E se o problema for o próprio Lula?
Entre todas as explicações encontradas pelos governistas para justificar a queda de popularidade de Lula, só falou uma: a gestão do presidente da República
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, prometeu uma campanha para convencer os motoristas de aplicativo de que os limites para o exercício de suas atividades serão benéficos. E se uniu, assim, aos colegas de governo que admitiram erros recentemente, mas só de comunicação.
“Nós, governo, cometemos um erro de comunicação ao inserir esse debate. Precisaríamos ter feito um processo de comunicação antes de apresentar o projeto. Há um pessoal interessado em tumultuar, não em olhar o projeto, e a ausência de comunicação levou as pessoas a acreditarem nessas mentiras”, disse Marinho em entrevista.
O governo Lula não erra, são os outros que não entendem suas virtudes.
Na reunião ministerial de 18 de março, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, mencionou a palavra imprensa sete vezes. Costa fez uma longa explanação sobre o que seriam os avanços do governo, entre os quais incluiu o controle da inflação — que Lula atrapalhou em vez de ajudar —, após o presidente dizer o seguinte:
“Queridos companheiros e companheiras, eu não sei se eu fiz aquilo que a imprensa imaginava que eu ia fazer, porque desde sexta-feira a imprensa está tentando adivinhar o que que eu vou fazer nessa reunião. E eu vou fazer só isso. Fazer só isso, fazer uma discussão sobre o governo. Agora nós vamos mostrar pra vocês e é importante que a imprensa preste atenção, porque agora o companheiro Rui Costa vai mostrar.”
Todo mundo viu
A “imprensa” viu tudo o que Lula fez desde que tomou posse, em 1º de janeiro de 2023. Para o azar do petista, o resto do Brasil também viu, e só os membros de seu governo não querem enxergar isso.
Desde aquela reunião ministerial, o governo começou uma operação de comunicação com o objetivo de melhorar a popularidade de Lula, cujo esteio é a crença no Senhor — ou pelo menos a repetição exaustiva das palavras “milagre” e “Deus”.
O marqueteiro Sidônio Palmeira, que atuou na campanha de Lula em 2022, teria dito o seguinte em reunião convocada pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência, Paulo Pimenta, com representantes de nove ministérios, da Caixa e do Banco do Brasil na semana passada: “Comunicação sem amor, vontade, tesão, sem brilho não vai a lugar nenhum”.
Ilusão
O marqueteiro também disse que “um governo sem marca é um governo fraco”. Mais fraco ainda é um governo que não foi eleito pelas virtudes do presidente, mas pelas falhas de seu principal adversário. O Brasil não queria mais de Lula — queria menos de Jair Bolsonaro.
Bolsonaro também sofreu — e não se reelegeu — por se iludir com a ideia de que tinha sido escolhido pelo povo brasileiro, e não eleito como repúdio a um oponente que tentou evitar a prisão forçando uma candidatura presidencial.
A popularidade de Lula caiu, no fim das contas, porque ele se comportou até agora como se tivesse sido eleito de fato, pela forma como faz política e pela memória de seus dois governos anteriores. Prova disso é que insiste em repetir tudo o que fez, inclusive os mesmos programas, e com os mesmos nomes e as mesmas pessoas.
Mas o país é outro. Passaram-se mais de 20 anos e foi deflagrada a maior operação de combate à corrupção da história, que a população se recusa a esquecer, apesar de o mundo político tentar apagá-la.
Tudo igual
Assim como também fez no passado, Lula associou o Brasil às piores autocracias do mundo — que, aliás, estão muito piores do que eram há 20 anos. Diante dos indícios de que nada disso está colando mais, em vez de repensar as políticas e os rumos, o governo culpa a população, que não teria entendido direito toda a sua boa vontade.
A cereja do bolo da semana foi tirar do bolso Aloizio Mercadante, que comanda o BNDES graças a uma canetada do atual ministro da Justiça, o ministro aposentado do STF Ricardo Lewandowski, como solução para a Petrobras.
E esperam melhorar a popularidade falando em Deus? Haja milagre.
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