de Big Data.

Mas o fato é que, na véspera do primeiro turno, quando travamos nosso modelo, a diferença entre Lula e Jair Bolsonaro ficou em 4 pontos percentuais. O resultado da eleição, quando abertas as urnas, ficou em 5,2 pontos, fazendo com que o nosso estudo tivesse sido o que mais se aproximou.

Não temos nenhuma pretensão de dizer que inventamos a roda ou que revolucionamos a maneira de acompanhar pesquisas no Brasil. Muito longe disso. Temos dito para as pessoas que nos acompanham que é possível que nós tenhamos tido sorte e que muitos testes metodológicos precisam ser feitos para que nosso experimento possa ser validado.

De todo modo, acreditamos que podemos contribuir para o debate sobre pesquisas eleitorais nacionais. Vou listar apenas duas provocações: (1) amostras únicas nacionais dão conta de captar a discrepância estatística de variáveis socioeconômicas do país ou é preciso reconhecer que, para ter acuracidade, é preciso fazer amostras no mínimo regionais? E (2) é possível medir o viés de institutos nacionais (como IPEC e Datafolha) a partir da comparação com resultados de uma cesta composta por empresas locais?

Segundo turno

O fato que todos devemos reconhecer é que não houve tempo para as empresas de pesquisa revisarem seus modelos do primeiro para o segundo turno. Por isso, a desconfiança de antes permanece em relação à reta final, apesar de se reconhecer que é mais fácil pesquisar agora com apenas dois candidatos.

Diferença entre Lula e Bolsonaro e erros dos institutos em relação ao 1º Turno

O método de agregação estadual adotado pela Vector Research, dessa vez, sofre uma forte limitação. Estados sem segundo turno para governador, com poucas exceções, não possuem pesquisas disponíveis. Dessa maneira, nosso relatório tem 15 estados mapeados. Nas outras 12 UFs restantes, em metade Lula venceu e na outra deu Bolsonaro.

A seguir estão os dados da diferença entre as intenções de voto de cada candidato nas últimas pesquisas disponíveis e a sua votação do primeiro turno. Há duas tabelas. A primeira reúne as pesquisas estaduais mais recentes de Ipec e Datafolha. Na segunda, as da cesta de pesquisa de outros institutos.

Evolução dos candidatos em relação aos votos do primeiro turno (Só Datafolha e Ipec – 14 estados)

 

Evolução dos candidatos em relação aos votos do primeiro turno (Cesta de institutos – 15 estados)

 

Cenário (Ipec/Datafolha)

Em um cenário com apenas Datafolha e Ipec e que contém apenas 14 estados, Lula e Bolsonaro tiveram praticamente o mesmo crescimento na média ponderada (que considera o peso proporcional de cada estado no total de votos do Brasil). Quando colocado no agregador de votos (nos estados sem pesquisa publicada, repetimos o valor do primeiro turno e é importante considerar essa limitação), o resultado geral é 51,8% x 46,1% em favor de Lula.

Cenário II (cesta de pesquisas)

No segundo cenário, com todas as empresas menos IPEC e Datafolha, Bolsonaro teve um crescimento maior nos estados (13 do anterior, sem RO, mais GO e PI) na média ponderada (4,11 x 1,15 em favor do atual presidente) e o cenário do agregador se torna um empate técnico 49,8 x 48,5 para Lula.

Final acirrada

A final acirrada acende um alerta sobre como qualquer das partes irá receber o resultado. Nesse sentido, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, quer os presidentes do Legislativo, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, ao seu lado no domingo. A ideia subjacente é legitimar politicamente o resultado rapidamente para prevenir turbulências. É claro que o movimento está endereçado a Bolsonaro.

Trata-se, portanto, do maior teste de stress da nossa democracia. Diante de um quadro que divide até as empresas de pesquisa entre dois líderes populares, conseguir virar a página com todo o conflito resolvido institucionalmente já terá sido um grande feito.

Mas ficarão assuntos mal resolvidos, como o uso da máquina pública, parcialidade ou não dos atores relevantes e a manutenção do discurso “nós contra eles” ou a construção de uma descompressão dos espíritos. As eleições para as presidências da Câmara e do Senado também vão refletir o resultado de domingo, assim como a agenda legislativa. Acreditamos que o melhor é que o próximo governo se assuma de transição, preparando a passagem para uma nova onda de líderes formados já em tempos de democracia. Mas isso é assunto para a segunda.

Boa eleição a todos.

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