Rodolfo Borges na Crusoé: Humilhados e ofendidos pela CBF
O futebol brasileiro passa por um dos momentos mais desmoralizantes de sua história, que nunca foi lá muito elogiável fora de campo

a Rússia de Dostoiévski, a base da humilhação era o dinheiro. Num cenário em que quase todas as personagens eram epiléticas e extremamente sensíveis, a menor insinuação sobre usura ou cobiça era capaz de desencadear convulsões.
No Brasil da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), há muito menos delicadeza.
Em meio a um início de Campeonato Brasileiro cheio de erros de arbitragem ultrajantes, uma reportagem demolidora da revista piauí escancarou uma situação ainda pior, ao indicar que o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, prefere gastar dinheiro com assuntos particulares em vez de investir no aprimoramento dos árbitros.
A segunda rodada do Brasileirão teve erros crassos e determinantes para os resultados em três dos 10 jogos.
Um pênalti inexistente no fim do jogo deu a vitória ao Palmeiras contra o Sport na Ilha do Retiro.
Uma expulsão injusta no início do jogo impediu o Cruzeiro de resistir ao Internacional no Beira Rio.
E a falta da expulsão do zagueiro Lyanco ao fim do primeiro tempo facilitou a vida do Atlético-MG contra o São Paulo.
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Prioridades
A reportagem da piauí revelou que Ednaldo suspendeu um programa orçado em cerca de 60 milhões de reais para melhorar a qualidade dos árbitros brasileiros.
Hoje, os juízes e bandeirinhas são instruídos por videoconferência.
Apesar da péssima situação da arbitragem, que nem a tecnologia do VAR consegue melhorar — pelo contrário, o árbitro de vídeo parece ter apenas ampliado as situações de erro —, Ednaldo foi reeleito com 100% dos votos um dia antes de o Brasil sofrer a goleada histórica de 4 a 1 para a Argentina nas Eliminatórias para a Copa do Mundo.
A seleção brasileira está sem treinador no momento.
Após a saída de Tite, em 2022, passaram pelo posto os interinos Ramon Menezes e Fernando Diniz, enquanto Ednaldo esperava por Carlo Ancelotti, que não veio.
Dorival Júnior surgiu como alternativa, mas acabou demitido, e especula-se o português Jorge Jesus como seu substituto.
Pisando na bola
Em meio a tudo isso, a CBF divulgou uma instrução sobre punição para os jogadores que subirem em cima da bola.
A atitude de Memphis Depay na final do Campeonato Paulista foi de fato covarde e condenável, assim como a de Soteldo em 2023, mas o ofício da CBF sobre o assunto pareceu dar mais relevância a uma questão banal diante de urgências.
A entidade divulgou, então, uma nota para dizer que “publicou o Ofício 964/2025 na sexta-feira (4) seguindo recomendação da Conmebol, orientando os árbitros a punir com cartão amarelo os jogadores que subirem na bola nas partidas organizadas pela entidade continental”.
Mas a paciência com a CBF acabou.
Dois dos ex-presidentes da entidade foram banidos do futebol por acusações de corrupção, e um terceiro foi preso.
Ednaldo chegou ao cargo porque seu antecessor caiu em meio a denúncias de assédio sexual.
E a reportagem da piauí indica que as alternativas ao atual presidente da entidade responsável por organizar o futebol do país não são exatamente santos.
Como se não fosse ruim o bastante, seis jornalistas foram afastados da ESPN depois de comentar a reportagem da piauí.
Cusparada e bofetada
“Aqui, neste maço, estão dez mil rublos”, diz o dissimulado príncipe Piotr Alexandrovitch Valkovski à heroína Natasha em Humilhados e Ofendidos, de Dostoiévski.
O príncipe acaba recebendo uma cusparada…
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Comentários (1)
Mariade
12.04.2025 13:50Até o bom jornalismo se cala. Gente, que país está se tornando o Brasil? O que vai sobrar, afinal? Quem vai fiscalizar quem?