Gilmar ganhou
Um ano atrás, publiquei a seguinte coluna na Crusoé: “Gilmar Mendes, alguns anos atrás, veio a Veneza. Isso foi bem antes da Lava Jato. Seu recepcionista, Reinaldo Azevedo, telefonou-me para marcar um encontro, porque o ministro, sabe-se lá por qual motivo, tinha o desejo de me conhecer. Com má vontade, aceitei encontrá-lo em frente à igreja da Salute, a mais próxima da minha casa. O encontro foi rápido, nem lhe ofereci um cafezinho...
Um ano atrás, publiquei a seguinte coluna na Crusoé:
“Gilmar Mendes, alguns anos atrás, veio a Veneza. Isso foi bem antes da Lava Jato. Seu recepcionista, Reinaldo Azevedo, telefonou-me para marcar um encontro, porque o ministro, sabe-se lá por qual motivo, tinha o desejo de me conhecer. Com má vontade, aceitei encontrá-lo em frente à igreja da Salute, a mais próxima da minha casa. O encontro foi rápido, nem lhe ofereci um cafezinho. Conversamos de pé, possivelmente sobre a cidade, mas cancelei da memória todos os detalhes daquele dia. Só me lembro que foi dolorosamente aborrecido. Depois de dez minutos, inventei uma mentira, despedi-me e voltei correndo para casa. No ano seguinte, Gilmar Mendes passou novamente por Veneza, e seu recepcionista tentou marcar mais um encontro. Como eu não sou tonto e não caio duas vezes na mesma cilada, ignorei os telefonemas e sumi.
A minha falta de cortesia, claro, foi castigada. Se meu plano era evitar Gilmar Mendes pelo resto da eternidade, pode-se dizer que falhei miseravelmente. Nos últimos anos, passei mais tempo com ele do que com minha mulher. Tive de aturar horas e horas de seus espetáculos grotescos na tela do computador, cuspindo suas imposturas, com sua canastrice desavergonhada. Sou igual a uma gata atingida por uma lata de tinta branca e assediada pelo gambá Pepe Le Pew: por mais que eu o considere repulsivo, por mais que eu tente escapar dele, ele sempre me encontra, com seus trejeitos de Maurice Chevalier e seus HCs malcheirosos.
Em 2022, independentemente de quem seja eleito, a única certeza é que Gilmar Mendes vai ganhar. Ele tem dois candidatos favoritos: Jair Bolsonaro e Lula. Assim como Pepe Le Pew, o dom da ubiquidade permite-lhe estar simultaneamente com um pé – e com uma liminar – de cada lado. Se Sergio Moro se candidatasse, a coisa poderia se complicar. É improvável, porém, que isso ocorra, porque Sergio Moro sabe que, se ele se candidatasse, Gilmar Mendes arrumaria um jeito de impugnar sua candidatura, com a mesma desenvoltura com a qual, nesta semana, anulou os crimes de Lula.
O genial Pepe Le Pew foi aposentado pela Warner, com o argumento de que ele era violento com as gatas. Gilmar Mendes, por sua vez, só será aposentado daqui a dez anos.”
A Crusoé, nesta semana, tem uma excelente reportagem sobre as fazendas de Gilmar Mendes. Bom sábado.
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