A rachadinha do PCC no gabinete de um vereador
Investigações do Gaeco apontam a facção criminosa indicou assessores de ex-vereador de Suzano, revertendo parte de seus vencimentos na Câmara Municipal para si
A Operação Munditia, deflagada na terça-feira, 16, pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e pela Polícia Militar para desarticular um grupo ligado Primeiro Comando da Capital (PCC) responsável por cometer fraudes em licitações em São Paulo, do qual participavam três vereadores, demonstrou que a facção criminosa não tem dificuldades para encontrar interessados em viabilizar seus interesses nas estruturas do Estado.
Em 2017, motivado por um protesto de perueiros clandestinos na cidade de Suzano, no qual os manifestantes carregavam uma faixa com os dizeres “Prefeito Cumpra o Combinado” (foto), destacando as letras iniciais de cada palavra para mostrar que o PCC estava por trás da cobrança, os promotores do Gaeco começaram a investigar a atuação da facção liderada por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, na administração da cidade paulista.
A investigação mostrou que Márcio Zeca da Silva, um dos 13 presos na Munditia e condenado a 17 anos e seis meses de prisão em 2023, tratava dos interesses da facção em licitações na cidade de Suzano com o ex-vereador José Carlos de Souza Nascimento, o Zé Pirueiro, eleito pelo PTB.
Segundo os promotores do Gaeco, Zé Pirueiro era o “principal braço político da organização criminosa na região” do Alto Tietê.
Rachadinha
Valendo-se do cargo de vereador, o político atuaria “impetuosamente para o fomento dos interesses da facção”, promovendo e financiando as atividades do PCC.
Como registrou O Estado de S.Paulo, a facção chegou a escolher pelo menos dois assessores do vereador — Cleiton Virgílio da Silva e Luis Alexandre Papalia — para que eles “revertessem parte de seus vencimentos ao PCC”, em um esquema de rachadinha.
Chefe da facção na região, Daniel Rodrigues da Silva, o Gordão ou Fiat, afirmou a Márcio Zeca, em uma conversa gravada em 2 de novembro de 2017, que “o combinado era Cleiton, chefe de gabinete de ‘Zé Pirueiro’ e funcionário da cooperativa Coper-Suzan, repassar parte de sua remuneração (de R$ 8 mil) para o vereador (para o custeio da campanha) e parte para a organização”.
O acordo também foi feito com Papalia.
Para o Gaeco, o conjunto das provas demonstrou que a Cooper-Suzan, cooperativa que reunia 150 proprietários de vans em Suzano e era liderada por Zé Pirueiro, era utilizada por integrantes do PCC para explorar o tráfico de drogas na cidade, “com a participação, inclusive, de políticos da região”.
Condenados em liberdade
Em 2023, a 2.ª Vara Criminal de Suzano, na Grande São Paulo, condenou oito acusados, entre eles Márcio Zeca da Silva, Daniel Rodrigues da Silva e Zé Pirueiro, a penas que variam de 6 anos a 27 anos de prisão.
Como os réus recorreram da decisão, o caso ainda não foi julgado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
O PCC está por todo lugar
Após a Operação Fim da Linha, o deflagrada em 9 de abril, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), afirmou que o PCC ganhou contornos de máfia.
Segundo Gakiya, a facção criminosa chefiada por Marcola está infiltrada no estado por meio de empresas de transporte público, coleta de lixo, saúde e assistência social.
“O que nos preocupa é que a organização está tomando tamanho de máfia, se infiltrando no estado, participando de licitações de estado. Isso é característico de máfias, como a gente já viu na Itália. […] E essa operação está atuando na asfixia financeira desse grupo”, disse o promotor em entrevista coletiva após a operação do Ministério Público que prendeu dirigentes de empresas de ônibus por ligação com o PCC.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)