Torcidas organizadas se envolvem com a máfia na Itália
Condenações de torcedores radicais expõem ligação perigosa entre torcidas organizadas e crime organizado na Itália.

A relação entre torcidas organizadas e o crime organizado voltou a ganhar destaque na Itália após uma decisão judicial que condenou 16 torcedores radicais da Inter de Milão e do Milan. As sentenças, que variam de dois a dez anos de prisão, foram resultado de uma investigação aprofundada sobre atividades ilícitas envolvendo esses grupos, conhecidos como ultras. O caso revelou conexões preocupantes entre as torcidas e a máfia ‘Ndrangheta, além de esquemas de extorsão e assassinato.
O julgamento ocorreu em um tribunal de alta segurança anexo à prisão de San Vittore, em Milão, e foi conduzido de forma acelerada, sem a presença de testemunhas. A operação que levou à prisão dos envolvidos foi coordenada pelo Ministério Público de Milão em parceria com o Ministério Público Nacional Antimáfia, após meses de monitoramento das atividades dos ultras. O episódio reacendeu o debate sobre a influência de grupos criminosos no futebol italiano e os riscos associados à atuação dessas torcidas organizadas.
Como funcionam as torcidas organizadas e suas ligações com o crime?
As torcidas organizadas, conhecidas no futebolês como ultras, são grupos de torcedores que se destacam pelo apoio intenso aos seus clubes, especialmente em jogos no estádio. No entanto, algumas dessas facções acabam se envolvendo em práticas ilícitas, como venda ilegal de ingressos, extorsão de comerciantes ao redor dos estádios e até participação em crimes mais graves. Segundo as investigações, líderes dessas torcidas atuavam como verdadeiras milícias privadas, exercendo controle sobre áreas estratégicas do entorno do estádio San Siro, compartilhado por Inter e Milan.
Além do envolvimento direto em crimes, as torcidas organizadas também serviam como porta de entrada para a infiltração de organizações mafiosas, como a ‘Ndrangheta, e de grupos extremistas de direita. Essa relação permitia a expansão das atividades criminosas para além do futebol, atingindo setores como tráfico de drogas e esquemas de proteção. A influência desses grupos se estendia não apenas ao ambiente esportivo, mas também a outras áreas da sociedade italiana.
Quais foram as principais condenações e consequências para os clubes?
Entre os condenados, destacam-se nomes conhecidos do universo das torcidas organizadas. Andrea Beretta, ex-líder dos ultras da Inter, recebeu uma pena de dez anos de prisão após confessar o assassinato de Antonio Bellocco, figura importante da máfia ‘Ndrangheta. Já Luca Lucci, histórico líder dos ultras do Milan, foi sentenciado a dez anos de prisão e mais quatro anos de liberdade condicional por associação criminosa e tentativa de homicídio. Ambos os casos evidenciam a gravidade das acusações e o envolvimento direto dos líderes das torcidas em atividades criminosas.
Além das penas de prisão, o juiz determinou o pagamento imediato de indenizações aos clubes Inter e Milan, no valor de 50.000 euros cada, e à Série A italiana, que receberá 20.000 euros. Essas multas refletem o impacto negativo das ações dos ultras na imagem e nas finanças das instituições esportivas. O tribunal também deixou em aberto a possibilidade de novas ações civis para apuração de danos adicionais.
O que este caso revela sobre a relação entre futebol e crime organizado?
O episódio em Milão expõe uma realidade preocupante: a presença de organizações criminosas no futebol não se limita à Itália. Investigações semelhantes já foram realizadas em outros países europeus, como a Grécia, onde autoridades identificaram ligações entre torcedores violentos e gangues criminosas. No contexto italiano, a influência da máfia e de grupos extremistas nas torcidas organizadas representa um desafio constante para as autoridades e para os clubes.
- Venda ilegal de ingressos: Prática comum entre ultras, gera lucros paralelos e prejudica os clubes.
- Extorsão de comerciantes: Barracas de bebidas e estacionamentos próximos aos estádios são alvos frequentes.
- Infiltração mafiosa: Grupos como a ‘Ndrangheta utilizam as torcidas para expandir suas atividades.
- Violência e intimidação: Episódios de agressão e ameaças a rivais e autoridades são recorrentes.
O combate a essas práticas exige uma atuação coordenada entre órgãos de segurança, justiça e as próprias entidades esportivas. O caso dos ultras de Inter e Milan serve como alerta para a necessidade de medidas mais rigorosas no enfrentamento da criminalidade associada ao futebol. A busca por um ambiente mais seguro e transparente nos estádios permanece como um dos principais desafios para o esporte na Itália e em outros países europeus.
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