Bolsonaro confirma a Moraes que se reuniu com hacker levado por Zambelli
Ex-presidente disse ao ministro que não sentiu "confiança" em Delgatti Neto, mas o encaminhou para a Comissão de Transparência Eleitoral

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou, nesta terça-feira, 10, durante seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), a reunião com o hacker Walter Delgatti Neto em 2022 para discutir a possibilidade de as urnas eletrônicas serem fraudadas nas eleições daquele ano.
“O senhor se reuniu com o hacker Delgatti e com a deputada Carla Zambelli, que teria levado esse hacker sugerindo que ele poderia invadir o Tribunal Superior Eleitoral e o senhor teria encaminhado a uma reunião no Ministério da Defesa para ser recebido pelo general Paulo Sérgio?”, perguntou o ministro Alexandre de Moraes a Bolsonaro.
“A Carla Zambelli levou o hacker. Eu recebi. Não entendo nada de informática. Não senti confiança nele. Como de praxe, de acordo com o ministério, encaminhei o hacker a ir para a Comissão de Transparência Eleitoral e nunca mais tive contato com ele”, respondeu o político do PL.
Moraes ainda perguntou se o ex-presidente teve algum retorno do general Paulo Sérgio Nogueira, que era ministro da Defesa na época, sobre uma eventual reunião com o hacker. “Não. Nem sei se foi recebido na Defesa ou não”, respondeu.
O ministro, então, perguntou se Bolsonaro teve algum retorno de Zambelli, mas ele também disse que não.
Hacker no Ministério da Defesa
Em seu depoimento ao STF nesta terça, Paulo Sérgio Nogueira, por sua vez, confirmou que Bolsonaro encaminhou o hacker ao Ministério da Defesa em 2022 após o encontro no Palácio da Alvorada.
Segundo o ex-ministro, estava embarcando para Belém, numa viagem de inspeção de uma operação, quando o então presidente da República ligou para ele para dizer que estava enviando o então assessor da Presidência Marcelo Câmara com um técnico ao ministério para que o Paulo Sérgio conversasse com esse técnico. Bolsonaro não teria informado que se tratava de um hacker.
Ainda de acordo com o ex-ministro, após a ligação de Bolsonaro, ligou para um integrante do ministério, que não lembra quem era, e falou para receber os dois na pasta. Este assessor, então, teria perguntando a Câmara quem era o técnico e, ao ser informado que se tratava do hacker Walter Delgatti Neto, teria dito que ninguém poderia recebê-lo no ministério. Dessa forma, o hacker não teria saído da sala de visita do local.
“Esse cidadão [Walter Delgatti] teve o descaramento de dizer na CPMI [do 8 de Janeiro] que participou de quatro a cinco reuniões no Ministério da Defesa, uma delas comigo, e ainda que o relatório das Forças Armadas era praticamente baseado em ideias dele, que ele tinha nas suas anotações, nos seus planejamentos. Então, é um criminoso, tanto que está aí onde está. Então essa é a história do hacker Delgatti”, declarou o ex-ministro a Moraes.
O magistrado perguntou, na sequência, se, portanto, o hacker esteve apenas uma vez no ministério. “Única vez que ele esteve lá e não passou 15 minutos dentro da pasta”, respondeu Paulo Sérgio Nogueira.
Moraes questionou ainda se ele chegou a dar algum retorno a Bolsonaro. “Não dei, achando… mas dei ao Coronel Câmara. Ali eu fui mais forte. ‘Não faça mais isso, não, camarada, porque compromete o trabalho e não é por aí”, respondeu o réu.
Zambelli e hacker foram condenados
No mês passado, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal condenou Carla Zambelli a 10 anos de prisão, perda do mandato e ao pagamento de multa, por invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserção de documentos falsos. A decisão foi unânime.
Os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux acompanharam o voto do relator, Alexandre de Moraes.
Zambelli e o hacker Walter Delgatti Neto viraram réus no caso em maio do ano passado. O julgamento da ação penal na Primeira Turma do STF foi realizado no plenário virtual. Em relação ao hacker, com todos os ministros acompanhando o relator, Delgatti Neto foi condenado a 8 anos e 3 meses de prisão e ao pagamento de multa.
Pela decisão da Primeira Turma, Zambelli e ele cumprirão a pena de reclusão inicialmente em regime fechado. Os dois são condenados também ao pagamento do valor mínimo indenizatório a título de danos materiais e morais coletivos de 2 milhões de reais.
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