Mais deputados em Brasília? Prepare o bolso, a festa está só começando
O que falta ao Congresso não é quantidade, é decência. A representatividade, nesse sistema, serve só para ratear o orçamento público

A sequência de fatos negativos vinda de Brasília é estonteante e quase impossível de acompanhar, mesmo com todas as tecnologias disponíveis atualmente. Os caras produzem “M” com tal frequência e velocidade, que um fato relevante é quase imediatamente pulverizado por outro. É o caso abaixo, que já perdeu espaço para a suspensão do processo do deputado bolsonarista, Alexandre Ramagem.
Em um país afogado em déficits fiscais recorrentes, onde os serviços públicos implodiram e a confiança nas instituições está no chão, a Câmara dos Deputados decidiu na quarta-feira, 7, que o que o Brasil precisa são mais deputados. Isso mesmo. De 513, passaremos para 531 parlamentares federais a partir de 2027, se o Senado não tiver o mínimo de decência e barrar essa pouca vergonha — o que, sejamos honestos, é bastante improvável.
A proposta oportunista, embalada como uma correção “técnica” com base no censo de 2022, é da deputada Dani Cunha — filha de ninguém menos que Eduardo Cunha. O que se vende como “justiça representativa” é, na verdade, expansão da máquina para abrigar mais aliados, mais apaniguados, mais fisiologismo. E, claro, tentar garantir a própria eleição, já que, no caso da moça, o Rio de Janeiro, seu estado, perderia quatro assentos em Brasília.
Vai parar nisso?
Cada novo deputado federal irá custar, por baixo, R$ 3,5 milhões por ano. Com 18 novas cadeiras, o gasto anual subirá para R$ 64,6 milhões. Fora os efeitos colaterais e sem falar, também, no trem da alegria que virá na sequência: mais cargos, mais salários, mais benefícios, mais emendas parlamentares. Pior: o rombo não irá parar em Brasília. As Assembleias Legislativas estaduais vão inchar juntas e junto.
Pela regra atual, cada estado elege entre três a cinco deputados estaduais por cada deputado federal. Ou seja, haverá um acréscimo imediato de 34 parlamentares estaduais em nove estados se essa lei for de fato aprovada: Amazonas (6), Ceará (1), Goiás (1), Minas (1), Mato Grosso (6), Pará (4), Paraná (1), Rio Grande do Norte (6) e Santa Catarina (4). Quem irá pagar? Qual o impacto total? Bem, ao menos 270 deputados federais parecem não estar muito preocupados.
O argumento populacional é um engodo. Nenhum brasileiro acordou clamando por mais deputados. A “sub-representação” é um fetiche tecnocrático usado para justificar a multiplicação de inúteis. O que falta ao Congresso não é quantidade, é decência. A representatividade, nesse sistema, serve só para ratear o orçamento público entre castas políticas. Se aprovado no Senado, o projeto valerá já nas eleições de 2026.
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Comentários (2)
Roberto Jose Veras De Sousa
09.05.2025 12:45Comentário perfeito : O que falta é decência !
Carlos Renato Cardoso Da Costa
08.05.2025 13:17Eu me sinto sub-representado não pela falta de deputados, mas pela falta de palavra daqueles que levam meu voto.