O que Orbán pode ensinar a Bolsonaro sobre clima
O presidente húngaro, um populista de direita como Bolsonaro, abraçou há tempos o discurso ambiental na política
“Precisamos nos envolver melhor com o meio ambiente (…), trazer a questão ecológica para o centro da política.”
Essas frases poderiam ter saído de um pronunciamento de Marina Silva, mas pertencem a um discurso do presidente húngaro Viktor Orbán.
Orbán é um populista de direita, assim como Jair Bolsonaro. Os dois são grandes amigos.
Posição avançada
Há cerca de quinze dias, Eduardo Bolsonaro visitou a Hungria para uma das Conferências de Ação Política Conservadora (CPAC), um dos principais eventos internacionais da direita.
Ele se encontrou com Orbán e entregou-lhe a “medalha dos três Is” (foto), que celebra três características que o ex-presidente brasileiro atribui a si mesmo: ser “imorrível, imbrochável e incomível”.
Em vez da palhaçada e das eventuais intrigas internacionais de que tenha participado, Bananinha, o filho “cosmopolita” de Jair, poderia ter dedicado a viagem a discutir a questão do meio ambiente.
A posição do húngaro é muito mais avançada que a do brasileiro sobre esse tema. Sem dar as mãos aos grandes grupos ambientalistas, por óbvio, ela no entanto reconhece a necessidade de levar em conta as mudanças climáticas e as políticas de mitigação e adaptação que decorrem delas.
Política verde “conservadora e metódica”
Desde 2019, o partido de Orbán, o Fidesz, vem dando espaço ao tema das mudanças climáticas em seu programa.
Em termos políticos, não precisou sacrificar nada de importante para isso. Ligou ecologia com nacionalismo, a salvação do bisão europeu com a preservação das paisagens ancestrais da pátria. Tudo isso, não só em nome dos filhos e netos de quem vive hoje, mas das gerações futuras, a perder de vista.
Nas palavras da ex-ministra da Justiça húngara Judit Varga, o governo de Orbán adotou uma abordagem “calma, conservadora e metódica em relação à política verde”.
Extrativismo
Tudo isso contrasta gritantemente com a atitude dos bolsonaristas na política brasileira. É inevitável recorrer à palavra “extrativismo“ (olha aí o século 16) para referir-se a ela.
Esse grupo político vê os abundantes recursos naturais brasileiros como uma riqueza que já tarda em ser arrancada do chão. Para ele, obstáculos à predação dos recursos naturais devem ser atropelados.
Pouco antes da tragédia no Rio Grande do Sul, a grande empreitada bolsonarista no Congresso era aprovar um pacote de medidas que fragiliza as regras de proteção ambiental.
Entre elas, uma redução de 8,5 milhões de hectares na área de proteção da Amazônia Legal, a validação de um desmate equivalente a uma vez e meia o território da Alemanha, o corte na tributação de atividades poluidoras e a autorização para que barragens sejam construídas em locais de preservação permanente.
Quanto a pensar em ciência ou mecanismos financeiros inovadores, que derivem recursos da natureza intacta – ai, que preguiça…
Novo discurso
O bolsonarismo tem usado as redes sociais assiduamente para propagar fake news sobre o combate à calamidade no Rio Grande do Sul.
Como já argumentei, isso não justifica a abordagem autoritária e policialesca adotada pelo governo petista como resposta a esse fenômeno.
Espalhar desinformação em meio a uma tragédia, contudo, é um uso perverso do tempo.
As inundações no Rio Grande do Sul oferecem uma oportunidade para que o bolsonarismo atualize seu discurso sobre as questões climáticas
Pode buscar inspiração em seu próprio campo ideológico para isso. Das lições que Viktor Orbán tem a oferecer, essa nem de longe é a pior.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)