O que Gilmar Mendes já chamou de “cleptocracia” estaria de volta?
Ao lado de Lula, diversos parceiros políticos e empresários que confessaram pagamento de propina dão as cartas novamente

Cerca de dez anos atrás, em 18 de setembro de 2015, visivelmente, ou aparentemente ao menos, estarrecido com todas as informações e provas obtidas pela operação Lava Jato, que jamais foram refutadas, ainda que anuladas posteriormente por alegações jurídicas controversas – mas isso é tema para outro momento -, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, sem meias palavras, declarou:
“A Lava Jato estragou tudo. Evidente que a Lava Jato não estava nos planos [do PT], porque o plano era perfeito, mas não combinaram com os russos. Era uma forma fácil de se eternizar no poder. Pelas contas do novo orçamento da Petrobras, R$ 6.8 bilhões foram destinados à propina. Se um terço disso foi para o partido, eles têm algo em torno de R$ 2 bilhões de reais em caixa. Era fácil disputar eleição com isso. Na verdade, o que se instalou no país nesses últimos anos e está sendo revelado na Lava Jato é um modelo de governança corrupta, algo que merece um nome claro de cleptocracia. Veja o que fizeram com a Petrobras. Eles tinham se tornado donos da Petrobras. Infelizmente, para eles, e felizmente, para o Brasil, deu errado.”
Ao longo dos anos seguintes, até a mudança de rumos política que dizimou os inéditos feitos punitivos da mais bem-sucedida operação policial da nossa história, que desnudou e desmontou o maior esquema de assalto aos cofres públicos de uma democracia em toda a história do ocidente, alguns dos acusados no esquema de corrupção, incrustado e generalizado nas altas esferas do Legislativo e Executivo, foram investigados, processados, condenados e presos, incluindo os dois personagens protagonistas desta coluna, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e seu companheiro histórico de Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu.
Brasil, mostra a tua cara
Após a mudança de posição do próprio Gilmar Mendes, em 2019, a respeito da possibilidade de prisão após uma condenação em segunda instância, que permitiu a soltura do então encarcerado por corrupção e lavagem de dinheiro – após condenações em primeira e segunda instâncias federais, e também no Superior Tribunal de Justiça (STJ) -, à época, ex-presidente, Lula, e o aceite de mensagens obtidas em ataque hacker a procuradores e juízes federais responsáveis pela Lava Jato, notadamente o atual senador Sérgio Moro e o ex-deputado federal – cassado de forma curiosa – Deltan Dallagnol, no caso conhecido como Vaza Jato, com a consequente anulação das condenações do próprio Lula e atos derivados da operação Lava Jato, que desencadeou uma espécie de efeito cascata, beneficiando outros condenados, muitos deles réus confessos que devolveram parte do dinheiro desviado, Lula da Silva, com a ficha limpa pelos supremos togados, retornou ao poder em 2022, eleito pela terceira vez o presidente do Brasil.
Hoje, ao lado de Lula, políticos daquela época e empresários que confessaram pagamento de propina – alguns, inclusive, também presos como os irmãos Wesley e Joesley Batista, do Grupo J&F -, dão as cartas novamente em Brasília. Porém, faltava um. Talvez o mais emblemático de todos: José Dirceu. Conhecido como o chefão dos chefões do PT, ao que tudo indica, em breve, não faltará mais, pois deverá disputar as próximas eleições, já que sua ficha também foi lavada pelo STF e seus direitos políticos estão “em dia”.
“O presidente tinha me convocado para duas tarefas: participar do processo de eleições diretas do PT como militante – apoiando Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara – e que eu estudasse a possibilidade de voltar a ser deputado federal, coisa que vou fazer no fim do ano”, declarou Dirceu neste sábado, 15. Eu recorro à pergunta do título: devemos acreditar, então, que, com os mesmos acusados no escândalo que indignava Gilmar Mendes, tudo agora será feito com lisura, em prol do interesse público?
Coitado do Gilmar
Eis aí, talvez, o epílogo desta triste história – puro suco de Brasil -, pois o fim jamais existirá, já que “tudo o que está ruim sempre pode piorar” nestes pobres trópicos bananeiros.
Gilmar Mendes, hoje um anti-Lava Jato e, “em nome da democracia” uma espécie de aliado do presidente Lula, já participa de eventos com acusados de envolvimento com o que, à época, chamou de cleptocracia.
Creio que não se importa. Afinal, ano que vem tem Gilmarpalozza. Quem sabe com novos reforços?
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Comentários (4)
Ita
16.03.2025 15:23Asco!!!
ALDO FERREIRA DE MORAES ARAUJO
16.03.2025 13:40É muita desfaçatez.
MARCOS
15.03.2025 20:30NÃO EXISTE NADA QUE O DINHEIRO NÃO COMPRE. O DINHEIRO COMPRA TUDO, ATÉ REPUTAÇÕES.
Marian
15.03.2025 20:10Que nada! O Brasil voltou.