Anistia é coisa nossa

14.11.2025

logo-crusoe-new
O Antagonista

Anistia é coisa nossa

avatar
Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 06.09.2025 11:24 comentários
Análise

Anistia é coisa nossa

Os últimos anistiados na nossa longa história de perdão oficial foram Lula e os condenados pelo petrolão, e eles nem sequer demonstraram arrependimento

avatar
Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 06.09.2025 11:24 comentários 6
Anistia é coisa nossa
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Tarcísio de Freitas (Republicanos) recuperou em suas redes sociais discurso de uma das recentes manifestações por anistia aos condenados pelo 8 de janeiro de 2023, convocadas na verdade para anistiar Jair Bolsonaro, quando defendeu o perdão oficial como uma característica brasileira.

“Na história do Brasil, sempre tivemos anistia. Foi assim no período colonial, foi assim no período regencial, foi assim no Segundo Império, foi assim no início da República. Vocês sabiam que Prudente de Morais deu anistia para aquelas pessoas que se revoltaram nos primeiros anos da República? Vocês sabiam que [Getúlio] Vargas deu anistia para quem participou da intentona comunista? Vocês sabiam que Juscelino Kubitschek deu anistia para as pessoas que se revoltaram em [19]55? E a Lei da Anistia em [19]79? E por que não anistia agora? Pedir anistia não é uma heresia. Pedir anistia é algo justo, é algo real, é algo importante. A anistia para essas pessoas é o reencontro com a liberdade, é o reencontro com a justiça, é o reencontro com a esperança. E nós precisamos nos reencontrar com a esperança”, defendeu o governador de São Paulo.

O ex-ministro Aldo Rebelo foi ainda mais longe. Ao publicar seu próprio vídeo, ele definiu o Brasil como “o país da anistia”. “Da monarquia à República, de Vargas a Figueiredo, de Dom Pedro a Juscelino, permanece uma máxima brasileira: nós anistiamos para seguir em frente”, disse.

Leia também: O tribunal que descondenou Lula tem moral para condenar Bolsonaro?

Os donos do poder

Nenhum dos dois está mentindo. Ao longo do tempo, a elite política brasileira sempre deu um jeito de se entender. É o que Raymundo Faoro chamou de “social enormity” em Os Donos do Poder, uma situação “segundo a qual velhos quadros e instituições anacrônicas frustram o florescimento do mundo virgem”. Quem defende a anistia, agora, deve se questionar se isso faz bem ao país.

O Brasil nunca teve uma guerra civil, como a americana, e há um lado positivo evidente nisso: menos pessoas morreram por causa de conflitos armados. Mas, diante da distância atual entre as condições do Brasil e dos Estados Unidos, é de se questionar se algum desentendimento não faz bem ao país, para que possa ocorrer o “florescimento do mundo virgem”, como descreveu Faoro.

O que Tarcísio e Aldo não citaram é que a anistia brasileira não se manifesta apenas em momentos de atrito político. Da redemocratização, em 1988, até o escândalo do mensalão, julgado em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) não condenou um único político por corrupção.

Corrupção

Os crimes sempre prescreveram antes da sentença final, porque os processos corriam quase sem querer pelas instâncias inferiores. A condenação de José Dirceu e companhia — com a exceção destacada de Lula — sinalizava para o fim da impunidade, mas o desmonte da Operação Lava Jato, anos depois, sugeriu que o julgamento do mensalão foi a exceção que confirma a regra.

Os últimos anistiados na longa história de perdão oficial brasileira foram Lula e os condenados do petrolão. E o perdão oficial, feito pela anulação de condenações, veio sem o arrependimento. Pelo contrário: é com orgulho que o atual presidente bate no peito para dizer que não havia provas contra ele.

Não há possibilidade de perdão sem arrependimento, e esse é o grande problema da história brasileira: os anistiados não se arrependem, eles nem sequer admitem qualquer tipo de culpa ao receber o benefício, o que significa que, provavelmente, tentarão repetir aquilo por que foram perdoados.

Em meio a todos os atropelos do julgamento da trama golpista, uma nova oportunidade de romper com a história de acomodação do Brasil se apresenta, ainda que as linhas sempre sejam tortas.

Se for mesmo para anistiar quem queria dar um golpe de Estado, como admitiram os advogados do julgamento da trama golpista, que os perdoados pelo menos demonstrem algum tipo de arrependimento e parem de posar de injustiçados, ou ninguém estará “seguindo em frente”.

Leia mais: Não se brinca com golpe de Estado

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

O tímido post de Rubio sobre a reunião com Vieira

Visualizar notícia
2

SP: Explosão em depósito de fogos mata morador e devasta quarteirões no Tatuapé

Visualizar notícia
3

EUA anunciam ‘Operação Lança do Sul’ contra “narcoterroristas”

Visualizar notícia
4

Crusoé: Festa na floresta

Visualizar notícia
5

As credenciais de Carluxo para disputar o Senado por SC

Visualizar notícia
6

Uma ligação de Chomsky para Epstein direto da cadeia com Lula?

Visualizar notícia
7

Crusoé: Eduardo Bolsonaro aponta o dedo para os “camisas 10 de Moraes”

Visualizar notícia
8

Esquema do INSS operava durante gestão Bolsonaro, diz PF

Visualizar notícia
9

ONU cobra Lula e critica falhas na estrutura da COP30

Visualizar notícia
10

“Querem resolver rapidamente as questões com o Brasil”, diz Vieira sobre EUA

Visualizar notícia
1

Esquema do INSS operava durante gestão Bolsonaro, diz PF

Visualizar notícia
2

STF começa julgamento que pode tornar Eduardo Bolsonaro réu

Visualizar notícia
3

Crusoé: Eduardo Bolsonaro aponta o dedo para os “camisas 10 de Moraes”

Visualizar notícia
4

EUA anunciam 'Operação Lança do Sul' contra "narcoterroristas"

Visualizar notícia
5

Moraes vota para receber denúncia da PGR e tornar Eduardo Bolsonaro réu

Visualizar notícia
6

Um pedido de Haddad para Papai Noel

Visualizar notícia
7

Ex-presidente do INSS usou pizzaria para ocultar valores de propina, diz PF

Visualizar notícia
8

Kiev sofre ataque massivo russo durante a madrugada

Visualizar notícia
9

Rússia lança 430 drones e 18 mísseis contra Kiev

Visualizar notícia
10

"A polícia do Rio é a melhor do mundo, o crime aqui tem armamento de guerra"

Visualizar notícia
1

Crusoé: A ópera pop de Rosalía

Visualizar notícia
2

Dia Mundial do Diabetes: veja as causas e como prevenir essa doença

Visualizar notícia
3

“Não consigo entender o que ele fala”, diz prefeita sobre Jair Renan

Visualizar notícia
4

Veja como começar a empreender como trancista

Visualizar notícia
5

Crusoé: “Ecosocialista” de Maduro participa da COP30 com Marina

Visualizar notícia
6

Operação Sem Desconto: Cleitinho fala em ‘revisar’ apoio de aliado alvo da PF

Visualizar notícia
7

Meio-Dia em Brasília: O mensalão do ex-presidente do INSS

Visualizar notícia
8

Tem diabetes? Confira 5 receitas de almoço leve e nutritivo

Visualizar notícia
9

Sintomas de AVC: saiba como reconhecer e agir rapidamente

Visualizar notícia
10

ChatGPT testa grupos com IA para até 20 pessoas

Visualizar notícia

Tags relacionadas

anistia Jair Bolsonaro Tarcísio de Freitas
< Notícia Anterior

O que o diabético pode comer para manter a glicose estável

06.09.2025 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Senado prepara relatório com documentos de Tagliaferro sobre Moraes

06.09.2025 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (6)

Fabio B

06.09.2025 19:27

Marian, o golpe em questão pouco é sobre esses doidinhos e atrapalhados. O 8/1 foi só um espetáculo, um rescaldo de toda uma lavagem cerebral que esses pobres diabos sofreram; Mas a tentativa de ruptura não foi daquele espetáculo patético, vem bem de antes e só foi mais posto a prática após a derrota de 2022. Segundo a PF, Bolsonaro teve 14 reuniões com os comandantes das Forças buscando adesão a um plano para anular o resultado. Nessas tratativas, ele apresentou a tal “minuta” de um decreto aos comandantes. No entanto, Exército e Aeronáutica recusaram; o comandante do Exército, Gen. Freire Gomes, teria dito até que prenderia o Bolsonaro se ele insistisse, enquanto o então chefe da Marinha, Almir Garnier, sinalizou apoio em versões registradas em depoimentos dos outros comandantes no inquérito. E o Bolsonaro se desesperou após essa negativa e ameaça de prisão, ficou bastante abalado, foi até noticiado que ele estava abalado e não saia do quarto. Tanto que poucos dias depois fugiu para Flórida logo, nem esperou a posse do Lula. Ele só voltou por ganância, porque o Valdemar Costa Neto garantiu impunidade, que não daria em nada, mas a para o azar dele, deu em algo, kkkkk


Marian

06.09.2025 17:44

Que golpe de Estado é esse com pipoqueiro, vendedor de algodão doce, velhinhas com bíblia nas mãos, morador de rua, senhor autista? Heim? Hoje em dia há registro de imagens em qualquer bar, qualquer quitanda, como não há registro do que essas pessoas fizeram? Anistia sim, se  houve anistia  para sequestradores, ladrões de banco e guerrilheiros tem que ter para essas pessoas . 


FRANCISCO JUNIOR

06.09.2025 16:00

Fábio B disse tudo, só acrescento que nos últimos dias meu voto migrou de Tarcísio para Ratinho ou Eduardo Leite (Zema já descartei por outro dia não ter se posicionado contra a ditadura militar).


Ariadne

06.09.2025 15:23

Correção: não ressarciu!


Ariadne

06.09.2025 15:22

De Anistia em Anistia, estamos sempre a dar voltas e a não sair do lugar! Tá explicado: o problema do país sãos as eternas Anistias! Getúlio Vargas anistiou os participantes da Intentona comunista mas ressarciu os prejudicados pela ideologia destes. Meu bisavô foi um homem honesto e trabalhou a vida inteira para sua família. Depois q Carlos Prestes e seus companheiros destruíram tudo o q ele havia construído, a saúde foi definhando e ficou para a família a tarefa de seguirem suas vidas sem os recursos q possuíam antes. Viva a Anistia?


Fabio B

06.09.2025 11:39

Sempre é bom pontuar que os doidinhos atrapalhados que estão presos hoje são nada mais que lixo descartável, servem apenas de escudo para o Bolsonaro usar em benefício próprio. A liberdade deles não é o que de fato está em jogo, pois o Bolsonaro manteria todos em cana se isso implicasse na sua liberdade. Então o Tarcísio vem reforçando o discurso de anistia do Bolsonaro justamente para ter seu apoio mais declarado, indicando que possivelmente ele tem alinhamento com o STF para, no mínimo, garantir uma prisão domiciliar depois de um tempo. Agora, falar em volta à política é delírio, pois com certeza a inelegibilidade é definitiva. Mas acredito que o Bolsonaro poderia ainda concorre a síndico de algum condomínio da sua centena de imóveis comprados em cash com dinheiro vivo, fruto de roubo de dinheiro público.


Torne-se um assinante para comentar

Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.