Entrevista: prefeito propõe cremação de mortos por Covid-19 para aliviar 'caos funerário' em Manaus Entrevista: prefeito propõe cremação de mortos por Covid-19 para aliviar 'caos funerário' em Manaus
O Antagonista

Entrevista: prefeito propõe cremação de mortos por Covid-19 para aliviar ‘caos funerário’ em Manaus

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 22.04.2020 14:09 comentários
Brasil

Entrevista: prefeito propõe cremação de mortos por Covid-19 para aliviar ‘caos funerário’ em Manaus

Entre uma reunião e outra, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), conversou por telefone no início desta tarde com O Antagonista. Ele disse que a situação na capital do Amazonas é "completamente calamitosa" e que as imagens do caos funerário são resultado do colapso do sistema de saúde...

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 22.04.2020 14:09 comentários 0
Entrevista: prefeito propõe cremação de mortos por Covid-19 para aliviar ‘caos funerário’ em Manaus
Arthur Virgílio

Entre uma reunião e outra, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), conversou por telefone no início desta tarde com O Antagonista. Ele disse que a situação na capital do Amazonas é “completamente calamitosa” e que as imagens do caos funerário são resultado do colapso do sistema de saúde.

Virgílio admitiu que os amazonenses estão morrendo em casa, por falta de atendimento médico. Entre os dias 12 e 19 de abril, 656 corpos foram enterrados em cemitérios da cidade: uma média de 82 sepultamentos por dia, frente aos 28 registrados na média de 2019. As valas comuns continuarão sendo construídas, mas a Prefeitura passou a orientar as famílias que optem pela cremação dos corpos de seus familiares.

Segundo os dados mais atualizados do Ministério da Saúde, o Amazonas tem 2.270 casos e 193 mortes em razão do novo coronavírus. Virgílio, porém, afirma não haver dúvidas de que os números reais são bem maiores. O pico da doença, acrescentou ele, com base em projeções de sua equipe técnica, está previsto para 15 de maio, embora a previsão de cenário bastante complicado se estenda até agosto.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista.

Como o senhor define a situação em Manaus agora?

Começou muito difícil, rapidamente virou emergencial e hoje eu diria que ela é completamente calamitosa. Estamos tentando contornar o caos funerário com a criação incessante de covas. Muitas famílias estão incomodadas com a falta de velório, daquela coisa tradicional, que tem a ver com a questão religiosa do país. Mas não pode agora. Quanto menos aglomerações, melhor.

Quantas valas estão sendo construídas?

Estamos fazendo valas, fazendo valas, cavando. Mas procurando manter a individualização, a questão do reconhecimento, para que cada família possa reconhecer, colocar um retrato, uma placa do seu ente querido que morreu.

Quem são as pessoas que estão sendo enterradas nessas valas comuns?

A Covid-19 pega qualquer um. Mas vamos, mais uma vez, admitir que ela está pegando mais em cheio quem tem menos capacidade de se defender. A doença parecia, entre aspas, democrática. Mas a letalidade maior, percebemos agora, tem uma relação com a renda. Há casas nas periferias em que moram oito, nove pessoas, o que facilita o contágio. E nós temos resistência à orientação de que as pessoas devem ficar em casa. E olha que não chegamos ao pico.

Quando será o pico?

Nossos estatísticos falam em 15 de maio. Eu tenho medo de que isso demore um pouco mais, por causa da resistência das pessoas com o isolamento. Tenho esperança de que consigamos logo aquilo que estamos pedindo: tomógrafos, remédios, equipamentos de proteção para os profissionais de saúde. A probabilidade é de chegarmos ao pico em 15 de maio, mas não quer dizer que no dia seguinte estaremos bem. Vamos amanhecer em 16 de maio com uma situação muito grave, que poderá se estender até junho ou agosto. Não temos sinal de achatar a curva, a curva continua ascendente. Não existe perspectiva de se imaginar uma economia aberta, por mais que seja lamentável a economia fechada. Mas mandar as pessoas para as ruas é uma irresponsabilidade que se compara a genocídio no caso de Manaus.

O sistema de saúde, então, colapsou, todos os leitos de UTI estão ocupados?

O sistema colapsou. E isso está se traduzindo na nossa realidade funerária. Estamos propondo cremação, é mais higiênico até. E temos muitos coveiros adoecidos com a Covid-10, em estado grave.

A subnotificação é uma realidade por aí também?

Se a gente fosse somar de verdade todas aquelas mortes de doenças que indicam que poderia ser a Covid-19, o número seria muito maior. Mas vou falar dos números oficiais. Tínhamos uma média de 20 a 30 enterros por dia nesta época, que é o nosso inverno, que propicia a propagação de vírus. A gente achou que tinha sofrido muito com o H1N1, mas não é nada comparável com o que estamos vivendo agora. Pulamos para 64 enterros por dia. Depois, para 88 e para 122. E notamos um número de mortes em casa, de pessoas que procuraram a assistência médica e deram com a cara na falência do sistema.

As pessoas estão morrendo à espera de leitos?

Estão morrendo à espera de leitos. Tive uma conversa muito sincera ontem com o Hamilton Mourão. Disse a ele que não tem a menor condição de reabrir economia aqui. Ele me ouviu.

O senhor acredita que haverá intervenção federal na saúde do estado?

Não tenho a menor ideia. Há um pedido da Assembleia Legislativa. Sei que as coisas que estou pedindo são para ontem. É essencial que venha pessoal nos ajudar, porque a gente ainda vai para o pior.

A situação da saúde já era precária antes da pandemia. Não deu para se preparem?

Sucessíveis governos foram enfraquecendo a Secretaria de Saúde. Essa interpretação de não ter se preparado é ingênua. Não sabemos nem mesmo quando começou tudo isso. Será que o primeiro caso foi mesmo o primeiro caso? Ou foi de alguém que morreu em casa e que achou que era uma gripezinha? Estamos trabalhando dia e noite, estamos nos virando. Estamos procurando manter ao máximo a coerência com o ajuste fiscal. Pedi ajuda ao G20, o Amazonas está pedindo socorro. E não se pode demorar. A gente tem que agir com a rapidez do coronavírus. O coronavírus é muito rápido, ele vai para cima para liquidar com o organismo. A assistência também tem que ser rápida e pronta.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Um “press release” do STF para a J&F

Visualizar notícia
2

PSOL vai pedir extinção dos kids pretos

Visualizar notícia
3

Moraes cita “extrema periculosidade” de Braga Netto

Visualizar notícia
4

Asilados em embaixada pedem ajuda de Lula para sair da Venezuela

Visualizar notícia
5

Bolsonaristas reagem à prisão de Braga Netto e falam em “ditadura”

Visualizar notícia
6

Funcionário de embaixada sob custódia do Brasil é preso na Venezuela

Visualizar notícia
7

Defesa de Braga Netto nega obstrução à Justiça

Visualizar notícia
8

PF: Braga Netto usou sacola de vinho para repassar dinheiro a “kid preto”

Visualizar notícia
9

Juiz auxiliar de Moraes mantém prisão de Braga Netto

Visualizar notícia
10

Ministros de Lula celebram prisão de Braga Netto: “Grande dia”

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Autoridades venezuelanas entregam corpo em decomposição de preso político

Visualizar notícia
2

Ex-governador de Tocantins é preso por suspeita de plano de fuga

Visualizar notícia
3

A Bruxa: Saiba onde assistir ao filme de terror com Anya Taylor-Joy

Visualizar notícia
4

Aliados de Bolsonaro questionam prisão de Braga Netto

Visualizar notícia
5

O mercado não chora

Visualizar notícia
6

Ucrânia usa drones contra soldados norte-coreanos em Kursk

Visualizar notícia
7

Filmes de superação: Histórias inspiradoras na tela

Visualizar notícia
8

Braga Netto deverá pagar pelo que fez se for culpado, diz Lula

Visualizar notícia
9

Programa Pé-de-Meia 15/12: Veja como resolver problemas com CPF

Visualizar notícia
10

Israel fecha embaixada na Irlanda e acusa governo de antissemitismo

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Amazonas Arthur Virgílio covid-19 enterros entrevista Manaus novo coronavírus Pandemia valas
< Notícia Anterior

Anvisa autoriza pela 1ª vez a venda de produto de canabidiol no Brasil

22.04.2020 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

"MDB tem se mantido em posição de apoio ao governo sem cobrar cargos"

22.04.2020 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Nubank lança novidade para usuários do pix

Nubank lança novidade para usuários do pix

Visualizar notícia
20 empresas são multadas por não cumprirem a LGPD

20 empresas são multadas por não cumprirem a LGPD

Visualizar notícia
CNH: Projeto de lei altera categorias da habilitação

CNH: Projeto de lei altera categorias da habilitação

Visualizar notícia
Veja dicas de finanças pessoais para melhorar a economia doméstica

Veja dicas de finanças pessoais para melhorar a economia doméstica

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.