O que a Holanda e o Sri Lanka têm em comum? Em princípio, nada. Enquanto os holandeses usufruem de um PIB per capita de US$ 52 mil, no Sri Lanka o valor é menos do que 10% disso. Mais precisamente, US$ 3.700,00.

Eu poderia desfilar aqui diversos dados estatísticos mostrando a diferença abissal entre os dois países, mas prefiro simplificar: a Holanda é rica e o Sri Lanka, pobre.

Acontece que, em 2019, o presidente cingalês (nome que se dá aos naturais da nação asiática), Gotabaya Rajapaksa, decidiu que o país fosse o primeiro do mundo a ter uma agricultura totalmente orgânica.

Entre outras medidas radicais, proibiu a importação de fertilizantes e defensivos agrícolas.

Como não podia deixar de ser, faltaram alimentos no país, que foi obrigado a importá-los, esgotando suas divisas.

Passando fome, a população se revoltou.

Enquanto Rajapaksa fugiu da capital, Colombo, encontrando-se em paradeiro desconhecido, manifestantes ocuparam o palácio presidencial (foto).

Algumas estradas estão bloqueadas por tratores. Os agricultores estão revoltados e protestam nas ruas. Só que agora, vejam bem, estou falando da Holanda.

Com toda a sua riqueza e seu avanço tecnológico, quase um terço das fazendas do país poderá ser extinto em razão das medidas ambientalistas impostas pelo governo holandês.

Com certeza a Holanda não é o Sri Lanka, e sua população não passará fome. Mas o impacto econômico será tremendo, uma vez que o país exporta (ou pelo menos exportava) quase 100 bilhões de dólares em alimentos.

No curto prazo, essas crises poderão até prejudicar o Brasil, já que incrementam a inflação mundial.

Mais adiante, nós, como um dos maiores exportadores de alimentos do planeta, acabaremos sendo beneficiados.

Quanto ao que foi decidido no acordo do clima de Paris, está começando a fazer água. E não é por teorias políticas anacrônicas. É por uma combinação sinistra de fome e inflação.

Ivan Sant’Anna, trader, escritor e colunista na Inv Publicações.

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