Sobre homens e instituições
Sergio Moro ainda não digeriu a ideia de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, pois a avalia como uma derrota para quem vislumbrava a Presidência da República. Alguns de seus interlocutores preferem que ele abandone tudo e volte para os Estados Unidos. É o que o sistema quer. Depois de mastigá-lo bem, cuspi-lo no lixo da história...
Sergio Moro ainda não digeriu a ideia de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, pois a avalia como uma derrota para quem vislumbrava a Presidência da República. Alguns de seus interlocutores preferem que ele abandone tudo e volte para os Estados Unidos. É o que o sistema quer. Depois de mastigá-lo bem, cuspi-lo no lixo da história.
Fui bastante criticado há dois meses, tanto por Moro como por seus seguidores, quando escrevi sobre a necessidade de se considerar uma candidatura a deputado federal, caso ele não alcançasse os 15% nas pesquisas.
Mas já era perceptível, naquele momento, a estagnação (e até um recuo) nas intenções de voto, assim como a recuperação de Jair Bolsonaro, consolidando o cenário de polarização com Lula. Parecia evidente que o Podemos não estava trabalhando como deveria para impulsionar seu candidato e que, na União Brasil, havia resistência a Moro, apesar do convite de Luciano Bivar.
Na política, não devemos ter ilusões. Afinal, como ser candidato antissistema se precisa do sistema para ser candidato? Sugiro começar aproveitando as brechas desse mesmo sistema.
Moro pode ser eleito facilmente deputado federal por São Paulo com 3 milhões de votos, fincando um pé no sistema e entrando para a história. Na companhia de Deltan Dallagnol e de outros eleitos, pode plantar a semente de uma mudança estrutural, que germinará com apoio da imprensa independente e de cidadãos lúcidos.
Na ‘Casa do Povo’, o ex-ministro teria uma chance real de influenciar a tomada de decisões, conheceria os meandros da política, exerceria o papel de fiscal do poder público e ainda teria a liberdade de denunciar abusos institucionais. Poderia ajudar a recobrar a confiança do eleitor na política e construir as pontes necessárias para um projeto presidencial dentro de alguns anos.
É isso ou desaparecer e voltar ao debate a cada quatro anos, como Marina Silva ou Joaquim Barbosa.
Prefiro o exemplo de Ulysses Guimarães, pai da Constituinte e um dos grandes nomes da política brasileira. Nunca foi presidente da República, mas dignificou o mandato de deputado federal — também tomou suas rasteiras. Jair Bolsonaro e Lula, por outro lado, emporcalharam a Presidência, cada um à sua maneira. Os exemplos abundam nas cúpulas dos Três Poderes.
Se falta grandeza às instituições, é por causa da baixíssima estatura moral dos homens que as ocupam.
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