Conflito de gerações no condomínio
Como lidar com idosos e jovens que convivem com visões diferentes de barulho e uso de espaço
Nos condomínios, o encontro entre diferentes gerações com suas vivências, hábitos e expectativas pode ser um campo fértil para desentendimentos.
Idosos desejam mais silêncio e segurança, enquanto jovens tendem a usar os espaços de forma mais ativa e ruidosa, especialmente áreas comuns como salão de festas, academias e piscinas.
Mas até que ponto essas diferenças podem gerar conflitos que desafiam a harmonia condominial?
Segundo o advogado especialista em direito condominial Felipe Faustino, sócio do escritório Faustino e Teles, “a questão geracional precisa ser tratada com inteligência emocional e com normas internas que sejam neutras, equilibradas e voltadas à coletividade, e não para atender a um grupo específico de moradores”.
O artigo 1.336 do Código Civil determina que o condômino deve usar as partes comuns de maneira que não cause incômodo aos demais. No entanto, essa norma pode ser interpretada de formas distintas conforme a sensibilidade de cada geração. O que é “ruído normal” para um adolescente ouvindo música com amigos na área gourmet, pode ser “perturbação da paz” para um morador mais velho no apartamento acima.
Levantamento do Secovi-SP já indicou que barulho é o principal motivo de reclamações nos condomínios brasileiros e boa parte desses atritos tem origem em choques geracionais.
Regras neutras e empatia são fundamentais
O papel do síndico é mediar os interesses de todos. Criar regras que privilegiem um grupo etário em detrimento de outro pode ser interpretado como discriminação. O ideal é que o regimento interno tenha limites claros sobre horários de uso, volume de som, ocupação de áreas comuns e conduta em ambientes coletivos, sem direcionar tais normas a faixas etárias específicas.
“O ideal é envolver os próprios moradores em assembleias e, se possível, promover ações de integração entre gerações”, orienta Felipe Faustino. “É possível construir um espaço de respeito mútuo quando há escuta ativa e diálogo.”
Caminhos para a convivência saudável:
- Revisão do regimento interno: atualize regras para torná-las claras, objetivas e neutras.
- Mediação de conflitos: síndicos e administradoras devem atuar com imparcialidade diante de reclamações.
- Assembleias participativas: ouvir todas as faixas etárias é essencial para criar regras justas.
- Campanhas de convivência: materiais educativos que estimulem empatia e tolerância podem ter grande impacto.
- Horários de silêncio e uso de áreas comuns: definir limites justos que contemplem descanso e lazer.
O condomínio é um recorte da sociedade e, como tal, abriga pessoas com valores distintos.
Promover a convivência pacífica entre gerações exige diálogo, normas bem elaboradas e, acima de tudo, empatia.
O desafio não está em impedir os conflitos, mas em criar um ambiente onde eles sejam resolvidos com respeito e equilíbrio.
Por Rafael Bernardes, CEO do Síndicolab, e Felipe Faustino, advogado no escritório Faustino & Teles
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