Universidades dos EUA recuam de radicalismo político após pressão

16.05.2025

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Universidades dos EUA recuam de radicalismo político após pressão

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Alexandre Borges
4 minutos de leitura 28.04.2025 05:19 comentários
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Universidades dos EUA recuam de radicalismo político após pressão

Guerra em Gaza expõe racha ideológico e leva reitorias a adotar políticas de neutralidade institucional

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Alexandre Borges
4 minutos de leitura 28.04.2025 05:19 comentários 2
Universidades dos EUA recuam de radicalismo político após pressão
Imagem: IA por Alexandre Borges

Universidades americanas estão recuando de anos de ativismo político e retomando, oficialmente, uma postura que muitos presumiam ainda existir: a neutralidade institucional.

A mudança ganhou força depois da guerra entre Israel e Hamas, iniciada em outubro de 2023. O episódio revelou uma fissura profunda nos campi, com acusações de partidarismo, intimidação ideológica e censura.

Segundo relatório publicado em março de 2025 pela Heterodox Academy (HxA), ao menos 143 instituições de ensino superior nos Estados Unidos declararam compromisso com a neutralidade institucional desde então.

Antes do conflito, apenas oito universidades haviam assumido essa diretriz. “O episódio deixou claro que muitas instituições haviam ultrapassado os limites de sua missão educacional, agindo como atores políticos”, afirma o relatório.

A adesão às novas políticas não veio sem disputa. Em universidades públicas, 68% das resoluções partiram de conselhos administrativos, muitas vezes sob pressão legislativa.

Estados como Utah, Indiana e Carolina do Norte aprovaram leis determinando que universidades mantivessem posição neutra sobre assuntos políticos e sociais.

Já nas instituições privadas, o movimento foi liderado por professores e reitores diante do desgaste interno provocado por manifestações oficiais controversas.

O caso mais citado no relatório é o de departamentos que se pronunciaram contra ou a favor da resposta israelense aos ataques terroristas, gerando acusações de que universidades estavam usando sua autoridade institucional para impor visões políticas sobre alunos e docentes.

“A guerra revelou um problema estrutural: o uso da voz institucional para representar posições que não são consensuais e que, muitas vezes, intimidam a comunidade acadêmica”, diz o documento.

Os dados da HxA mostram que 97% das declarações de neutralidade mencionam “comunidade e inclusão” como justificativa central. Outros 88% destacam a importância da “liberdade acadêmica” e da “confiança pública”.

A organização, que defende a diversidade de pensamento e o dissenso produtivo, considera o movimento um passo necessário para preservar o ambiente universitário como espaço de debate genuíno.

O relatório descreve a mudança como “uma transformação silenciosa, mas estrutural”.

A neutralidade institucional, afirma o texto, não impede que professores, estudantes ou grupos universitários se manifestem, mas garante que a instituição, enquanto entidade, se abstenha de tomar posição sobre temas externos ao seu escopo.

Nos últimos anos, universidades americanas passaram a emitir declarações públicas sobre uma variedade de temas, da política ambiental à pauta racial e à geopolítica.

A expectativa de que as reitorias se posicionassem tornou-se uma prática comum. A ruptura veio quando esse padrão revelou seu custo: brigas internas, perseguições veladas e o esvaziamento da liberdade acadêmica.

Para a Heterodox Academy, o retorno à neutralidade não é um gesto de omissão, mas um resgate da função original das universidades: formar cidadãos capazes de pensar, discordar e defender suas ideias — sem precisar repetir a linha oficial da instituição em que estudam ou lecionam.

Casos marcantes e pesquisas recentes

A politização universitária foi alvo de atenção pública após episódios como o da Universidade de Harvard, onde mais de 30 grupos estudantis assinaram uma carta culpando exclusivamente Israel pelos ataques do Hamas.

A presidência da universidade enfrentou críticas por não condenar imediatamente a declaração dos estudantes, evidenciando a dificuldade de manter uma postura institucional neutra.

Outro caso citado envolve a Universidade da Califórnia em Berkeley, onde nove organizações estudantis proibiram a participação de palestrantes “sionistas” em seus eventos, gerando denúncias de discriminação ideológica e antissemita.

Pesquisas recentes reforçam a tendência. Segundo levantamento do Foundation for Individual Rights and Expression (FIRE), publicado em fevereiro de 2025, 63% dos estudantes afirmam que se sentem pressionados a adotar opiniões alinhadas ao discurso dominante em suas universidades.

O estudo também aponta que apenas 22% dos alunos acreditam que suas instituições são verdadeiramente neutras em temas políticos.

A Heterodox Academy, fundada em 2015, argumenta que a neutralidade institucional é essencial para restaurar a missão das universidades como locais de livre investigação e debate plural.

O relatório conclui que o movimento iniciado após a guerra de Gaza representa uma “reconfiguração estrutural” do papel das instituições de ensino superior em sociedades democráticas.

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Comentários (2)

Ita

28.04.2025 15:22

Isso precisa chegar nas Universidades brasileiras - principalmente as públicas.


Marcia Elizabeth Brunetti

28.04.2025 09:05

Não pensou como os “ liberais” tem que cortar, proibir, cancelar. Quantas contradições essa esquerdalha tem se envolvido. Eu já me sinto vivendo numa ditadura. Enfim, que as universidades brasileiras acompanhem essa ideia Norte americana.


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