A volta dos ‘bons companheiros’ Vaccari, Dirceu e... Queiroz A volta dos ‘bons companheiros’ Vaccari, Dirceu e... Queiroz
O Antagonista

A volta dos ‘bons companheiros’ Vaccari, Dirceu e… Queiroz

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Felipe Moura Brasil
8 minutos de leitura 23.11.2023 12:52 comentários
Análise

A volta dos ‘bons companheiros’ Vaccari, Dirceu e… Queiroz

A quatro meses da eleição de 2022, em 6 de junho daquele ano, publiquei o artigo “Os bons companheiros de Lula e Bolsonaro”, fazendo analogia entre a cena de exaltação da omertà no filme de Martin Scorsese e o silêncio de João Vaccari Neto, José Dirceu e Fabrício Queiroz enquanto tentavam...

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Felipe Moura Brasil
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A volta dos ‘bons companheiros’ Vaccari, Dirceu e… Queiroz
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A quatro meses da eleição de 2022, em 6 de junho daquele ano, publiquei o artigo “Os bons companheiros de Lula e Bolsonaro”, fazendo analogia entre a cena de exaltação da omertà no filme de Martin Scorsese e o silêncio de João Vaccari Neto, José Dirceu e Fabrício Queiroz enquanto tentavam se livrar da prisão.

Relembro o trecho final, com arremate irônico:

“Fabrício Queiroz (…) contou em podcast que tem respondido a quem pergunta se a família do presidente vai apoiar sua candidatura a deputado federal que ‘é um absurdo se eles não me apoiarem’. Ao contrário do que fez Antonio Palocci com Lula, o pai da personal Nathália não entregou Flávio nem Jair. Não foi tão difícil, é verdade, já que João Otávio de Noronha, do STJ, e Gilmar Mendes, do STF, garantiram a ele e a sua então foragida mulher uma prisão domiciliar, depois relaxada. Mas Queiroz se comportou na Taquara e ‘tem razão’ em cobrar seu presente.

O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, por exemplo, sempre foi afagado pelos pares. Tinha boquinha em Itaipu garantida por Dilma Rousseff enquanto era investigado e ganhou outra na CUT-PR após sair da prisão. Hoje atua nos bastidores da campanha lulista, assim como o estrategista José Dirceu, mensaleiro condenado na Lava Jato até pelo STJ.

Por que Queiroz, que silenciou como Vaccari e Dirceu, teria de amargar o abandono de Palocci? Só porque não aprendeu a ser discreto na hora da eleição, como seus homólogos petistas? Queiroz também é um bom companheiro, Jair. Dá uma forcinha pra ele.”

Com Lula no poder, Vaccari e Dirceu estão de volta, como previsto, enquanto Queiroz, não eleito, manda recados até em áudio para a família Bolsonaro.

Vamos por partes:

  1. VACCARI, FUNDOS DE PENSÃO E PETROBRAS

Condenado em sete processos da Lava Jato, um deles com sentença de 15 anos de prisão, o ex-tesoureiro do PT cumpriu quatro, foi beneficiado por indulto natalino e “fez uma reentrada pública na cena política” na quarta-feira, 22, “abrindo um seminário da Central Única dos Trabalhadores sobre fundos de pensão numa sessão que tinha como tema ‘A Previc e o novo governo’”, informou Malu Gaspar no Globo, nesta quinta, 23, referindo-se à “autarquia que regula e fiscaliza a aplicação de mais de R$ 1 trilhão depositados em fundos de aposentadoria privada de milhões de trabalhadores”.

Em 2017, Vaccari se tornou réu na Justiça Federal por fraudes que provocaram prejuízos de R$ 402 milhões no fundo de pensão da Caixa Econômica Federal, a Funcef, representada no evento da CUT pelo seu presidente, Ricardo Pontes, que discutiu “problemas e soluções” para o setor com João Fukunaga, presidente da Previ (sem “c”), o fundo do Banco do Brasil. O ex-tesoureiro ainda sentou à mesa com o diretor superintendente e o diretor de normas da Previc.

O Antagonista lembra que Vaccari foi apontado por Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, como o principal operador do PT no esquema do petrolão e que era chamado por ele de “Mochila”, razão pela qual foi identificado como “Moch” nas planilhas de rateio da propina arrecadada. Segundo Barusco, Vaccari participou pessoalmente das negociações para a cobrança de suborno de estaleiros contratados pela companhia.

Curiosamente, o governo Lula, além de patrulhar a Petrobras para controlar o preço dos combustíveis e impedir artificialmente o aumento da inflação, vem tentando garantir a volta da cota de plataformas e navios construídos no Brasil, apesar da incapacidade de estaleiros nacionais de competirem em mercado global.

No dia 8, Bruno Rosa registrou no jornal, com base em ata de reunião da Petrobras, uma tentativa de afrouxar a regra sobre conflito de interesses na companhia, o que poderia abrir espaço para qualquer indicação aos cargos de Administrador e Conselheiro fiscal.

“Na reunião, ao serem ouvidos, representantes das áreas de governança e jurídica da estatal pediram mais tempo para analisar o tema e explicitaram suas dúvidas. Mas foram obrigados a deixar a reunião, esquentando ainda mais o clima.”

A Transparência Internacional Brasil comentou na rede social X, antigo Twitter:

“Nada mais representativo do momento atual da Petrobras: pedir para o compliance sair da sala enquanto deliberam o afrouxamento da regra de conflito de interesses.

Em 1º de outubro, o presidente da Petrobras indicado por Lula, Jean Paul Prates, já havia nomeado para o comando interino da Gerência Executiva de Comunicação o ex-funcionário Luís Fernando Nery, demitido em 2019 por suspeita de corrupção, após constatação de desvios em verbas de publicidade e eventos. A nomeação foi um drible de Prates no comitê de conformidade da empresa, que havia vetado a recontratação de Nery como gerente executivo por causa das irregularidades cometidas no passado.

Ricardo Lewandowski, o ministro mais fiel a Lula, já havia garantido, por liminar no STF, o afrouxamento da lei das estatais, em uma de suas últimas canetadas antes da aposentadoria. Foi um drible no Senado Federal, que não quis arcar com o desgaste de referendar o texto aprovado na Câmara dos Deputados, liberando indicações políticas.

Fundos de pensão e Petrobras, em suma, estão sob o cerco do velho petismo de sempre.

  1. DIRCEU EM TODAS

Condenado no mensalão e no petrolão, o ex-ministro-chefe da Casa Civil no primeiro mandato de Lula, José Dirceu “é quem tem se movimentado com mais desenvoltura pelos círculos de poder de Brasília”, registrou O Globo no dia 12.

“Em setembro, por exemplo, participou de jantar de um grupo de advogados em apoio à indicação do ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Com o filho, o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), como líder da bancada do partido na Câmara, também tem ido a eventos políticos, a exemplo do que reuniu deputados da sigla, ministros e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em um restaurante de Brasília no início do ano.

Sua articulação, contudo, não se limita a aliados do governo. Ele ainda mantém diálogo frequente, por exemplo, com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, principal partido de oposição a Lula. Hoje em lados opostos, Dirceu e Valdemar dividiram cela no complexo da Papuda, em Brasília, após serem condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2012, no esquema de compra de apoio parlamentar.”

Em conversas com blogueiros camaradas, Dirceu vinha dizendo que pretende participar ativamente dos acordos do PT e de partidos aliados nas eleições municipais.

No dia 16, o Radar da Veja registrou que o ex-ministro se encontrou com Guilherme Boulos na semana anterior e que agora vai morar em São Paulo, querendo estar presente na campanha do deputado federal do PSOL, apoiado pelo PT, à Prefeitura. “Boulos está muito firme e preparado”, disse o arquiteto dos esquemas petistas.

Coração financeiro do Brasil, a capital paulista, claro, está mais na mira do que nunca.

  1. QUEIROZ QUER BOQUINHA

Já Fabrício Queiroz encontrou um ombro amigo em Alexandre Santini, o ex-sócio do atual senador Flávio Bolsonaro na loja de chocolates apontada pelo MP-RJ como local de lavagem de dinheiro do esquema de peculato conhecido como “rachadinha”.

Ambos vêm mandando recados à família do ex-presidente e agora trocam áudios, como revelou Rodrigo Rangel no Metrópoles.

Queiroz se sente tratado como um “leproso, mano, leproso”: “fiquei hiper conhecido, e não tenho apoio não, mano. Não adianta dar dinheiro, dinheiro não resolve, entendeu? Pô, tem que dar moral! Uma posição para trabalhar, para encaixar meus filhos. Se você tem noção, meus filhos estão todos desempregados e tudo eu que banco aqui. Não dá valor, eu sei, a fogueira que tu pulou aí… Eu sei que você, cara, se acontecesse com você o que aconteceu comigo, você bancava até o final também, que tu é homem. Estamos juntos, saudade de você, cara! Vindo aqui no Rio, faz contato.”

Como mostram os trechos grifados, Queiroz quer boquinha para si e seus filhos, e se vangloria como machão por ter permanecido caladinho nos momentos difíceis. Ele acha, portanto, que merece um tratamento melhor por parte dos Bolsonaro (“tá todo mundo arrumadinho, irmão, todo mundo arrumado”) – mais ou menos como o que Lula oferece aos operadores veteranos do PT.

“Você sabe que informação é o que eu mais tenho!”, ameaça o ex-assessor.

  1. REPRISE ETERNA

Assim como o filme de Scorsese, os bons companheiros de Lula e Bolsonaro são para sempre. E nada ilustra melhor que essa gente o buraco em que o Brasil se meteu.

Linha do tempo: Bolsonaro, Queiroz e dinheiro vivo

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