Nem tão supremo

16.05.2025

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Nem tão supremo

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Rodolfo Borges
3 minutos de leitura 21.04.2025 11:28 comentários
Análise

Nem tão supremo

O poder dos ministros do STF segue supremo, mas a autoridade moral da instituição vai se desgastando progressivamente

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Rodolfo Borges
3 minutos de leitura 21.04.2025 11:28 comentários 8
Nem tão supremo
Foto: Antonio Augusto/STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) segue dando a palavra final sobre praticamente tudo no Brasil — e muito além do que apenas em questões constitucionais —, mas seu presidente se viu na posição de prestar contas públicas mais uma vez por causa da conduta de seus ministros.

Dois meses após receber Pedro Vaca Villareal, relator especial para liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), e publicar uma nota para detalhar sua versão do encontro, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso (foto), publicou uma nova mensagem.

Leia mais: STF sob julgamento

Desta vez, Barroso respondeu a reportagem da revista britânica The Economist que disse o que O Antagonista vem dizendo há anos: o STF tem extrapolado em seus poderes e os ministros precisam se conter.

Mas, ao defender o colega Alexandre de Moraes, o presidente do Supremo preferiu acusar a revista de reverberar a “narrativa dos que tentaram o golpe de Estado”.

Pesquisa de opinião

Curiosamente, Barroso, que costumava dizer que “o prestígio de um tribunal não pode ser aferido por pesquisa de opinião pública“, sacou uma pesquisa Datafolha para dizer que “somados os que confiam muito (24%) e os que confiam um pouco (35%) no STF, a maioria [dos brasileiros] confia no Tribunal”.

Segundo o presidente do STF, “não existe uma crise de confiança”. “As chamadas decisões individuais ou ‘monocráticas’ foram posteriormente ratificadas pelos demais juízes”, argumentou, ao rebater algumas das críticas feitas pela publicação estrangeira.

“O X (ex-Twitter) foi suspenso do Brasil por haver retirado os seus representantes legais do país, e não em razão de qualquer conteúdo publicado. E assim que voltou a ter representante, foi restabelecido. Todas as decisões de remoção de conteúdo foram devidamente motivadas e envolviam crime, instigação à prática de crime ou preparação de golpe de Estado”, seguiu Barroso, para chegar à defesa mais controversa de seu mensagem:

“O presidente do Tribunal nunca disse que a corte ‘defeated Bolsonaro’. Foram os eleitores.”

Falou demais

Barroso não disse exatamente que o STF derrotou Bolsonaro, é verdade. Mas disse “nós derrotamos o bolsonarismo” diante de uma plateia de estudantes. The Economist entendeu a mensagem errado? Uma pergunta melhor: há alguma forma correta de entender uma frase como essa quando dita pelo presidente do STF?

Barroso se sentia acuado quando proferiu uma das frases pelas quais passou a ser questionado depois de chegar à presidência do STF — outra é o clássico “perdeu, mané”. Profissionais de enfermagem cobravam do ministro uma decisão judicial sobre a carreira. E o fato é que ele não deveria estar ali, em um evento da União Nacional dos Estudantes (UNE), exposto daquela forma.

Como destaca a reportagem da The Economist, os ministros do STF ganharam um protagonismo inédito desde o julgamento do mensalão, em 2012, e parece que não têm a capacidade — ou a vontade — de se retrair, para deixar a política para os políticos, como tem cobrado discretamente Edson Fachin.

Quanto mais protagonismo, mais atenção o STF chamará e, consequentemente, mais explicações terá de prestar. O poder dos ministros segue supremo, mas a autoridade moral da instituição vai se desgastando progressivamente.

No limite, o poder será exercido sem autoridade, e não haverá mais o que explicar.

Leia mais: O que ninguém falou na Brazil Conference sobre Gilmar, um patrocinador e Lava Jato

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Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

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Comentários (8)

Amaury G Feitosa

23.04.2025 09:12

Supremo sim .. suprema vergonha nacional ...


Angelo Sanchez

22.04.2025 11:33

Um supremo que pode cometer qualquer crime, e não ter nenhum forum acima para julgá-los, é como um Rei, Ditador qualquer, só é destituído por uma convulsão social. a história do mundo comprova este fato.


CARLOS HENRIQUE SCHNEIDER

21.04.2025 17:53

Interessante que o Ministro Barroso parece contrariado (ou envergonhado) quando as práticas de seu tribunal são expostas no exterior, como no caso do The Economist. Imagina ele que uma notinha tão fajuta tem o poder de convencer alguém que pensa? Só a vergonha pela exposição internacional das barbaridades cometidas neste STF pode afetar algum constrangimento a estes ministros.


Ademir Fenicio

21.04.2025 17:53

aff


Claudemir Silvestre

21.04.2025 13:47

O STF no Brasil é o exemplo da FALÊNCIA MORAL de uma instituição que aliou-se ideologicamente ao partido que esta no poder. Isso já mais poderia ocorrer !! Vivemos um período de vácuo absoluto de justiça !!


Paulo Pinto

21.04.2025 13:38

Precisamos de mais Renans Calheiros para peitar o supremo.kkkk


Luiz Filho

21.04.2025 13:38

O produto de uma barrigada vaidoso, a cada dia mais se afrescalha, “ defeated Bolsonaro?” Que viadagem foi essa? Agora vale pesquisa de opinião. Igual jurisprudência de ocasião


Fabio B

21.04.2025 13:17

Precisa de gente capaz e com coragem para enfrentar. Um chefe do executivo ou legislativo que peitar, vence. Até o Renan Calheiros, há não muito tempo atrás, peitava o STF e vencia.


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