O que seria um comunista do bem?
Em meio a um agitado noticiário de fim de ano, com Dias Toffoli abrindo a porteira no STF e deputados se estapeando em plenário durante a sessão de promulgação da reforma tributária, ia passando sem...
Em meio a um agitado noticiário de fim de ano, com Dias Toffoli abrindo a porteira no STF e deputados se estapeando em plenário durante a sessão de promulgação da reforma tributária, ia passando sem análise mais detalhada uma declaração de Lula sobre Flávio Dino (foto) na reunião ministerial de quarta-feira, 20.
Lula desejou que Dino “seja um comunista do bem” quando assumir a cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF) para a qual foi indicado pelo petista, e aproveitou para jogar para a “extrema-direita” a responsabilidade por chamar Dino de comunista.
O presidente desejou também que seu ministro da Justiça — até 8 de janeiro de 2024 — “tenha amor, carinho e, sobretudo, que seja justo”, mas não chegou a dizer exatamente o que seria um comunista do bem.
Sugeriu, contudo, que seria alguém que não permite que prevaleça a própria “visão ideológica”.
Nesse caso, o bom comunista seria aquele que não expropria os meios de produção pela força? Que não executa burgueses durante a revolução proletária — ou que executa, porque é sua obrigação moral, mas o faz com amor e carinho?
Um comunista capitalista
Quando tentava se eleger governador do Maranhão pela primeira vez, em 2014, Dino chegou a dizer que era preciso um comunista para “instaurar o capitalismo” no estado. Nesse caso, o comunista do bem seria um capitalista — pelo menos até conseguir se eleger governador.
Em se tratando de STF, pode-se imaginar também, pelo histórico, que um comunista do bem seja um ministro que garante penduricalhos de 1 bilhão de reais aos pares ou que suspende multas bilionárias de empresas que tinham concordado em pagar o preço pela corrupção descoberta.
O comunismo sobrevive hoje no discurso político brasileiro apesar das atrocidades cometidas em seu nome ao longo do século 20. Para aqueles que insistem em empunhar essa bandeira, a alcunha representa uma virtude, a busca pela alegada justiça social, desconectada convenientemente do passado brutal.
O discurso é sustentado pela mesma comunidade acadêmica que ecoa hoje o discurso nazista nos debates sobre a reação israelense aos ataques terroristas do Hamas de 7 de outubro.
Mas, como Lula involuntariamente deixou claro ao falar em “comunista do bem”, o passado não se apaga tão facilmente.
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