O PSDB não tirava o sono do PT
Os petistas cobram hoje dos opositores um comportamento responsável que nunca tiveram quando na oposição. Foram tão irresponsáveis que semearam o terreno para oponentes a sua altura
Aconteceu de novo nesta semana: um petista manifestou publicamente suas saudades dos antigos adversários do PSDB. Ao final da conturbada audiência na Câmara com Paulo Pimenta, secretário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) anunciou que falaria “uma coisa inusitada”, mas que já foi repetida tantas vezes por seus colegas que não surpreende mais ninguém: “Eu tenho saudades do PSDB”.
O próprio Lula (ao centro na foto) já disse o mesmo mais de uma vez em público, inclusive ao lado de seu vice, Geraldo Alckmin (à direita na foto), outrora adversário tucano, e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, confidenciou a saudade ao deputado Aécio Neves (PSDB-MG) no último aniversário de José Sarney.
Depois do acosso bolsonarista a Pimenta na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara, Lindbergh comentou que sente saudade “daqueles debates”. “A gente tinha um debate, fazia um debate de nível. Trazia argumentos. O outro respondia, contestava. Agora não, é uma sessão de gritarias, de insultos desqualificados”, disse o deputado, fantasiando um pouco sobre o passado. A lembrança de Lindbergh pode até se aplicar ao PSDB, mas não ao seu PT.
Os petistas cobram hoje dos opositores um comportamento republicano e responsável que seu partido nunca teve quando esteve na oposição. Foi se opondo de maneira irresponsável a quase tudo — Constituinte, Plano Real e reforma trabalhista, entre outros vários assuntos — que o PT mobilizou sua base e chegou ao poder. Os petistas foram tão irresponsáveis que dizimaram os adversários responsáveis e semearam o terreno para oponentes a sua altura.
#saudades
Aquele saudoso PSDB se esfacelou de forma responsável e orgulhosa, como é típico dos tucanos. O ex-senador Aloysio Nunes Ferreira disse o seguinte ao comentar as razões de sua saída do partido nesta semana, anunciada após o lançamento da pré-candidatura de José Luiz Datena à Prefeitura de São Paulo:
“São muitas, foram se acumulando desde a última eleição presidencial, quando o PSDB se declarou neutro. Eu considerei errado que um partido que tivesse democracia no nome mantivesse uma posição indiferente na eleição de um fascistoide como o então presidente Jair Bolsonaro. De lá para cá, as divergências foram se tornando cada vez mais claras, a ideia de ser contra os dois extremos como se o governo Lula fosse extremista”.
É bonito o discurso de Nunes, e fica ainda mais emocionante quando proferido de Bruxelas, onde o ex-chanceler de Michel Temer atua pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) do governo Lula. Como não sentir saudades desse tipo de adversário?
Pesadelos
Também nesta semana, vieram a público os lamentos do líder do governo Lula na Câmara, José Guimarães, em reunião do PT. “Tenho que me relacionar com toda a Casa, não é uma tarefa fácil, é um negócio muito doloroso. Tem dia que eu não consigo dormir por conta da tensão, da faca no pescoço e tudo mais que muitas vezes acontece nos bastidores aqui dentro [do Congresso] para a gente apoiar, aprovar as matérias de interesse do governo“, disse Guimarães.
Hoje, os aliados do PT dão muito mais trabalho do que lhes davam os republicanos adversários tucanos de outrora. Mas só se comove com os clamores petistas por responsabilidade com o Brasil quem esqueceu como o PT sempre se comportou na oposição. Estão colhendo o que plantaram.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)