Prisão de Braga Netto: ainda bem que não tem guerra no Brasil

13.02.2025

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Prisão de Braga Netto: ainda bem que não tem guerra no Brasil

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Madeleine Lacsko
4 minutos de leitura 16.12.2024 21:55 comentários
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Prisão de Braga Netto: ainda bem que não tem guerra no Brasil

Porque, se dependêssemos de quem está no centro dessa história, estaríamos em apuros.

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Prisão de Braga Netto: ainda bem que não tem guerra no Brasil
Arte: O Antagonista

Diante de tudo o que envolve a prisão de Braga Netto, precisamos agradecer que não temos guerra no Brasil. Porque, com o nível de amadorismo demonstrado por algumas das figuras envolvidas nos últimos acontecimentos, talvez nem uma chácara fosse defendida, quem dirá um país continental como o nosso. A prisão preventiva do general Braga Netto é mais um capítulo da nossa história recente que mistura incompetência, falta de planejamento e uma pitada generosa de maluquice.

Comecemos pelo lado dos supostos golpistas. Estamos falando de generais trocando mensagens de WhatsApp como se estivessem discutindo uma reunião de condomínio. É de envergonhar qualquer pessoa que conheça minimamente a formação militar. Enquanto criminosos de pequeno porte já usam aplicativos criptografados que destroem provas automaticamente, esses senhores estavam rabiscando planos à mão e deixando pelo caminho. O que se esperava que fosse uma tentativa organizada de golpe mais parecia um trabalho em grupo mal executado. De repente, desistiram. Por quê? Ninguém sabe ao certo.

E do outro lado? Temos uma investigação que já se arrasta por dois anos. Dois anos desde o dia 8 de janeiro e as autoridades ainda não conseguiram concluir o que aconteceu, prender os responsáveis ou sequer montar uma narrativa sólida. Enquanto isso, muitos dos envolvidos continuam agindo politicamente. Se realmente são culpados, podemos presumir que tenham o poder de sumir com provas e operar nos bastidores. Como é possível que uma tentativa de golpe de Estado, um dos crimes mais graves que pode ocorrer em uma democracia, demore tanto para ter desfecho? Essa lentidão só reforça a sensação de incompetência generalizada.

A prisão preventiva de Braga Netto é um reflexo direto disso. Segundo a Polícia Federal, ele estaria obstruindo as investigações. Mas onde estão as evidências? A alegação principal é que ele teria participado de uma reunião onde perguntou sobre a delação de Mauro Cid. Perguntar virou obstrução? Ele perguntou por medo de ter sido citado ou porque estava planejando algo? Essa diferença não é apenas semântica, é crucial para justificar uma prisão preventiva. O problema é que essa diferença não está demonstrada. Tudo se baseia em suposições. E quando uma prisão é decretada sem provas concretas de obstrução, ficamos diante de um precedente perigoso.

Aqui entra a questão central: se essa regra vale hoje, quem garante que amanhã ela não será usada contra qualquer um? Uma prisão preventiva, sem materialidade clara, aplicada a um general de quatro estrelas, é algo que deveria fazer qualquer pessoa pensar. Não se trata de defender Braga Netto, mas de questionar os critérios. O Brasil, como sempre, parece preferir resolver seus problemas com soluções apressadas e autoritárias. Tentamos consertar autoritarismo com truculência, incompetência com maluquice, e a história sempre termina da mesma forma: não dá certo.

A sociedade, por sua vez, também não parece interessada em debater o tema com seriedade. De um lado, vemos aqueles que comemoram a prisão sem entender as implicações. De outro, os que precisam xingar alguém. Acaba sobrando até para o Exército, como se fosse o responsável por tudo: por não dar o golpe, por tramar o golpe, por deixar Braga Netto ir preso ou por não ter prendido antes o general. E há também os que acham que esta prisão preventiva é plenamente válida, sem se preocupar em analisar o que ela realmente representa. No meio disso, a polarização avança e o debate público perde a profundidade que o momento exige.

Até o presidente Lula, inimigo figadal de Bolsonaro, tratou o assunto com ponderação, falou em presunção de inocência. Isso só reforça o quadro de incerteza em que nos encontramos. Estamos cercados por incompetência por todos os lados, desde os supostos golpistas, passando pelas instituições encarregadas de investigá-los, até a própria condução do debate público.

E aí voltamos à reflexão inicial: ainda bem que não temos guerra no Brasil. Porque, se dependêssemos de quem está no centro dessa história, estaríamos em apuros. Quer dizer, já estamos em apuros, mas sempre pode piorar.

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