Que o correto desabafo do governador de Utah ilumine o Brasil
Particularmente, antevejo dias ainda piores de violência política, seja nos EUA ou no Brasil
Quis o Pai Criador, que o país dos Pais Fundadores se tornasse, após quase dois séculos e meio de independência, a maior e mais bem-sucedida experiência democrática do planeta, assim como a mais rica e poderosa nação militar desse mundão de meu Deus.
Porém, quis igualmente o Divino, que dissensões e distensões de ordem interna se transformassem, ao longo dessa história, em guerras sangrentas e atentados — bem ou malsucedidos — políticos. O povo americano, por natureza ou cultura, é um povo bélico.
Não fossem o extremo rigor e a obediência às leis, os Estados Unidos da América seriam um dos países mais violentos do mundo. A idolatria por armas de fogo e o apego pela autodefesa” são determinantes para a violência (também) política.
Não é de hoje
Abraham Lincoln, o 16º presidente americano e um dos mais importantes homens da história mundial, foi assassinado em 1865 por causa de sua luta abolicionista, que levou os EUA a uma guerra civil, que deixou como saldo mais de 600 mil mortos.
Desde a proclamação da independência americana, em 4 de julho de 1776, quatro presidentes em exercício foram assassinados. Outros sete atentados ocorreram, mas os presidentes escaparam. E dois senadores não tiveram a mesma sorte.
Líderes negros como Malcolm X, Martin Luther King e dezenas de governadores, prefeitos, deputados e ativistas também foram mortos. Estima-se que mais de 300 assassinatos aconteceram na terra do Tio Sam por motivação política.
Dias de Trump
A última vítima dessa violência doméstica, que deveria ser inaceitável em uma sociedade civilizada, foi o jovem influencer de direita Charlie Kirk, em um evento público na Universidade Utah Valley, em Utah. O rapaz foi alvejado no pescoço e faleceu em seguida.
Imediatamente, explorações políticas indecorosas tiveram início, inclusive aqui, em mais um vídeo questionável do deputado federal Nikolas Ferreira, que não perde uma oportunidade para fomentar a rinha contra a esquerda e a consequente cisão social.
Comentários nas redes sociais, comemorando a morte do rapaz, ligando-o à política armamentista dos EUA, como se isso justificasse tamanha crueldade, são abundantes — e repugnantes! —, mas típicos de extremistas e fanáticos militantes de esquerda
Sopro de esperança
Em meio a tanta discórdia, ímpeto beligerante e exploração espúria da tragédia, uma voz lúcida, pacífica e de uma coerência estonteante ecoou através das palavras do governador do estado de Utah, Spencer Cox, durante entrevista coletiva na quinta-feira, 11.
Com olhos marejados, voz embargada e rosto abatido — sinais físicos sinceros de quem está sofrendo —, o republicano, de 51 anos, expôs as entranhas da histórica violência política americana e clamou por alguma forma de pacificação social.
“Precisamos desesperadamente de líderes em nosso país que pensem onde estamos e onde queremos chegar. Nada do que eu possa dizer agora será capaz de reparar o que aconteceu e reparar esse país”, afirmou, visivelmente engasgado, o governante.
Freud explica
“Se alguém que estiver me ouvindo está celebrando o que aconteceu, eu imploro: olhe-se no espelho e procure dentro de si alguém melhor. Nas redes sociais, com nossos amigos, nossas famílias, precisamos encontrar uma maneira de parar de odiar irmãos americanos.”
Infelizmente, não são apenas os Estados Unidos que enfrentam a cada vez maior e mais crescente onda de violência política — até porque, repito, por lá é comum. No Brasil e no mundo, o fenômeno se repete, impulsionado dramaticamente pelas redes sociais.
Segundo Freud, o homem é mau por natureza. Adultos frustrados, rancorosos e carentes de referências positivas, quando sem temor e encorajados por líderes políticos populistas, tornam-se armas de destruição em massa, aniquilando preceitos civilizatórios.
Vai piorar
A corrosão do tecido social dizima a possibilidade de uma coexistência pacífica entre pessoas diferentes. A política deveria ser o caminho para a convergência dos desiguais, mas, ao contrário, é a mola propulsora para assassinatos como o de Charlie Kirk.
Já não bastam leis rigorosas, segurança preventiva e punições exemplares — ainda que tudo isso seja fundamental. É necessária uma espécie de alfabetização civilizatória. Assim como se ensina a língua pátria na tenra infância, é preciso ensinar tolerância também.
Particularmente, antevejo dias ainda piores de violência política, seja nos EUA ou no Brasil. O binômio ódio + incentivo é literalmente matador. Tais sociedades — como outras pelo mundo — estão com os “cofres cheios”, ou melhor, o barril entupido de pólvora, pronto para explodir.
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Comentários (5)
MARCEL SILVIO HIRSCH
14.09.2025 11:43Ricardo, adoro teus comentários. Responde uma coisa: Nos EUA os barris estão cheios de pólvora. Mas o Brasil não tem dinheiro para pagar pela pólvora. E pelo andar da carruagem, os barris no Brasil ao meu ver estão cheios de excrementos.
LUIZ OSVALDO CARNIELO CALEJON
13.09.2025 14:37Acho que os três comentários acima mostram com clareza o quão longe nosso mundo está do ideal a que a mensagem do Kertzman se refere. Parece impossível diferentes orientações políticas conviverem num ambiente civilizado.
Fabio B
12.09.2025 10:51Discordo dessa "pacificação"... Parece a "pombinha da paz" pedindo fim da violência. O que precisa ser feito é o um combate absoluto à esquerda militante, que justifica e passa pano para violência cometida pelos "seus". Quero que toda essa turma seja bastante penalizada, incluindo a imprensa que ajuda. Mas principalmente esse pessoal da ameaça e violência política que não tem pudor algum em declarar que prefere mat4r do que argumentar precisa ser fortemente combatido, responsabilizado e punido na lei. Eles desumanizam seus opositores para justificar toda e qualquer violência por parte de seus "aloprados". Espero que esses recentes episódios abram discussão para até criminalizar a ideologia "comunista", tal qual o n4zismo, pois ambos não só pregam a violência a seus opositores, como de fato precisam dela para por em prática seus objetivos.
Rosa
12.09.2025 10:33A direita bolsonarista não é muito diferente....
GERALDO CARVALHO
12.09.2025 10:05Isso nunca terá solução , a esquerda se acha moralmente superior e não cede em suas obsessões, mesmo que tudo que eles defendam dê errado, eles dobram a aposta pois são arrogantes, alienados e a realidade não lhes importa.