Bolsonaro paga o preço eleitoral da sua falta de empatia Bolsonaro paga o preço eleitoral da sua falta de empatia
O Antagonista

Bolsonaro paga o preço eleitoral da sua falta de empatia

avatar
Mario Sabino
4 minutos de leitura 02.09.2022 13:31 comentários
Opinião

Bolsonaro paga o preço eleitoral da sua falta de empatia

Ao que indicam as pesquisas divulgadas até o momento, Jair Bolsonaro (foto) está pagando um preço eleitoral também pela sua falta de empatia pessoal com o sofrimento alheio, em especial dos brasileiros mais pobres. O aumento do Auxílio Brasil para 600 reais não se traduziu na conquista de mais eleitores entre os que recebem o benefício. De acordo com o Datafolha, Lula permanece o preferido nesse recorte, com 56% das intenções de voto, enquanto Jair Bolsonaro tem 28% das intenções de voto. Outras pesquisas mostram a mesma tendência e integrantes da própria campanha estão frustrados com o retorno nulo...

avatar
Mario Sabino
4 minutos de leitura 02.09.2022 13:31 comentários 0
Bolsonaro paga o preço eleitoral da sua falta de empatia
Foto: Adriano Machado/Crusoé

Ao que indicam as pesquisas divulgadas até o momento, Jair Bolsonaro (foto) está pagando um preço eleitoral também pela sua falta de empatia pessoal com o sofrimento alheio, em especial dos brasileiros mais pobres. O aumento do Auxílio Brasil para 600 reais não se traduziu na conquista de mais eleitores entre os que recebem o benefício. De acordo com o Datafolha, Lula permanece o preferido nesse recorte, com 56% das intenções de voto, enquanto Jair Bolsonaro tem 28% das intenções de voto. Outras pesquisas mostram a mesma tendência e integrantes da própria campanha estão frustrados com o retorno nulo. Como informa a Crusoé, o presidente da República agora “pretende usar o 7 de setembro para mostrar força nas ruas e encobrir a derrota da estratégia de mudar o voto dos pobres com o Auxílio Brasil de 600 reais e outros benefícios instituídos pela PEC kamikazes”. É duvidoso que surta efeito para além de pirotécnico.

Em outro fronte, sempre de acordo com a Crusoé, Paulo Guedes acha que “o melhor discurso eleitoral para Bolsonaro é focar nos números da economia, especialmente as quedas da inflação e do desemprego”. De fato, é a coisa mais racional a ser feita, embora o tempo pareça curto demais para que miseráveis e pobres sintam na cozinha o efeito da melhora econômica. Para não perder o ímpeto, o núcleo da campanha bolsonarista acredita na possibilidade de que o número de votos no candidato à reeleição esteja subestimado. Fora das hostes do presidente da República, há quem admita essa hipótese. Um deles é o cientista social Antonio Lavareda. Em entrevista à CNN, ele afirmou que “Bolsonaro tem crescido regularmente nas últimas pesquisas, chamando atenção para a hipótese de subnotificação do voto em alguns segmentos, especialmente naqueles de menor renda e escolaridade. Quando algumas pessoas têm uma opinião que discrepa da opinião majoritária do seu grupo, elas escondem e ocultam essa preferência, para não entrar em conflito“.

Mesmo que esse raciocínio esteja correto, ele não apaga o fato de que o voto envergonhado, invisível ao radar das pesquisas, é resultado de um defeito do candidato — e no caso de Jair Bolsonaro, repetindo, esse defeito é principalmente a sua falta de empatia pessoal com o sofrimento alheio. A falha pesa ainda mais quando o oponente é um político que fez carreira interpretando o papel de pai dos pobres, como é caso de Lula. Durante a pandemia, a falta de compaixão do presidente da República ficou ainda mais evidente. Ele não se compadeceu das perdas humanas, não visitou hospitais, não encorajou médicos e enfermeiros, e suas falas demonstraram indiferença com os doentes e os mortos pela Covid.

Em relação à pobreza, o seu discurso soa insensível e até perverso. Há uma semana, numa entrevista à Jovem Pan, ao ser questionado sobre os números da fome no Brasil, Jair Bolsonaro afirmou: “Gente passa mal? Sim, passa mal no Brasil. Alguém já viu alguém pedindo um pão na porta, ali no caixa da padaria? Você não vê, pô! Até no interior, tem gente que passa mal? Tem gente que passa mal, sim. Mas quem, porventura, está na linha da pobreza aí, passando fome, que pode ser… sim, deve ter gente que passe fome, é só…”.

Jair Bolsonaro pode até achar que os números da fome estejam superestimados. Mas ele não poderia demonstrar insensibilidade em assunto tão doloroso. O que ele teria de dizer é que é inadmissível que um único brasileiro possa viver de estômago vazio e, a partir daí, afirmar que está atuando para evitar essa vergonha. Jair Bolsonaro ainda não entendeu, e talvez nunca venha a entender, que, numa situação como a que o país vive, não basta distribuir recursos e esperar que os seus efeitos se manifestem. A fome também é de piedade, de comiseração.

Do ponto de político-eleitoral, a falta de empatia verdadeira deveria ser compensada com aquela homenagem que o vício presta à virtude. Não, não é bonito de dizer, mas é a realidade fria da análise que se distancia das paixões. Estamos diante, contudo, de uma personalidade muito peculiar, para dizer o mínimo.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
2

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
3

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
4

Putin comenta lançamento de míssil e ameaça o Ocidente

Visualizar notícia
5

O papel dos indiciados em suposta tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
6

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
7

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
8

Crusoé: Thomas Sowell está vivo, Elon

Visualizar notícia
9

Crusoé: Pablo Marçal governador de São Paulo?

Visualizar notícia
10

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Mandado contra Netanyahu não tem base, diz André Lajst

Visualizar notícia
2

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
3

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
4

PGR vai denunciar Jair Bolsonaro?

Visualizar notícia
5

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
6

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
7

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
8

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
9

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
10

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Auxilio Brasil Datafolha eleições 2022 falta de empatia fome Jair Bolsonaro Lula Pandemia
< Notícia Anterior

Embaixada brasileira cancela comemoração dos 200 anos da Independência em Buenos Aires

02.09.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Após ameaças, Rodrigo Garcia passa a usar colete à prova de balas

02.09.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

Suas redes

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Relação do Brasil com a China de Xi Jinping alcança um novo patamar

Relação do Brasil com a China de Xi Jinping alcança um novo patamar

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Janja se junta a Felipe Neto para xingar Elon Musk: passou dos limites?

Janja se junta a Felipe Neto para xingar Elon Musk: passou dos limites?

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Janjapalooza: um escárnio que revela a desconexão da esquerda com as mulheres

Janjapalooza: um escárnio que revela a desconexão da esquerda com as mulheres

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.