Por favor, alguém mande a minha conta para a PGR
A pandemia de Covid não será o principal tema da campanha eleitoral, mas terá um peso maior do que se imaginava até o final do ano passado, visto que ela continua ceifando vidas, só não ainda mais por causa da vacinação em massa. Ruim para Jair Bolsonaro (foto), evidentemente, cujo negacionismo e falta de empatia com o sofrimento dos doentes e das suas famílias lhe serão vidraças...
A pandemia de Covid não será o principal tema da campanha eleitoral, mas terá um peso maior do que se imaginava até o final do ano passado, visto que ela continua ceifando vidas, só não ainda mais por causa da vacinação em massa. Ruim para Jair Bolsonaro (foto), evidentemente, cujo negacionismo e falta de empatia com o sofrimento dos doentes e das suas famílias lhe serão vidraças.
Quantas mortes por Covid poderiam ser atribuídas ao presidente da República? De acordo com a PGR, que já pediu o arquivamento de praticamente todas as acusações que a CPI imputa ao inquilino do Planalto, nenhuma, como se viu ontem. Mas isso não é verdade, obviamente. Jair Bolsonaro aglomerou pessoas, foi contra as medidas restritivas impostas pelos governadores, ironizou o uso de máscara, fez propaganda de remédios ineficazes contra a doença, atrasou a compra de vacinas — e, assim, serviu ao vírus, ao invés de servir aos cidadãos.
Diante dos pedidos de arquivamento da PGR, resolvi fazer uma conta comparativa de padeiro-jornalista. Se pegarmos os dados do Our World on Data, o Brasil tem 2.966 mortos por Covid por milhão de habitantes, o que nos coloca na 13ª posição entre os países com mais alta taxa de mortalidade pela doença. Em entrevista ao programa Roda Viva, em janeiro, o historiador Niall Ferguson relativizou o número de mortes por aqui, afirmando que “o que causou o excesso de mortalidade no Brasil não foi muito diferente do que causou isso no Peru e em outros países da região”. Como o Peru é o país do mundo onde a Covid mais matou proporcionalmente, o único latino-americano que está à nossa frente no ranking macabro, e com uma estatística completamente fora da curva no subcontinente, já que apresenta 6.204 mortes por milhão de habitantes, descartei-o para fazer a minha comparação. Escolhi a vizinha Argentina, que vem imediatamente depois do Brasil e está no mesmo pelotão.
Com 2.690 mortes por milhão de habitantes, os argentinos tiveram, até o momento, 276 mortes a menos por milhão de habitantes do que os brasileiros. Se multiplicarmos essa diferença por 212 (a população do Brasil é de 212 milhões de habitantes), isso significa que poderíamos ter tido 58.512 mortes a menos por Covid, se o negacionismo não tivesse sido quase política federal por aqui. E olhe que a Argentina não é exatamente um exemplo em matéria de política sanitária durante a pandemia — para se ter ideia, a vacina utilizada no início foi principalmente a russa. Na comparação com outra nação latino-americana, o México, que tem população quase três vezes maior do que a da Argentina e 2.376 mortes de vítimas da doença por milhão de habitantes, poderíamos ter tido 125.080 óbitos a menos. E olhe que o México vacinou muito menos que o Brasil — 62% contra 80%.
Tanto argentinos quanto mexicanos contam com renda per capita superior à dos brasileiros, cerca de um quarto a mais, o que poderia ser argumento para bolsonaristas dizerem que a comparação não procede, dada a diferença socioeconômica entre aqueles países e o nosso. Está bem, façamos um exercício e diminuamos, então, em um quarto o número de mortes por Covid que poderiam ter sido evitadas no Brasil. Na comparação com a Argentina, isso resultaria em 43.884 mortes a menos; na comparação com o México, em 93.810 menos óbitos.
Fiquemos assim: não fosse o comportamento de Jair Bolsonaro, entre 43.884 e 93.810 brasileiros poderiam ter sobrevivido à Covid. Alguém mande a minha conta para a PGR, por favor. O padeiro-jornalista pelo menos fez uma.
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