Israel, os Estados Unidos e o filme 'Ben Hur' Israel, os Estados Unidos e o filme 'Ben Hur'
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Israel, os Estados Unidos e o filme ‘Ben Hur’

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Carlos Graieb
5 minutos de leitura 12.11.2023 12:51 comentários
Opinião

Israel, os Estados Unidos e o filme ‘Ben Hur’

Um amigo judeu, professor dos meus filhos, usou o filme Ben Hur para descrever o momento atual nas relações entre Israel e os Estados Unidos. Vou pedir que você me acompanhe até o final do texto para entender do que se trata...

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Israel, os Estados Unidos e o filme ‘Ben Hur’
Foto: Reprodução/X/Benjamin Netanyahu

Um amigo judeu, professor dos meus filhos, usou o filme Ben Hur para descrever o momento atual nas relações entre Israel e os Estados Unidos. Vou pedir que você me acompanhe até o final do texto para entender do que se trata.

Os Estados Unidos são parceiros incondicionais de Israel na guerra contra o Hamas. O governo de Joe Biden entende que, depois do 7 de Outubro, neutralizar completamente o grupo terrorista tornou-se um imperativo existencial para os israelenses. Qualquer resultado diferente seria um incentivo para outros fundamentalistas islâmicos da vizinhança, que, como o Hamas, sonham em varrer o Estado judeu do mapa. 

Antony Blinken, o secretário de Estado americano, tem reiterado pedidos para que Israel multiplique os cuidados com civis. Essas falas, no entanto, não trazem uma condenação embutida, como a do primeiro-ministro francês Emmanuel Macron, que disse “não haver justificativa para bombardeios que matam civis em Gaza”.

Os Estados Unidos não insistem num cessar-fogo que traria benefícios ao Hamas, mas não aos civis de Gaza, ao contrário das pausas humanitárias já implementadas por Israel. Antes do início da guerra, segundo pesquisas do Arab Barometer que O Antagonista já comentou, a maioria da população de Gaza não confia no Hamas. Nos seus quase 20 anos de domínio, o grupo roubou centenas de milhões de dólares de recursos dos civis para construir seus túneis e sua capacidade de matar e destruir. A rapina não seria diferente em um cessar-fogo. 

O ponto onde os Estados Unidos e Israel se distanciam é na visão sobre o pós-guerra. Num encontro com o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida, na terça-feira, 7, Blinken disse que é “necessário trabalhar nos elementos afirmativos de uma paz continuada, incluindo as vozes e aspirações do povo palestino sobre a governança em Gaza”. Ele foi explícito a respeito daquilo que a receita deveria incluir: uma Gaza unificada com a Cisjordânia, sob a administração da Autoridade Palestina. 

Netanyahu não se comprometeu com isso até agora. Pelo contrário, disse que depois da guerra Israel fará o policiamento da Faixa de Gaza por um período indefinido. E o que dizem os políticos “centristas”, que antes do 7 de Outubro lideravam a oposição a Netanyahu? Nada muito diferente. O moderado Benny Gantz, chamado a integrar o gabinete de guerra de Israel, afirmou nesta semana que somente depois que todas as questões de segurança estejam resolvidas será possível discutir “um mecanismo para Gaza”

Esse é o estado de espírito dos israelenses, num momento em que a memória dos atentados terroristas ainda é sangrenta. A pesquisa Peace Index é realizada há cerca de 30 anos pela Universidade de Tel Aviv. A sondagem mais recente foi feita entre os dias 23 e 28 de outubro, ouvindo judeus e árabes israelenses, e os resultados acabam de ser divulgados. Entre os judeus, a descrença em processos de negociação disparou: 59,5% acreditam que elas não conduzirão à paz nos próximos anos. Além disso, 47%  se opõem com vigor a qualquer conversa com a Autoridade Palestina, a entidade que governa a Cisjordânia, enquanto apenas 24,5% aceitam a ideia em alguma medida. Os números se inverteram em relação a setembro, logo antes dos atentados. 

Não se deve concluir daí que Netanyahu e sua coalizão representam o caminho que Israel pretende seguir, uma vez que o Hamas tenha sido derrotado. 

Como todos os países, Israel tem sua cota de extremistas.  Eles estão bem representados no gabinete de Netanyahu. São políticos como Itamar Bem-Gvir, Amichai Eliahu e Bezalel Smotrich, que pertencem ao Otzma Yehudit (os dois primeiros) ou ao Partido Religioso Zionista (o último). Essas legendas abraçam ideais supremacistas, teocráticos, reacionários. 

Uma semana atrás, Amichai Eliahu causou ultraje ao dizer que a opção de lançar uma bomba atômica sobre a Faixa de Gaza não deveria ser descartada. Mais tarde, ele alegou que sua frase era “metafórica”. Netanyahu o repreendeu e, literalmente, o pôs de castigo, suspendendo sua presença em reuniões ministeriais. Mas não pode demiti-lo, porque sem o Otzma Yehudit seu governo tenderia a desabar.  

Tanto o primeiro-ministro quanto o seu governo foram desaprovados no Peace Index: 55,8% dos israelenses (judeus e árabes) disseram que o Netanyahu é ineficiente, ao passo que 57,5% têm essa opinião sobre o governo como um todo. Para a maioria dos analistas, é improvável que o grupo continue no poder uma vez encerrada a primeira e mais aguda fase da investida contra o Hamas. Não haverá perdão para o fato de eles estarem ao volante quando a matança do 7 de Outubro aconteceu. 

E depois? Essa é a questão que os Estados Unidos insistem que as autoridades de Israel respondam.

Quando o Peace Index perguntou aos israelenses qual solução para a questão palestina eles acreditam ter a maior chance de implementação no futuro próximo, a maioria (42,4%) disse que seria a manutenção da situação atual. 

Biden e Blinken já deixaram claro que não gostam dessa resposta. Eles querem um avanço na chamada “solução de dois Estados”, para que a guerra não resulte apenas na derrota do Hamas, mas na derrota da ideia que o grupo representa, equivocadamente, para muitos ocidentais: a de que Israel é um poder que merece ser atacado com violência e terror.

É aí que entram meu amigo e Ben Hur. No filme de 1959, alguém pergunta ao personagem Messala como é possível combater uma ideia. “Com outra ideia”, é a sua resposta.

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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