Quem tem pena de Fernando Haddad?
Ministro da Fazenda deu outra entrevista para dizer que a política econômica do governo Lula é julgada de forma injusta. É exatamente o que faria um ministro da Fazenda fraco

Fernando Haddad (foto) se sente injustiçado. Incompreendido. O ministro da Fazenda concedeu mais uma entrevista para reclamar das críticas à política econômica do governo Lula. Como se isso fosse o bastante para convencer alguém de que a economia brasileira está indo no caminho certo.
“Você nunca vai me ouvir dizer que está tudo resolvido no Brasil, mas nós estamos buscando. Ao contrário de governos recentes, e eu sempre falo, faz dez anos que nós temos uma tarefa para cumprir. Se você pegar o déficit, por exemplo, dos três anos do governo Temer, ele foi muito superior ao atual. E ninguém estava falando em dominância fiscal. Se você pegar o déficit do governo seguinte, com Guedes e Bolsonaro, ele foi muito superior ao que está se verificando agora, mas muito superior. Aí eu vejo aqui e ali um editorial e outro falando em gastança”, reclamou, desta vez em entrevista à GloboNews reproduzida por O Globo.
Haddad, que já tinha reclamado dos “economistas de jornal” e do “chamado mercado” em entrevista à Rede TV, há uma semana, seguiu com as lamúrias:
“O gasto público como proporção do PIB no ano passado, contando a tragédia do Rio Grande do Sul, foi da ordem de 18,5% do PIB. Ele rodou em 19,5% do PIB durante sete anos. E muitos economistas que vieram a público dizer que acabou o controle, acabou tudo, estavam nesses governos e responsáveis por algumas tragédias que aconteceram.”
E tem mais
“E eu não vejo essas pessoas… Porque é da vida, tem erros, as pessoas cometem erros, os governos cometem erros, mas eu não vejo essas pessoas com a honestidade necessária para dizer que realmente o governo atual está enfrentando problemas herdados dos governos anteriores. A questão tem gastos tributários que remontam ao governo da Dilma, e que nós só estamos resolvendo agora. E que ela própria, em entrevista, disse: aquilo ali eu não faria de novo. E nós estamos resolvendo dez, 12 anos depois.”
Um pouco mais:
“Então, o que eu quero dizer, sem ficar apontando o dedo para ninguém, porque eu não estou fazendo isso desde que eu assumi aqui, você não vai ver uma frase minha falando de antecessores meus”, seguiu o ministro, logo após apontar o dedo para os antecessores, continuando:
“Não é meu feitio fazer isso, não fiz na Educação, não fiz na prefeitura, não farei aqui. Mas quando os economistas desses governos vêm a público dizer uma coisa que não corresponde aos fatos, eu tenho que me indignar um pouco. Dizer, olha, espera aí, eu estou com um passivo herdado relativamente grande. Aí falaram, é dominância fiscal. Se fosse, seria um trabalho de muitos anos para a gente chegar na dominância fiscal. Mas nem isso eu acredito que esteja acontecendo. Eu acredito que a política monetária restritiva vai desaquecer, e eu espero que um pouco a economia, para que nós continuemos a crescer com equilíbrio fiscal e do ponto de vista de nível de preços, de inflação. Porque esse é o objetivo da política econômica, crescer de maneira sustentável. E a minha defesa, desde quando eu te dei a primeira entrevista, é a crença de que o Brasil pode crescer de maneira sustentável.”
Esmorecimento
Questionado sobre o fato de a última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ter apontado “esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal“, Haddad desconversou, falando da reforma tributária:
“Muitos economistas ortodoxos ou convencionais chegaram a comparar a Reforma Tributária no Brasil ao Plano Real do ponto de vista de efeitos de longo prazo. Não foi nem um, nem dois. Porque de fato foi um feito o que aconteceu.”
E o que Haddad diz sobre Lula ter afirmado que não há “outra medida fiscal” em vista?
“O presidente vai assimilando as necessidades de tomar as medidas”, garantiu o ministro, jogando a culpa sobre o Congresso Nacional:
“No ano passado, nós tomamos uma série de medidas, algumas das quais não foram aprovadas pelo Congresso Nacional. E eram muito justas, na minha opinião. Mas o Congresso entendeu que, politicamente, não tinha voto para aprovar. Há medidas que vão acabar sendo votadas, mais dia menos dia, em função da necessidade do país corrigir essas distorções. E cada vez que nós tentamos, nós não levamos 100% do que a gente pediu, raramente se leva. O ministro raramente leva 100%. Isso vale para o Executivo e vale para o Legislativo. Mas nós temos tido êxito na aprovação de medidas no Congresso Nacional, e é meu dever apontar o que não foi aprovado, mas eu nunca fui ingrato a ponto de negar que o Congresso fez a parte dele.”
Fraco?
Questionado sobre a análise de Gilberto Kassab, presidente do PSD e secretário de Governo e de Relações Institucionais de São Paulo, de que é um ministro da Fazenda fraco, Haddad disse o seguinte:
“Eu não sei o que se passou para ele dizer isso, eu não sei. O que importa é o seguinte, eu penso que a entrega que nós fizemos em dois anos, eu vejo poucos paralelos no Ministério da Fazenda. Tiveram ministros relevantes, Fernando Henrique foi um ministro relevante, conseguiu em pouco mais de um ano estabilizar a moeda. Mas assim, se eu for pegar o histórico, quem foi o ministro forte? Ele falou, o Meirelles foi forte, mas entregou um déficit muito superior ao atual. Qual o critério que ele está usando? Eu não quero ficar fazendo esse tipo de disputa porque eu acho de mau gosto, inclusive ficar comparando. Isso quem tem que fazer é a população. Isso quem tem que fazer é a História, muitas vezes, porque às vezes a pessoa toma medidas que não são compreendidas no momento e vão ser compreendidas tempos depois. Eu estou muito tranquilo em relação às medidas que eu estou tomando. Não me arrependo de nenhuma delas. Podia ter errado, não é pecado…”
Haddad não vai convencer os críticos se fazendo de vítima da situação. Apenas um ministro da Fazenda fraco tentaria fazer isso.
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