Desta vez, Zambelli parece ser apenas coadjuvante Desta vez, Zambelli parece ser apenas coadjuvante
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Desta vez, Zambelli parece ser apenas coadjuvante

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Carlos Graieb
5 minutos de leitura 24.07.2024 20:56 comentários
Análise

Desta vez, Zambelli parece ser apenas coadjuvante

Nova investigação atinge deputada, mas personagem principal da trama é o ex-ministro da Justiça Anderson Torres

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Carlos Graieb
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Desta vez, Zambelli parece ser apenas coadjuvante
Deputada Carla Zambelli | Foto: Lula Marques/ EBC

Em meio aos vários aloprados da política bolsonarista, Carla Zambelli (PL-SP) conseguiu o feito de sobressair.

Já correu pela rua, de arma na mão, na véspera de uma eleição. Arregimentou um hacker para invadir sistemas do judiciário e tornou-se ré por causa disso. Até os colegas – até o próprio Bolsonaro –passaram a vê-la como tóxica.  

Nesta quarta-feira, 24, o STF autorizou a abertura de uma nova investigação contra a deputada federal. Quer entender melhor o seu papel na instauração de um inquérito pela PF, pouco antes do primeiro turno de 2022, com base na alegação de que Lula recebeu dinheiro sujo da ditadura Venezuelana ao longo de vários anos. 

O papel de Anderson Torres

O currículo e o cargo político de Zambelli fazem com que ela atraia os holofotes. Ao contrário dos episódios anteriores, contudo, tudo indica que ela teve um papel de coadjuvante neste caso. 

Pelo que se sabe da história até agora, coube a ela compilar, em parceria com uma blogueira, o dossiê que serviu de estopim para a instauração do tal inquérito. Mas quem mandou a polícia para a rua foi o então ministro da Justiça Anderson Torres, que tinha o poder para tanto.  

Em outras palavras, se houve crime nessa história, a participação de Torres foi mais grave. Com seu gosto pelas intrigas de porão, Zambelli teria servido apenas como ferramenta.  

Desvio de finalidade

Há indícios de que a mira da PF está voltada para Torres. No pedido de investigação acatado por Alexandre de Moraes nesta quarta, a corporação afirma que o acionamento da PF representou um “desvio de finalidade”: o objetivo seria criar um fato político capaz de prejudicar a candidatura de Lula em 2022.  

Será preciso demonstrar que a máquina estatal foi posta em movimento pelo bolsonarismo com essa finalidade. É nesse enredo que ações de Zambelli terão de ser encaixadas. Tomado isoladamente, seu esforço para levantar informações sobre Lula pode ser destrambelhado, mas qualificá-lo como criminoso representará outro tipo de abuso.  

Zambelli teria ajudado a influenciadora Elisa Robson a viajar à Espanha para encontrar-se com o ex-general venezuelano Hugo Carvajal, mais conhecido como El Pollo (o frango). Ele estava preso no país europeu, aguardando o desenrolar de um processo de extradição para os Estados Unidos, onde atualmente enfrenta acusações de ter participado de uma rede de tráfico de drogas.  

As acusações de El Pollo

Na Espanha, Carvajal apresentou à justiça um documento – obtida em primeira mão pelo Antagonista em outubro de 2021 – em que afirmava que a ditadura venezuelana financiou por mais de uma década partidos de esquerda de outros países, entre os quais o espanhol Podemos e o PT, no Brasil.  

A Espanha iniciou uma investigação sobre o Podemos. Ela acabou sendo arquivada em junho de 2022, antes da abertura do inquérito no Brasil, porque Carvajal não apresentou outras provas para dar substância às suas alegações. Chegou-se à conclusão que tentava atrasar sua extradição.  

Ainda assim, não se pode dizer que a tentativa de ouvir “El Pollo” representaria, por si só, um abuso político. Mesmo que suas alegações sobre o Podemos não parassem de pé, indagá-lo sobre o PT e sobre Lula seria uma ação legítima por parte de uma adversária política.

A fronteira do crime

Só se entra em terreno pantanoso, insisto, se a PF tiver sido mobilizada com base em narrativa mequetrefe, sem nenhuma substância. E nesse caso, insisto também, a culpa maior será de Torres, o chefe da corporação – e eventualmente até mesmo de Bolsonaro, o chefe de Torres, se surgir algum indício do seu envolvimento na trama.  

A PF e o STF terão de descrever com cuidado e clareza as condutas de cada um dos personagens nessa história. É preciso cobrar isso dessas instituições, que têm sido muito apressados em criminalizar o discurso político e a ação política no Brasil.  

***** 

PS: Hoje escarrapachado numa poltrona do STF, Flávio Dino, quando Ministro da Justiça, mobilizou a Polícia Federal para investigar o MBL por suposta ofensa à honra de Lula. Nesta quarta-feira, 24, um dos líderes do grupo foi intimado a prestar depoimento nesse caso. Ao contrário do que acontece em outros crimes, em que o Estado tem o dever de agir, cabe aos atingidos pelos crimes contra a honra dar início dar a uma ação judicial. Há algo de perturbador em ver a PF entrar em campo nesse caso, direcionada pelo Ministro da Justiça, para acossar um crítico do governo. Não seria também esse um exemplo de desvio de finalidade?  

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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