Ambiguidade sobre Trump teria custado eleição à direita canadense, dizem analistas
Tentativa de conciliar base pró-Trump e eleitorado moderado teria minado apoio ao líder conservador, apontam especialistas

A eleição canadense de 2025 terminou com a vitória minoritária do Partido Liberal, liderado por Mark Carney, que garantiu 169 dos 343 assentos da Câmara dos Comuns.
O Partido Conservador, sob Pierre Poilievre, obteve 144 cadeiras, e seu líder perdeu inclusive seu próprio reduto eleitoral em Carleton, Ontário.
Para analistas conservadores nos Estados Unidos, a derrota de Poilievre está diretamente ligada à maneira como sua campanha respondeu à nova postura dos Estados Unidos sob Donald Trump.
Com a imposição de tarifas comerciais e declarações que sugeriram uma reconfiguração nas relações bilaterais, Trump introduziu uma dinâmica externa inédita na eleição canadense.
Segundo o historiador Victor Davis Hanson, Trump “desencadeou um nacionalismo adormecido no Canadá” ao propor mudanças comerciais e sugerir maior integração entre os países.
Hanson argumenta que, embora o objetivo de Trump tenha sido estabelecer uma relação mais equilibrada e funcional com o Canadá, sua abordagem direta exigia uma resposta política estratégica, o que não teria ocorrido.
O comentarista Dinesh D’Souza criticou a condução da campanha de Poilievre ao afirmar que o líder canadense “se afastou da sua base ao tentar se diferenciar de Trump, fazendo campanha como um Paul Ryan”.
A referência é ao ex-líder do Congresso americano, conhecido por representar um conservadorismo tradicional, de perfil técnico e distante do populismo.
Segundo D’Souza, ao evitar um posicionamento claro sobre Trump, Poilievre perdeu o apoio dos eleitores mais ideológicos da direita, sem conquistar a confiança dos moderados — repetindo, em sua avaliação, o erro que enfraqueceu setores tradicionais do Partido Republicano nos Estados Unidos.
Pesquisas apontam que, embora a maioria da população canadense desaprove Trump, uma parcela expressiva do eleitorado conservador vê o presidente americano com simpatia.
Essa divisão interna teria colocado Poilievre diante de um dilema: confrontar Trump e arriscar a base, ou alinhar-se ao discurso neonacionalista canadense. A tentativa de manter uma posição ambígua foi percebida por analistas como fatal.
Mark Carney, por outro lado, ofereceu uma resposta mais definida.
Ao rejeitar a retórica de anexação e reafirmar o compromisso com a soberania canadense, construiu uma narrativa de competência e defesa nacional.
Economista com passagem pelos bancos centrais do Canadá e do Reino Unido, ele prometeu manter tarifas retaliatórias enquanto buscava diversificar relações comerciais com Europa e Ásia.
Analistas como Hanson e D’Souza convergem na leitura de que a eleição de 2025 revelou a importância de compreender e se posicionar com clareza diante da transformação da relação bilateral com os Estados Unidos.
Para eles, não se tratava de enfrentar Trump, mas de saber lidar com uma nova abordagem diplomática e comercial. A ausência dessa estratégia, segundo essa leitura, foi central para a derrota conservadora.
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