Ninguém solta o mandato de ninguém
Há, de fato, um evidente jogo político na decisão sobre cassar parlamentares, mas isso não advoga a favor de quem merece perder o mandato
Sempre que um parlamentar se encaminha para a cassação do mandato surge um questionamento entre seus aliados: e aqueles que não foram cassados? Diante da iminente perda de mandato de Glauber Braga (Psol-RJ, foto), restou esse argumento à esquerda brasileira.
“Se o Glauber é punido, esse Conselho vai ter que explicar para a sociedade brasileira por que age com dois pesos e duas medidas. Se esse conselho optar pela cassação do Glauber, vai ter que explicar para a sociedade brasileira por que que um deputado bolsonarista chamado Gustavo Gayer, que matou uma pessoa e deixou outra paraplégica dirigindo bêbado, e foi reincidente… Por que o Glauber não vai mais poder estar nesta Casa e esse Gustavo Gayer vai?”, protestou o deputado Guilherme Boulos (Psol-SP).
Boulos, que ajudou a salvar o mandato de André Janones (Avante-MG) no caso da rachadinha se escorando em argumento parecido, também mencionou Gilvan da Federal (PL-ES), que virou alvo da Advocacia Geral da União (AGU) por dizer que deseja a morte de Lula, e a “pistoleira da Carla Zambelli”, poupada pelo Conselho de Ética por perseguir um homem de arma em punho na véspera da eleição de 2022 — ela deve ser condenada pelo STF por isso, e perder o mandato.
Tapa, prisão…
O deputado do Psol poderia ter mencionado também o petista Washington Quaquá (PT), hoje prefeito de Maricá (RJ), que não perdeu o mandato após dar uma tapa em um colega no plenário da Câmara, em dezembro de 2023.
Os aliados de Glauber mencionam também Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), preso sob a acusação de mandar matar a vereadora Marielle Franco, cuja cassação recebeu parecer positivo do Conselho de Ética em agosto, mas ainda não foi apreciada no plenário da Câmara.
Política
Há, de fato, como disse Boulos, um evidente jogo político na decisão sobre cassar mandatos de parlamentares — como, aliás, ocorreu no caso de Janones, com o auxílio do próprio Boulos. Mas argumentar isso não advoga a favor de quem merece ser cassado.
Glauber iniciou uma greve de fome para chamar atenção para a alegação de que é vítima de uma perseguição do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).
O que falta a ele, contudo, é alguém com influência o bastante para blindá-lo, como ocorreu com colegas que mereciam, mas não foram cassados.
Leia mais: Glauber tomou isotônico ao som de NX Zero, informa Psol
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Comentários (2)
Sandra
11.04.2025 19:24Deveríamos ter a oportunidade de ter candidatos honestos e comprometidos pra votarmos; a máxima de que o povo não sabe votar é mentira, os partidos escolhem os piores pra se candidatarem; o povo não tem escolha, isso tinha que acabar. Vide Eduardo Leite e Moro, que não os deixaram ser candidatos a presidência.
Marian
10.04.2025 18:26Não precisa explicar nada não senhor. Afinal deve haver o mínimo de compostura. Chutar e botar pra fora aos berros uma pessoa , de dentro da casa do povo? Eu heim, cai fora.