Maduro quer anexar a Guiana, e isso não é metáfora nem piada Maduro quer anexar a Guiana, e isso não é metáfora nem piada
O Antagonista

Maduro quer anexar a Guiana, e isso não é metáfora nem piada

avatar
Madeleine Lacsko
4 minutos de leitura 24.10.2023 19:05 comentários
Narrativas Antagonista

Maduro quer anexar a Guiana, e isso não é metáfora nem piada

Eu demorei quase um dia todo para aceitar que isso é uma notícia e não uma teoria conspiratória. Cá para nós, eu preferia que fosse conspiração a ser uma realidade bizarra demais...

avatar
Madeleine Lacsko
4 minutos de leitura 24.10.2023 19:05 comentários 0
Maduro quer anexar a Guiana, e isso não é metáfora nem piada
Arte: O Antagonista

Eu demorei quase um dia todo para aceitar que isso é uma notícia e não uma teoria conspiratória. Cá para nós, eu preferia que fosse conspiração a ser uma realidade bizarra demais. O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, quer anexar 70% do território da Guiana. Seria cômico se não fosse trágico, como diz o clichê.

“Cumprimentamos com grande satisfação as autoridades do Conselho Nacional Eleitoral pela aprovação das cinco perguntas que serão feitas aos venezuelanos no Referendo Consultivo em defesa da Guiana Essequiba. Vamos defender o Território Esequibo! Em 3 de dezembro, todos devem votar cinco vezes “Sim”. #3Dic #5VecesSí”, diz o tweet.

Para chegar à história do referendo, precisamos recuar alguns séculos. Isso mesmo, séculos.

Essa disputa começa em 1648, ainda na colonização espanhola. Os franceses haviam ocupado a região e a Coroa Espanhola reivindicava a posse. A Venezuela surge em 1811 e, em 1814, a soberania sobre o território da Guiana passa a ser do Reino Unido. A briga prosseguiu juridicamente e, em 1899, uma sentença num tribunal arbitral de Paris garantiu a soberania dos britânicos.

Em 1962, o governo da Venezuela entrou na ONU pedindo a soberania sobre esse território. Logo depois, em 1966, a Guiana se tornou independente e esse processo ficou de certa forma suspenso. Durante o governo de Hugo Chávez, perdeu-se o interesse e o processo chegou a ser arquivado.

Ocorre que, em 2015, a Exxon Mobile descobriu uma grande fonte de petróleo nesse território. É a área próxima à daquela disputa brasileira por poder ou não explorar petróleo na foz do Amazonas.

Nessa época, o Tribunal Penal Internacional decretou ter jurisdição para arbitrar sobre a questão. Não foi tomada uma decisão final ainda, mas a Venezuela sofreu um revés. Pediu que os argumentos da Guiana fossem desconsiderados e sofreu uma derrota de 14 x 1.

O que mudou agora? A Venezuela decidiu que fará um referendo consultivo sobre a anexação do território da Guiana Essequiba no dia 3 de dezembro.

Esse referendo não significa que a decisão do povo será levada adiante. Além disso, pela postagem de Nicolás Maduro, fica claro que o ditador quer apenas uma legitimação para aquilo que já decidiu fazer, anexar. Não se sabe exatamente de que forma ele faria isso, nem o referendo deixa claro.

É uma movimentação preocupante que vem cavalgando em duas narrativas que se tornaram comuns no bloco geopolítico que tem se alinhado a Rússia e China.

A primeira narrativa é a de relevar e justificar invasões territoriais às custas de alvos civis. Vimos isso claramente na invasão da Ucrânia pela Rússia e, agora, na invasão de Israel por terroristas do Hamas. A narrativa é a de tentar equiparar invasão territorial a declaração de guerra e buscar justificativas para quem invadiu.

No caso da Ucrânia, é a proximidade com a Otan. No caso de Israel, é a ocupação de territórios palestinos nas últimas décadas. O eixo formado por Rússia, China e Irã — nossos próximos companheiros de Bricstão —- não tem pudores ao defender a invasão.

Outros países alinhados, no entanto, terão problemas se seus governantes forem tão claros. Então optam por dizer narrativas. A primeira é justificar a invasão, como se fosse inevitável. A segunda é dizer que a paz só virá quando os dois cessarem a violência, como se um invasor topasse algo do tipo. Também tentam colar a história de reação desproporcional à invasão.

Além da justificativa de invasões, há um outro argumento de narrativas pairando no ar: a tentativa de desacreditar o Tribunal Penal Internacional.

Isso já foi feito claramente na questão da ordem de prisão de Vladimir Putin por genocídio, emitida pelo TPI. A China, por exemplo, fala claramente. Recebeu o ditador russo em Pequim esses dias dizendo claramente que ele é um grande amigo. Outros países, que estão no sistema do TPI, não podem ser tão claros, então desconversam.

A narrativa para desconversar é fingir que estão questionando o TPI somente naquele tema específico ou então dar uma de louco, fingir que nem sabe do que se trata o tribunal mesmo depois de recorrer a ele.

O caso da Venezuela é feito sob medida para as duas narrativas, a justificativa de invadir território e a contestação sobre a jurisdição do TPI. Resta saber quais serão as atitudes efetivas caso Nicolás Maduro queira levar adiante de verdade a anexação de 70% do território da Guiana.

 

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Justiça eleitoral forma maioria para cassar mandato de Zambelli

Visualizar notícia
2

Mendonça vira voto vencido em recurso de Bolsonaro contra Moraes

Visualizar notícia
3

Esposa de Dino é secretária de deputado, cuja mulher foi assessora de Dino

Visualizar notícia
4

Crusoé: Os interesses conflitantes expostos pela internação de Lula

Visualizar notícia
5

Transparência Internacional reage a decisão de Toffoli baseada em fake news

Visualizar notícia
6

Crusoé: Deputado aciona PGR sobre “wokeduto da Petrobras”

Visualizar notícia
7

Governador do Maranhão desafia Moraes e nomeia irmão para secretaria

Visualizar notícia
8

Meta: “Nenhuma grande democracia” tem regime sugerido por STF

Visualizar notícia
9

“Não há como” governo Lula impedir uso de Bolsa Família em bets, diz AGU

Visualizar notícia
10

STF condena Roberto Jefferson a 9 anos de prisão

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Lula, empresários fraternos e bilhões sob conflito de interesses

Visualizar notícia
2

Golpes em pagamentos por aproximação: Saiba como evitar

Visualizar notícia
3

Assessor de Braga Netto também é alvo de operação da PF

Visualizar notícia
4

Confira agora os golpes mais comuns nas compras de Natal e saiba como evitar

Visualizar notícia
5

Moraes multa Marcos do Val por discurso repostado por terceiro

Visualizar notícia
6

Calendário de pagamentos do Pis/Pasep 14/12: Valores e possíveis mudanças

Visualizar notícia
7

Pablo Marçal, Boninho e Jojo Todynho: o que acontece no SBT?

Visualizar notícia
8

Leonardo Barreto na Crusoé: Derretimento institucional na prática

Visualizar notícia
9

Você tem que conhecer este Dorama que mistura mistério e ação

Visualizar notícia
10

PF prende Braga Netto em investigação sobre tentativa de golpe

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Guiana Narrativas Antagonista Nicolás Maduro Venezuela
< Notícia Anterior

Dólar e juros recuam com mercado externo mais tranquilo

24.10.2023 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

O sinal verde de Pacheco para a pauta econômica de Haddad

24.10.2023 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Madeleine Lacsko

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Leonardo Barreto na Crusoé: Derretimento institucional na prática

Leonardo Barreto na Crusoé: Derretimento institucional na prática

Visualizar notícia
Amor, o que você quer de Natal? Uma vaga vitalícia no Tribunal de Contas

Amor, o que você quer de Natal? Uma vaga vitalícia no Tribunal de Contas

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Crusoé: O olhar parcial do Itamaraty ataca novamente no Oriente Médio

Crusoé: O olhar parcial do Itamaraty ataca novamente no Oriente Médio

Duda Teixeira Visualizar notícia
A direita que a esquerda gosta está babando para derrubar Caiado

A direita que a esquerda gosta está babando para derrubar Caiado

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.