No último dia 5 de agosto a pianista Ana Lúcia Altino fez 80 anos de idade. Ana Lúcia, além de pianista, é produtora cultural, criou um festival que já tem 27 anos de existência, é mãe de seis filhos e avó de treze netos.

O que me chama atenção na história dela é a dimensão das atividades que aparentam ser opostas: casamento e maternidade versus a criação artística e a atividade profissional. Ana Lúcia criou orquestras (Orquestra Filarmônica Norte-Nordeste, Orquestra Jovem de Pernambuco, Orquestra de Câmara Solistas de Campinas), encomendou e incentivou a realização de uma grande quantidade de obras musicais, escreveu livros, concebeu e produziu discos (como o memorável A música erudita dos compositores populares pernambucanos, em que foi gravado pela primeira vez o Bolero de Capiba, e a Missa Nordestina de Clovis Pereira foi regravada).

Ana Lúcia Altino nasceu no Recife em 1944. Seu pai transformou o seu segundo nome, Altino, num sobrenome, que viria a identificar o ramo da família. Estudou piano no Recife com as irmãs Cristina e Luciana. Mas só ela levou a atividade profissional às últimas consequências. Graduada pela UFPE, ela estudou na Escola Superior de Música de Detmold com bolsa do governo da Alemanha, onde fez seu primeiro doutorado. No navio a caminho da Europa, conheceu o violinista chileno Rafael Garcia, com quem viria a casar-se.

De volta ao Recife, os dois tocaram na Orquestra Armorial e tiveram um programa na TV Universitária de Pernambuco. Lá, Ana Lucia me contou, filmaram um programa na casa de Gilberto Freyre em Apipucos, em que ele relatou a convivência com Heitor Villa-Lobos e a boemia no Rio de Janeiro.

Infelizmente, a fita não ficou para a posteridade – hoje seria um registro precioso – porque gravaram um jogo de futebol por cima. Essa história é representativa da relação tortuosa do pernambucano com o seu passado.

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