STF sob julgamento

23.03.2025

logo-crusoe-new
O Antagonista

STF sob julgamento

avatar
Rodolfo Borges
6 minutos de leitura 15.02.2025 16:15 comentários
Análise

STF sob julgamento

Há muito tempo (talvez nunca), os ministros do Supremo não se encontravam na posição de ter de explicar as próprias ações, e isso não é pouco

avatar
Rodolfo Borges
6 minutos de leitura 15.02.2025 16:15 comentários 3
STF sob julgamento
Foto: Antonio Augusto/STF

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) não serão presos preventivamente ou condenados sem direito a recurso. Não terão seus gabinetes revirados por operações de busca e apreensão da Polícia Federal, nem seus perfis de redes sociais serão bloqueados. Mas só o fato de terem de se explicar já é muito significativo.

Relator especial para liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Pedro Vaca Villareal movimentou a política brasileira nesta semana, ao conversar com o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e seu colega Alexandre de Moraes (foto), além de se encontrar com oposição e base do governo Lula, jornalistas e representantes de entidades de defesa da liberdade de expressão.

Vaca deixará o Brasil sob a expectativa do relatório que fará sobre a situação da liberdade de expressão no Brasil, que se tornou uma questão mais premente desde 2019, quando o então presidente do STF Dias Toffoli abriu o inquérito das fake news por conta própria, sem ser provocado pelo Ministério Público, e o entregou a Moraes.

Leia também: O que eu disse ao relator de Liberdade de Expressão da OEA

O relatório

A revista Crusoé se tornou um símbolo nesse contexto, pois teve uma capa censurada sob a alegação de que espalhava fake news. Hoje, a capa da reportagem “O amigo do amigo de meu pai”, que está toda baseada em investigações da Operação Lava Jato, se tornou referência quando se trata da alegada tentativa das autoridades brasileiras de controlar desinformação.

Muito se especula sobre qual será a impressão de Vaca sobre tudo isso, e qual será o tamanho da repercussão política de seu relatório. Mas há um efeito de sua passagem pelo Brasil que já está posto: há muito tempo (talvez nunca), os ministros do STF não se encontravam na posição de ter de explicar as próprias ações, e isso não é pouco.

Explicações

A “Nota sobre encontro do STF com relator especial para liberdade de expressão da CIDH”, publicada pelo STF após o encontro de Barroso e Moraes com Vaca, é um marco que merece o devido destaque.

“O ministro Barroso iniciou a reunião contextualizando o conjunto de fatos ocorridos no país que colocou em risco a institucionalidade e exigiu a firme atuação do Supremo. Entre estes fatos estavam incluídos discurso de parlamentar que defendia a agressão a ministros do Supremo, juntamente com inúmeras ofensas, e situações de risco democrático, como a politização das Forças Armadas, os ataques às instituições, além do incentivo a acampamentos que clamavam por golpe de Estado. Esse conjunto de fatos resultou nas invasões dos prédios dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023”, diz a nota.

A descrição segue: “O ministro Barroso descreveu ainda que, de acordo com a imprensa, novas investigações teriam revelado uma avançada articulação de golpe de Estado, inclusive com planejamento da morte do presidente da República, do vice-presidente e de um ministro do Supremo”.

E Moraes?

Já Moraes, que participou do encontro a convite de Barroso, “expôs o contexto de todas as investigações e narrou, detalhadamente, as circunstâncias que levaram à suspensão da rede social X, após descumprimento reiterado de decisões do Supremo e retirada dos representantes no Brasil”.

“O ministro Alexandre expôs ainda que cerca de 1.900 pessoas foram denunciadas após os ataques de 8 de janeiro e que, atualmente, 28 investigados têm perfis em redes sociais bloqueados por ordem do STF – oito no inquérito que apura ameaças ao STF, 10 no inquérito dos atos antidemocráticos e 10 no inquérito que apura tentativa de golpe de Estado”, segue a nota do STF, detalhando informações que não circulam livremente por aí.

Segundo o STF, “entre as pessoas denunciadas, cerca de 450 foram condenadas, e cerca de 600 acordos de não persecução penal foram firmados, no caso de crimes menos graves”.

Esclareceu?

A nota termina dizendo que “o ministro Alexandre de Moraes esclareceu ainda que, ao longo dos últimos cinco anos, cerca de 120 perfis foram bloqueados, desfazendo a narrativa de um quadro generalizado de remoção de perfis” e que “em todos esses casos, houve acompanhamento da Procuradoria-Geral da República e das defesas, tendo havido mais de 70 recursos julgados em colegiado“, para concluir: “Ou seja, em nenhum caso, os processos foram de natureza secreta para as partes envolvidas”.

Leia também: Alexandre de Moraes ensina com quantos bloqueios se faz autocensura

Está claro que se trata da versão dos ministros não apenas sobre o que foi dito na reunião, mas também sobre o que ocorreu nos últimos cinco anos — e de que essa é uma versão parcial dos fatos.

O bloqueio do X durante o primeiro turno das eleições municipais deste ano teve um impacto de destaque para a liberdade de expressão do Brasil inteiro, tudo em nome da alegada proteção da democracia — e esse foi o pior efeito colateral para a livre circulação de ideias no país provocado pelas ações do STF nos últimos anos.

Impeachment no horizonte

Toda essa situação escancarou os riscos embutidos no STF, uma instituição cujo único controle, para além da autocontenção dos ministros, é uma bomba atômica: o ainda inédito impeachment de um de seus membros.

Como no caso do impedimento do presidente da República, o impeachment de um ministro do STF depende também de questões políticas. Ainda não se sabe o efeito que a primeira retirada forçada de um deles terá sobre a dinâmica institucional brasileira.

O ideal, da forma como o país se organizou institucionalmente, seria que os ministros do STF contivessem suas ações e que não participassem de forma tão escancarada do jogo político, seja em suas decisões ou em declarações públicas que confundem suas funções.

Alternativa

A direita brasileira se organiza para conseguir maioria no Senado em 2026 e, enfim, iniciar em 2027 um processo que tem tudo para ser traumático, mas que se tornou a última esperança de algum reequilíbrio entre os poderes.

Se os ministros do STF tiverem apreço pela instituição e estiverem mesmo com receio de se tornarem alvos de procedimentos no Senado — é o que eles mesmos fazem circular nos famigerados offs pela imprensa amiga —, a atitude mais eficiente que podem tomar é se retirar do jogo político aberto.

O ministro Edson Fachin já disse isso em público mais de uma vez. Já passou da hora de seus colegas de Supremo o ouvirem, sob o risco de tornar inócua a instituição que hipertrofiou seus músculos ao tentar tomar conta do Brasil inteiro.

Leia mais: E se um impeachment melhorar o STF?

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Dino segue Moraes e vota para condenar mulher que pichou estátua

Visualizar notícia
2

STF vai com escalação completa ‘contra’ Bolsonaro

Visualizar notícia
3

Que tal um imposto sobre cachorro?

Visualizar notícia
4

Gabriel Monteiro deixa a prisão após mais de 2 anos

Visualizar notícia
5

Trump revoga proteção temporária para meio milhão de imigrantes

Visualizar notícia
6

Agência ligada a mensaleiros firma contratos com governo Lula

Visualizar notícia
7

Morre George Foreman, lenda mundial do boxe

Visualizar notícia
8

Alessandro Vieira propõe penas mais leves aos condenados pelo 8/1

Visualizar notícia
9

Bolsonaro acusa Moraes de agir com “sadismo” e “sede de vingança”

Visualizar notícia
10

Crusoé: Cristina bloqueia Milei

Visualizar notícia
1

Que tal um imposto sobre cachorro?

Visualizar notícia
2

STF vai com escalação completa 'contra' Bolsonaro

Visualizar notícia
3

Dino segue Moraes e vota para condenar mulher que pichou estátua

Visualizar notícia
4

Isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil será aprovada, diz Haddad

Visualizar notícia
5

Agência ligada a mensaleiros firma contratos com governo Lula

Visualizar notícia
6

Gabriel Monteiro deixa a prisão após mais de 2 anos

Visualizar notícia
7

Bolsonaro acusa Moraes de agir com “sadismo” e “sede de vingança”

Visualizar notícia
8

Alessandro Vieira propõe penas mais leves aos condenados pelo 8/1

Visualizar notícia
9

Crusoé: Cristina bloqueia Milei

Visualizar notícia
10

Trump exclui Biden, Kamala e Hillary de acesso a informações confidenciais

Visualizar notícia
1

Crusoé: Cristina bloqueia Milei

Visualizar notícia
2

Bolsonaro acusa Moraes de agir com “sadismo” e “sede de vingança”

Visualizar notícia
3

Zelensky visita soldados em região anexada pela Rússia

Visualizar notícia
4

Newton Cannito na Crusoé: Lacração afugentou público do cinema brasileiro

Visualizar notícia
5

Que tal um imposto sobre cachorro?

Visualizar notícia
6

Isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil será aprovada, diz Haddad

Visualizar notícia
7

Jerônimo Teixeira na Crusoé: Querem “decolonizar”

Visualizar notícia
8

Morre George Foreman, lenda mundial do boxe

Visualizar notícia
9

Orlando Tosetto Júnior na Crusoé: A Ovobrás do governo do amor

Visualizar notícia
10

Trump revoga proteção temporária para meio milhão de imigrantes

Visualizar notícia

logo-oa
Assine nossa newsletter Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Alexandre de Moraes liberdade de expressão Luís Roberto Barroso STF
< Notícia Anterior

Viih Tube revela que tomou remédio para emagrecer

15.02.2025 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Bancos vão mudar horário de funcionamento por conta do Carnaval

15.02.2025 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (3)

MARCOS

16.02.2025 20:47

NÃO ESPEREM UM RELATÓRIO CRITICANDO AS INSTITUIÇÕES POIS NÃO VIRÁ. O SENHOR VACA É DA ESQUERDA.


Amaury G Feitosa

16.02.2025 11:08

O mundo sabe bem o que ocorreu no Brasil e brevemente tudo será mostrado através de Trump que já avisou claramente que o fará, a inteligência americana apurou tudo e tem os mínimos detalhes da tragédia brasileira onde com a implantação de ditadura assassina e ladra cantada publicamnete pelo multi criminoso Zé Dirceu por aí ainda à disposição de quem quiser ver ... eu lamento mas não tenho o menor receio de afirmar que os crimes do STF contra o Estado e Nação serão expostos e punidos ... nenhuma DITADURA como nenhum DITADOR é para sempre basta lembrarmos de Hitler, Mussolini, Stálin, Kaddaffi e Idi Amin e isto basta.


Claudemir Silvestre

15.02.2025 22:03

Justamente aqueles que dizem querer salvar a democracia no Brasil, impuseram uma DITADURA DA TOGA no pais !!!


Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

STF vai com escalação completa &#039;contra&#039; Bolsonaro

STF vai com escalação completa 'contra' Bolsonaro

Rodolfo Borges Visualizar notícia
Crusoé: Adivinhe quem será o próximo presidente do PT

Crusoé: Adivinhe quem será o próximo presidente do PT

Duda Teixeira Visualizar notícia
Lulo-madurismo ou bolso-trumpismo: a encruzilhada do atraso

Lulo-madurismo ou bolso-trumpismo: a encruzilhada do atraso

Catarina Rochamonte Visualizar notícia
Crusoé: E se o Brasil fechasse o Ministério da Educação?

Crusoé: E se o Brasil fechasse o Ministério da Educação?

Duda Teixeira Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.