No céu tem concurso? No céu tem concurso?
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No céu tem concurso?

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Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 09.03.2024 23:33 comentários
Análise

No céu tem concurso?

Se passar em um concurso público significa abrir a porta do céu, como disse Lula, o resto do país só pode estar no inferno

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Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 09.03.2024 23:33 comentários 0
No céu tem concurso?
Ricardo Stuckert / PR

Uma declaração de Lula se perdeu em meio às ameaças de pressão sobre o iFood na segunda-feira, 4, durante a apresentação da proposta do governo para regulamentar o trabalho de motoristas de aplicativo. O petista exaltou a carteira de trabalho como símbolo, e os concursos públicos como meta. Disse que a aprovação em uma seleção para o Banco do Brasil ou a Petrobras equivaleria a ir para o céu:

“No meu tempo de jovem, como não tinha empresa de aplicativo, todos nós, na década de [19]50, sonhávamos ser trabalhadores de carteira profissional assinada. Afinal de contas, estava se estruturando a industrialização no país. Então, você ter uma carteira profissional assinada era como se fosse uma relíquia. É como hoje o resultado de um concurso público no Banco do Brasil, na Petrobras. Um concurso público numa dessas carreiras de Estado forte. Quando um jovem passa num concurso daquele, é como se ele tivesse ido para o céu, ou pelo menos aberto a porta do céu.”

A declaração me lembrou uma frase do livro “Capitalismo: modo de usar”, de Fabio Giambiagi. “Faltam 17 anos, cinco meses e quatro dias para me aposentar”, diz um funcionário público citado no primeiro capítulo pelo economista, que publicou o livro exatamente para combater o espírito anticapitalista expresso involuntariamente pela comparação de Lula.

Concursos

Giambiagi, que tinha 22 anos quando ouviu a frase, reflete: “Enquanto há pessoas que procuram se superar, ir atrás de novos desafios e tentar sempre chegar além dos objetivos traçados, outras têm ambições mais limitadas, associadas a certos objetivos que, se concretizados, podem prescindir do traçado de metas mais arrojadas”.

Mas o mais importante é sua conclusão: “A proporção em que um ou outro tipo de pessoas podem ser encontrados no universo de indivíduos que compõem um país definirá que tipo de sociedade se terá”.

Também na segunda-feira, a ministra Esther Dweck, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, anunciou mais 10 mil vagas para concurso até 2026. O governo já tinha anunciado outras 9 mil vagas.

Ela também previu para 2025 ou 2026 uma segunda edição do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), apelidado de “Enem dos Concursos”. Três milhões de candidatos devem participar da primeira prova, em 5 de maio.

O PT voltou e promete abrir a porta do céu.

O resto é inferno

Pela oportunidade de conseguir alguma estabilidade — ainda que artificial, improdutiva e onerosa para o restante da população— em um país completamente instável, os concursos públicos se tornaram botes salva-vidas no Brasil. No caso daqueles que conseguem extrapolar o teto salarial, com um supersalário, o buraco é ainda mais em cima.

É num cenário consolidado, há décadas, de estagnação tecnológica e econômica — do qual escapa por algum milagre apenas o agronegócio — que, em nome de caprichos ideológicos, o governo Lula põe em risco o serviço de milhares de trabalhadores de aplicativo, tentando tragá-los para modelos de legislação trabalhista ultrapassados, como expôs o diretor de políticas públicas do iFood em entrevista ao Meio-Dia em Brasília.

Em um país no qual se estabeleceu uma dependência quase que total do Estado, com seus auxílios e empregos públicos, é ainda mais cruel dificultar a vida de empresas que apresentam alguma alternativa, por pior que ela pareça.

Se passar em um concurso público significa abrir a porta do céu, como disse o presidente da República, o resto do país só pode estar no inferno.

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Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

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