Universidades americanas vivem impasse entre busca da verdade e militância política
Nas ciências sociais e humanas, a proporção de professores de esquerda para professores de direita ultrapassa 17 para 1

O desequilíbrio ideológico nas universidades americanas atingiu níveis inéditos.
Nas ciências sociais e humanas, a proporção de professores de esquerda para professores de direita ultrapassa 17 para 1, chegando a 60 para 1 em instituições como a Universidade Brown, segundo estudo publicado pelo economista Mitchell Langbert em 2016. Desde então, a tendência se agravou ainda mais.
Essa homogeneização política, confirmada em estudos recentes, compromete o pluralismo de ideias e transforma o ambiente acadêmico em um espaço cada vez menos aberto ao debate.
A crise se reflete no comportamento dos estudantes.
Levantamento da Foundation for Individual Rights and Expression (FIRE) aponta que 63% dos universitários se sentem pressionados a adotar opiniões alinhadas ao discurso predominante.
Apenas 22% acreditam que suas instituições mantenham neutralidade em temas políticos. A ausência de confronto entre visões opostas fragiliza a formação crítica e gera ambientes propensos à intolerância ideológica.
Jonathan Haidt, psicólogo social da Universidade de Nova York, alerta que universidades precisam escolher entre dois caminhos: buscar a verdade ou adotar a militância social como propósito central.
“Nenhuma universidade pode perseguir simultaneamente a verdade e a militância como objetivos principais”, afirma. Para Haidt, a falta de definição clara sobre a missão institucional corrompe o espírito acadêmico.
A substituição da cultura de debate pela cultura de proteção emocional é outro aspecto da crise. Práticas como “espaços seguros” — áreas onde opiniões controversas são proibidas — e “avisos de gatilho” — alertas prévios sobre conteúdos potencialmente desconfortáveis — se tornaram comuns.
Essas práticas visam “proteger” estudantes de supostos danos emocionais, mas, na avaliação de Haidt, produzem o efeito inverso: limitam a exposição ao contraditório e enfraquecem a capacidade de lidar com diferenças.
O conceito de “antifragilidade”, desenvolvido por Nassim Taleb, ajuda a entender o impacto desse novo ambiente. Assim como ossos e músculos se fortalecem quando submetidos a estresse moderado, mentes humanas amadurecem ao enfrentar ideias desafiadoras.
A superproteção, portanto, não apenas impede o crescimento intelectual, como torna os estudantes mais vulneráveis ao menor desconforto.
Casos recentes evidenciam a gravidade da situação.
Em 2024, a Universidade Columbia registrou a ocupação de prédios administrativos por manifestantes, resultando em confrontos e prisões. O governo dos Estados Unidos, diante da escalada da violência em campi, iniciou o cancelamento de vistos de estudantes estrangeiros envolvidos em atos extremistas.
A repressão ao dissenso também se manifestou no episódio que levou à renúncia de Lawrence Summers da presidência de Harvard, após sugestões acadêmicas sobre diferenças de aptidão em áreas científicas serem tratadas como ofensa inaceitável.
A politização do ensino superior, segundo Haidt, não decorre apenas da defesa de causas sociais, mas da elevação dessas causas a dogmas intocáveis.
A busca pela verdade exige ambientes onde ideias possam ser livremente testadas, confrontadas e, se necessário, refutadas. Sem esse processo, o conhecimento se degrada em ativismo e a universidade perde sua função essencial.
Diante da crise, Haidt propõe que as universidades assumam publicamente sua missão. Para o psicólogo, a transparência sobre o propósito institucional é indispensável para restaurar a confiança pública e preservar o papel das universidades na sociedade democrática.
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