A postura de Bolsonaro na pandemia será esquecida?
O Centrão e os bolsonaristas -- nem sempre são a mesma coisa -- estão animados com as últimas pesquisas de intenção de voto, como noticiamos ontem. Um dos motivos é que, na avaliação do entorno de Jair Bolsonaro, os números indicam que parte dos eleitores pode acabar, digamos, relevando a postura do presidente da República durante a pandemia da Covid na hora de votar...
O Centrão e os bolsonaristas — nem sempre são a mesma coisa — estão animados com as últimas pesquisas de intenção de voto, como noticiamos ontem.
Um dos motivos é que, na avaliação do entorno de Jair Bolsonaro, os números indicam que parte dos eleitores pode acabar, digamos, relevando a postura do presidente da República durante a pandemia da Covid na hora de votar.
Ontem, O Antagonista elencou uma série de promessas não cumpridas por Bolsonaro, como o apoio Lava Jato, o amplo programa de privatizações e o fim do toma lá, dá cá. Mas, para além da política, há um quê de desumanidade no comportamento de Bolsonaro que, em tese, poderia pesar contra o projeto de reeleição.
Nos momentos mais duros da pandemia, o presidente imitou pacientes de Covid com falta de ar, chamou de “marica” e “bundão” quem temia ser contaminado pelo vírus e desdenhou da situação com reações como “e daí?”, “eu não sou coveiro”, “vai todo mundo morrer” e “(comprar vacina) só se for na casa da tua mãe”. A expectativa no entorno de Bolsonaro é a de que o eleitorado bolsonarista vai acabar se esquecendo (ou fingindo se esquecer) de tudo isso.
“São 661 mil mortes. Será mesmo que os parentes e os amigos dessas pessoas se esquecerão do que Bolsonaro fez ou deixou de fazer?”, duvida o senador Omar Aziz (PSD-AM), que presidiu a CPI da Covid.
Para Aziz, seria um desrespeito com as milhares de vítimas da Covid se a avaliação dos bolsonaristas viesse a se confirmar.
“Não dá para esquecer. Talvez quem não perdeu ninguém para a doença consiga se esquecer, mas um amigo ou um parente de alguém que morreu jamais vai se esquecer de Bolsonaro mandando comprar vacina ‘na casa da mãe'”, acrescentou o senador.
Se o chamado centro democrático não conseguir se erguer e, por consequência, a polarização acabar prevalecendo, o deputado Joaquim Passarinho, vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara que trocou o PSD pelo PL, mesmo partido do presidente, acredita que o atual ocupante do Planalto levará vantagem.
“Creio que, para o eleitor que opinava na emoção, principalmente no pico da pandemia, agora, mais antenado com as possibilidades para o futuro do Brasil, as coisas vão tomando seu lugar.”
Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela UnB, disse a O Antagonista que, sobre o senso comum de que “o eleitor tem memória curta”, é preciso considerar que, muitas vezes, ele até se lembra, mas “a questão é o peso que se dá a cada evento”. Em 2006, por exemplo, Lula foi reeleito, apesar do escândalo do mensalão.
“No caso de Lula, a sensação de bem-estar naquele momento compensou a decepção com o mensalão.”
Na mesma linha, o cientista político Creomar de Souza, da consultoria Dharma, lembrou que o mensalão “foi sucedido de um período de estabilidade e de crescimento econômico, que sempre ajuda nesse processo de amnésia eleitoral”. Não à toa, há um esforço no Planalto, estimulado pelo Centrão, para tentar segurar os preços dos combustíveis e turbinar programas sociais até outubro.
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