ACM Neto sempre foi contra a filiação de Sergio Moro e seus motivos são conhecidos por todos. O principal deles chama-se Lula. Quem ainda não entendeu o que está acontecendo na Bahia também não entendeu o que está acontecendo no Brasil. 

O petista não quer só vencer em outubro, ele quer vencer com amplo apoio popular para governar sem amarras. Na Bahia, sacrificou o aliado Jaques Wagner para apoiar o ex-prefeito de Salvador — DEM, União Brasil, nada disso importa.

Lula sabe que, fechado com Neto, terá uma vitória arrasadora no principal estado do Nordeste. O baiano, por sua vez, não tem dúvidas de que apoio do ex-presidente lhe garante vantagem de sobra para seguir os passos do avô.

Essas duas vitórias eleitorais, caso confirmadas, criarão uma situação bastante favorável para Neto, que, como escrevi em fevereiro, terá o controle do principal estado do Nordeste e será interlocutor privilegiado de Lula na União Brasil, que deve eleger umas das maiores bancadas da Câmara.

Na prática, ele terá o poder de direcionar bilhões em emendas parlamentares (secretas ou não) com aval do Planalto lulista. Isso significa mais poder político dentro de sua própria legenda, ameaçando o comando de Luciano Bivar.

O pernambucano sabe disso e viu em Moro um trunfo para tentar bloquear o plano baiano, caso consiga transformar o ex-juiz em presidente da República. De quebra, ainda se vingaria de Jair Bolsonaro, que o traiu logo após a vitória de 2018.

O projeto presidencial de Moro, portanto, é uma pedra no caminho político de Neto, que também sonha com a Presidência em 2026. É provável que, neste momento, ele esteja sentindo a barba do Barba no cangote, convencendo-se de que impugnar a filiação do ex-ministro é a forma mais rápida de limpar o terreno.

Mas Bivar foi quem abonou a filiação de Moro e não tem mais idade para levar desaforo para casa. Qualquer passo em falso pode levar à implosão da recém-criada União Brasil, com consequências imprevisíveis para os objetivos eleitorais de todos.