Lula deixa Galípolo sozinho na trincheira contra a inflação
Um dia após o Copom dizer em ata que "a desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto", presidente minimiza preocupação e fala em paliativos contra alta no preço dos alimentos
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central disse em ata publicada na terça-feira, 4, que “a desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”.
Lula, que indicou o atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo (foto), e outros seis dos nove diretores da instituição, minimizou nesta quarta-feira, 5, a preocupação do Copom, dizendo que a inflação está “razoavelmente controlada”.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já vinha fazendo o mesmo, ao se limitar a torcer contra a inflação, que ele acha que será controlada apenas pela redução na cotação do dólar — que tem ocorrido com mais intensidade após Trump iniciar sua guerra comercial —, e pela esperada boa safra brasileira.
Alimentos
Lula só demonstra preocupação em relação à alta no preços dos alimentos, e segue em busca de paliativos para combater aquilo que pode contribuir ainda mais para sua queda de popularidade.
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“A nossa preocupação é apenas evitar que os preços dos alimentos continuem prejudicando o povo brasileiro. É por isso que temos feito reuniões sistemáticas com os setores”, disse o petista em entrevista a rádios mineiras.
“Nós temos consciência [de] que nós vamos baixar a inflação, nós temos consciência que vamos baixar o custo de vida, e nós temos consciência que a cesta básica vai ficar mais acessível ao povo brasileiro”, seguiu Lula.
Esse é o mesmo presidente que negou, na semana passada, a intenção de tomar a única atitude que poderia de fato influir na inflação, ao refutar a ideia de “outra medida fiscal” para equilibrar as contas públicas.
“Esmorecimento no esforço de reformas estruturais”
A necessidade de “outra medida fiscal” foi reforçada pela ata do Copom divulgada na terça, que destacou que o “esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia”.
O discurso de Lula passa longe dessa realidade e apresenta alternativas que não têm a capacidade de conter a alta nos preços dos alimentos de forma sustentável ou responsável.
A conduta do presidente segue a mesma da época de Roberto Campos Neto, quando o BC ajudou a conter a inflação ao elevar a taxa básica de juros diante de protestos dos petistas — que ainda se prestavam a celebrar a inflação contida enquanto o governo gastava demais.
O que mudou é que Lula trata, agora, o presidente do BC como aliado. E, ao seguir a mesma conduta irresponsável, o abandona na trincheira contra a inflação.
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