O risco Doria, o risco Leite e a sintonia da Terceira Via
Num debate realizado nesta sexta-feira, Sergio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB) e Luiz Felipe D'Ávila (Novo) proclamaram mais uma vez a intenção de unir suas candidaturas - um pouco à frente. Tão importante quanto essa promessa, no entanto, foi a sintonia que eles mostraram em temas políticos e econômicos, como a necessidade de uma ampla reforma do estado, ou de estabilidade e segurança jurídica para que haja desenvolvimento. Apareceram os contornos de um programa em comum, mostrando que a Terceira Via não é apenas contra o lulismo e o bolsonarismo, mas tem substância própria. Isso torna ainda mais desoladora a ideia de que uma candidatura única e competitiva tenha o seu nascimento abortado...
Nesta sexta-feira, Sergio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB) e Luiz Felipe D’Ávila (Novo) proclamaram mais uma vez a intenção de unir suas candidaturas – um pouco à frente. Tão importante quanto essa promessa, no entanto, foi a sintonia que eles mostraram em temas políticos e econômicos, como a necessidade de uma ampla reforma do estado, ou de estabilidade e segurança jurídica para que haja desenvolvimento. Apareceram ali os contornos de um programa em comum, mostrando que a Terceira Via não é apenas contra o lulismo e o bolsonarismo, mas tem substância própria. Isso torna ainda mais desoladora a ideia de que uma candidatura única e competitiva tenha o seu nascimento abortado.
Pode parecer estranho, mas neste momento as pretensões políticas de Eduardo Leite talvez representem o maior risco para a consolidação da Terceira Via. Ele está prestes a deixar o PSDB e ingressar no PSD, de Gilberto Kassab, para ser candidato à presidência. Como revelou O Antagonista nesta sexta-feira, um tucano experiente o alertou sobre as consequências: “Se você for para o Kassab, vai acabar no colo do Lula.” O tucano se refere ao fato de que o PSD apoiará Lula em um eventual segundo turno e num eventual governo.
Na verdade, algo mais que o futuro político de Eduardo Leite está em jogo. Se for para o PSD, ele poderá servir aos interesses de Lula e Jair Bolsonaro no primeiro turno das eleições. Kassab só deseja ter um candidato à presidência em seu partido porque acredita que isso vai facilitar a eleição de deputados federais – lembremos que a divisão do fundo partidário está ligada ao tamanho das bancadas na Câmara. Ter candidatura própria significa, na verdade, poder aderir ao lulismo ou ao bolsonarismo, conforme as conveniências regionais.
Kassab não dará palanque a Eduardo Leite se ele não contribuir com essa estratégia, ou seja, se ele não topar ficar na disputa até o final do primeiro turno. Nada de se engraçar com essa turma da Terceira Via. Assim, a menos que dispare e se torne ele mesmo a principal alternativa, cada voto que Leite receber será um voto em favor de um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. O gaúcho se tornará “o velho político mais jovem do Brasil” – como já vêm dizendo alguns de seus críticos dentro do PSDB.
E do PSDB vem a segunda ameaça para a Terceira Via: a candidatura de João Doria. As chances de que ela dê certo são ínfimas, como Diogo Mainardi já observou neste sábado. Em outras ocasiões, Doria disse que está disposto a compor com os demais candidatos de centro e centro-direita. Mas sua obstinação – ou vaidade, ou otimismo irracional, chame como quiser – sempre deixa no ar uma dúvida. Será mesmo?
A situação entre os tucanos, no entanto, é diferente daquela que existe no PSD. A cada nova pesquisa com altos índices de rejeição, os candidatos do partido espalhados pelo país se tornam mais refratários a ter de subir em palanques com Doria. Daí pode vir a pressão necessária para que ele desista de ser um presidenciável e use sua energia para apoiar alguém com mais chances de romper a polarização entre Lula e Bolsonaro.
No encontro desta sexta-feira, Moro, Tebet e D’Ávila concordaram que o momento de caminhar juntos ainda não chegou. Eles provavelmente estão certos. É preciso deixar que cada um tenha a oportunidade de “conquistar o coração do eleitor”, como disse Tebet. É também necessário deixar que os partidos concluam os seus planos regionais e de formação de bancada – o fato é que para a maioria das legendas, isso tem mais importância do que a disputa pela presidência.
Para a vida do eleitor, no entanto, a escolha do ocupante do Planalto tem um peso inigualável. Por isso, dá para aguardar um pouco, mas não reduzir a pressão para que os partidos e os candidatos que podem viabilizar ou aniquilar a Terceira Via assumam sua responsabilidade.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)