CBF vai apitar errado fora de campo também?
Afastamento de jornalistas da ESPN após críticas à CBF joga ainda mais luz sobre reportagem da revista 'piauí' acerca da forma como o futebol brasileiro é conduzido

O Campeonato Brasileiro de 2025 começou com erros de arbitragem grotescos, inclusive dos árbitros responsáveis pelo VAR, uma ferramenta que deveria diminuir o número de equívocos.
Para piorar a situação do ponto de vista futebolístico, uma longa reportagem da revista piauí mostrou que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues (foto), recém-reeleito com 100% dos votos, interrompeu um plano de cerca de 60 milhões de reais para capacitar os árbitros brasileiros, alegando questões orçamentárias — que não parecem problema para a CBF em outras áreas.
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“Quando assumiu a comissão de arbitragem da CBF, em abril de 2022, Wilson Luiz Seneme apresentou o projeto de um centro de treinamento exclusivo para árbitros, nos moldes do que havia na sede da Conmebol, em Assunção, com refeitório, alojamento e campos de futebol, cercados por câmeras de vídeo para a simulação de lances. Seneme também sugeriu a criação de uma escola de arbitragem, para uniformizar a formação técnica dos juízes, cujo aprendizado se dá em cada federação, muitas vezes com metodologias distintas”, diz o texto assinado por Allan de Abreu.
Depois que o plano foi abortado, em agosto do ano passado, os árbitros da Série A do Brasileirão, que participavam de treinamentos quinzenais em um clube no Rio de Janeiro, passaram a ser instruídos por vídeoconferência. “É como se um clube contratasse um técnico europeu que ficasse treinando os jogadores lá da Europa. Não tem cabimento”, comparou um árbitro à revista, sem se identificar.
É bem pior
A reportagem da piauí vai muita além, contudo, e expõe uma instituição caótica, com muito dinheiro, mas administrada de forma personalista por Ednaldo, que estaria esbanjando em gastos com questões que não dizem respeito exatamente ao futebol nacional.
A leitura ajuda a entender, por exemplo, como o presidente da CBF conseguiu se reeleger com os votos de todos os 27 presidentes de federação e dos 40 times das séries A e B do Brasileirão, e como nem Ronaldo Fenômeno, um dos maiores nomes do futebol brasileiro, conseguiu sequer conversar com a cartolagem para apresentar uma candidatura alternativa:
“Até 2021, cada presidente de federação ganhava 50 mil reais por mês. Quando assumiu a CBF, Rodrigues deu belos reajustes nos contra-cheques da cartolagem, tanto que, hoje, um presidente de federação ganha 215 mil reais, com direito a décimo sexto salário.”
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Gilmar Mendes
E por falar em Ronaldo, a reportagem da piauí conta que o ex-jogador chegou a jantar com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, na casa do próprio ministro, em Brasília, em busca de apoio em sua empreitada na CBF.
“Ele é ponta firme”, teria dito Gilmar sobre Ednaldo a Ronaldo. A reportagem da piauí também conta, em detalhes, toda a história de como o ministro do STF devolveu Ednaldo à presidência da CBF por meio de uma decisão liminar, sob o argumento de evitar insegurança jurídica nas eliminatórias para as Olimpíadas de Paris, em janeiro de 2024.
Meses antes, em agosto de 2023, Ednaldo tinha assinado um contrato de parceria entre a CBF e o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), cujo diretor-geral é Francisco Schertel Mendes… filho de Gilmar.
É pênalti?
Todas essas histórias têm alimentado debates em mesas redondas pelo país. Na segunda-feira, 7, o Linha de Passe, principal programa de debates da ESPN, tocou no assunto. No dia seguinte, como informou o portal Uol, os seis componentes da mesa redonda, Dimas Coppede, Gian Oddi, Paulo Calçade, Pedro Ivo Almeida, Victor Birner e William Tavares, foram afastados e substituídos por cinco colegas.
Após a publicação da informação sobre o afastamento, a assessoria da CBF enviou nota para o Uol para dizer que “respeita a liberdade de imprensa com responsabilidade e não pede interferências de nenhum tipo na linha editorial de veículos de comunicação”, acrescentando que “qualquer narrativa diferente desta é mentirosa e leviana”.
E o pior é que, no Brasil, não dá para confiar nem no árbitro de vídeo.
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Comentários (2)
Andre Luis Dos Santos
10.04.2025 01:20R$ 215 mil por mês, com direito a decimo sexto salário? Esses caras tão de brincadeira. E GM dizendo que esse Ednaldo é "ponta firme"? Ah meu, va pra PQP 🤬 o futebol brasileiro!! O publico deveria deixar de assistir futebol e ir a estadios. O Brasil MERECE levar um NABO gigantesco na próxima copa do mundo!
Gilberto Aparecido Americo
09.04.2025 17:00Tá tudo dominad