Um papa pediu desculpas, mas Lula, nem pensar
Na semana passada, Lula (foto) reclamou pelo Twitter: “Tem gente que cobra autocrítica. Eu tenho autocrítica, quero sempre melhorar. Mas se eu me criticar, o que quem se opõem a mim vai falar? Eles querem que eu fale bem de mim e que eu fale mal de mim também?” Essa foi a enésima recusa de Lula de reconhecer erros em público. Há um número igualmente grande de exemplos envolvendo outras lideranças do PT. O partido jamais dá o braço a torcer...
Na semana passada, Lula (foto) reclamou pelo Twitter: “Tem gente que cobra autocrítica. Eu tenho autocrítica, quero sempre melhorar. Mas se eu me criticar, o que quem se opõem a mim vai falar? Eles querem que eu fale bem de mim e que eu fale mal de mim também?”
Essa foi a enésima recusa de Lula de reconhecer erros em público. Há um número igualmente grande de exemplos envolvendo outras lideranças do PT. O partido jamais dá o braço a torcer.
Lembro do caso de Bento XVI. No começo do mês, o papa emérito pediu perdão em público. O Vaticano divulgou uma carta em que ele expressou “profunda vergonha e grande dor” pelos casos de abuso sexual praticados por padres católicos, enquanto ele ocupava os postos mais elevados na hierarquia da Igreja Católica. Bento XVI se desculpou por não ter feito o necessário para impedir que aqueles crimes acontecessem.
Pois é: um papa faz penitência, mas o sumo-pontífice petista, nem pensar.
O PT já agiu diferente. Em 2005, logo depois que o mensalão veio à tona, a legenda divulgou o seu “primeiro pedido de desculpas à Nação”, reconhecendo a existência de crimes que a comprometiam “moral e politicamente”.
O petrolão, no entanto, não foi acompanhado de um “segundo pedido de desculpas à Nação”. Pelo contrário: pilhado novamente em um esquema de compra de apoio político, só que muito maior, o partido se tornou completamente refratário a questionamentos externos.
Deve-se a Gleisi Hoffmann, numa entrevista de 2020, uma formulação lapidar dessa nova filosofia: “Partido político não faz autocrítica. Faz balanço político e corrige os rumos. Não precisa ficar externando. Faz o que tem de ser feito.”
Se estivesse vivo, Nicolau Maquiavel, o grande pensador italiano do século XV, provavelmente aplaudiria. Maquiavel nunca escreveu que os fins justificam os meios. Mas sustentou, isso sim, que política não tem nada a ver com religião e moral. Segundo ele, não existem ações políticas “certas” ou “erradas”, apenas aquelas que são úteis ou inúteis para quem deseja conquistar e manter o poder. Você faz o que tem de ser feito.
A esta altura, já ficou claro que o PT não enxerga utilidade nenhuma em assumir suas transgressões. Até mesmo um gesto acanhado, uma admissão ambígua de que algo aconteceu, está fora dos planos.
Compreende-se, por um lado: feito de maneira descuidada, um pedido de desculpas acabaria levando gente para a cadeia. Além disso, parece estar dando certo do ponto de vista da política eleitoral. Lula está na frente em todas as pesquisas.
O problema são as feridas abertas.
Xeretando na internet, descobri que existe uma bibliografia enorme sobre a psicologia e a antropologia do perdão. Raspando a superfície, captei o básico: desculpas não apagam o passado, mas restauram a confiança no futuro. Sinalizam o entendimento de que uma agressão foi cometida, uma regra foi quebrada, um pacto foi descumprido; e apontam a disposição de evitar que o erro se repita. Há uma área nova do Direito inteiramente calcada nessa ideia de promover o diálogo entre ofensor e vítima. Chama-se justiça restaurativa.
Não há nenhum tipo de “política restaurativa” em curso no Brasil. Assim como o PT se mostra avesso a fazer “autocrítica”, um grande número de eleitores se mostra avesso a tolerar mais quatro anos de governo petista. Isso é promessa de crispação até 2026, caso o partido vença de fato as eleições.
Não, eu não estou exigindo que o PT peça perdão, muito menos implorando por isso. O que eu queria mesmo era deixar para trás o petismo, o bolsonarismo e todo essa desolação.
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