Crusoé: mais uma democracia africana em rota de colisão
Uma das principais economias da região, o Senegal adiou suas eleições e agora está ao lado dos vizinhos como possível barril de pólvora
O presidente de Senegal, Macky Sall (foto), no principal cargo do país há 12 anos, anunciou neste final de semana que o país irá adiar indefinidamente as eleições que escolherão seu sucessor. A decisão levou o país a uma onda de protestos e colocou uma das democracias mais estáveis da África em xeque— em um momento em que três países da região já vivem sob regimes de exceção.
A decisão do atual presidente veio em uma estratégia arriscada sua envolvendo Karim Wade, filho de um ex-presidente e um dos 20 candidatos presidenciais nas urnas. Ele, um dos favoritos na disputa, foi impedido de participar pela Justiça por possuir, ao mesmo tempo, cidadanias senegalesa e francesa.
Wade, que é filho de Abdoulaye Wade, antecessor de Macky Sall, chamou a alegação de “escandalosa” e recorreu da decisão, alegando que já renunciou ao seu título francês. A surpresa foi o apoio de Macky Sall ao caso — e, até que a justiça decida o caso de Karim Wade, as eleições estão suspensas e o atual presidente permanece no cargo.
No pronunciamento à nação, Macky Sall declarou que “essas condições conturbadas poderiam prejudicar gravemente” a eleição e que o país terá “um diálogo nacional aberto… para criar as condições para uma eleição livre, transparente e inclusiva em um Senegal pacífico e reconciliado.”
Não parece ter funcionado muito bem: um candidato da oposição acusou o presidente de tentar um golpe. Um ex-prefeito da capital, Dakar, instou os insatisfeitos a irem às ruas, o que causou confrontos com a polícia. A União Africana, principal organização de nações do continente, disse “encorajar vivamente todas as forças políticas e sociais” , para manter o “modelo democrático” senegalês.
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