A ditadura dos caciques e a apatia eleitoral
Dias atrás, escrevi que todas as candidaturas de terceira via (ou centro democrático) não passam de miragem, pois os pré-candidatos não contam com o básico: apoio majoritário dos próprios partidos. Isso vale para Sergio Moro, João Doria, Eduardo Leite, Ciro Gomes, Simone Tebet. Mas esse é o sintoma de um problema mais grave, de fundo...
Dias atrás, escrevi que todas as candidaturas de terceira via (ou centro democrático) não passam de miragem, pois os pré-candidatos não contam com o básico: apoio majoritário dos próprios partidos. Isso vale para Sergio Moro, João Doria, Eduardo Leite, Ciro Gomes, Simone Tebet. Mas esse é o sintoma de um problema mais grave, de fundo… de fundo eleitoral.
Quando a campanhas eram financiadas pela iniciativa privada, cabia aos pré-candidatos passar o chapéu no mercado. Os mais bem-sucedidos geralmente viravam candidatos e impunham seu nome. Quem trazia o dinheiro tinha prerrogativa. Naquele ambiente, o mais importante aos partidos era chegar ao topo da cadeia alimentar da política, elegendo o chefe do Executivo.
Mas como tudo no Brasil dá errado, o financiamento privado virou uma forma de captura do Estado para a fabricação de leis e decretos em benefício de poucos privilegiados, o enriquecimento ilícito de políticos e empresários, e a manutenção de projetos de poder. A Lava Jato expôs tudo isso.
Na ocasião, a reação do Congresso foi proibir o financiamento privado e instituir o público, via fundão eleitoral. Esperava-se com isso reduzir a promiscuidade de nossas excelências. Mas sem regulamentação sobre a aplicação desses recursos, os caciques passaram a ter o poder discricionário sobre quem deve ou não ser eleito… e financiado.
A promiscuidade não cessou, só mudou de formato.
A prioridade agora é eleger uma bancada parlamentar cada vez maior, para acessar uma fatia ainda mais robusta dos fundos públicos e assim por diante, ampliando o poder de barganha com o Executivo num ciclo que retroalimenta o próprio poder dos caciques partidários.
Diante de um presidente fraco como Jair Bolsonaro, o atual Congresso conseguiu ir além e garantiu poder inédito sobre o orçamento, instituindo um vergonhoso sistema de emendas parlamentares secretas, destinadas a alimentar currais eleitorais e esquemas de corrupção paroquiais.
Parece óbvio que dirigentes partidários, de Gilberto Kassab a Renata Abreu, não estão realmente à procura de um nome para presidir o país. Querem atrair quadros apenas para melhorar as chances de mais uma vez ampliar suas bancadas em outubro.
O PSD de Kassab, a propósito, foi o partido que mais se beneficiou do orçamento secreto, seguido do DEM (hoje União Brasil) e MDB.
É bobagem, repito, esperar que os dirigentes dessas legendas produzam uma liderança capaz de romper com os extremos representados por Lula e Jair Bolsonaro — fenômenos eleitorais “auto-explicáveis”.
Só uma sociedade terrivelmente indignada teria poder para mudar essa situação. Inflação e corrupção, dois agentes catalisadores das manifestações do passado recente, estão novamente presentes na vida do brasileiro, que parece vencido pela apatia.
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