Sempre que me vejo obrigado a usar rótulos, títulos e qualificações para identificar pessoas, digamos não merecedoras, ou mesmo como forma de contextualização, confesso que fico incomodado. Por exemplo: “Jair Bolsonaro, radical de direita”. Ora, por que atrelar, necessariamente, Bolsonaro à direita, ou Lula, à esquerda, se o radicalismo de ambos não define o espectro político que pretendem representar? Radicais, direita, esquerda… O que delimita e circunscreve as pessoas? Mas o mundo é assim e não serei eu a bancar, depois de velho, o Dom Quixote.   

Ontem, segunda-feira, 10, Lula, em cerimônia sobre educação pública em Brasília, como se apedeuta confesso e orgulhoso um expert fosse no assunto, declarou: “Esse país só vai dar certo no dia em que a classe média voltar para a escola pública. E só vai voltar quando ela melhorar”. Bem, ainda que seja importante TODAS AS CLASSES estudarem – não necessariamente em escola pública -, penso que nossos males são bem maiores e mais complexos, a começar por políticos como ele, que já tiveram a oportunidade de governar, produziram o caos e, não satisfeitos, continuam na política.

Lula e o PT estão no poder há 16 dos últimos 23 anos. Se o ensino público é ruim – e é péssimo, haja vista nossas colocações nos rankings internacionais -, a responsabilidade é, no mínimo, 70% sua. Ou não? Mas, como de costume, a culpa de todos os problemas do país é dos outros, ainda que seja dele. E os méritos por tudo o que há de bom – sim, procurando bem a gente encontra – é dele, ainda que seja dos outros. Apenas como analogia, no direito penal, apropriação indébita é crime. Lula se apropria de feitos que não lhe pertencem e se exime de responsabilidades que são suas.

Ódio à classe média

No mesmo evento, Lula se referiu – lá vou eu ter de usar qualificação de que não gosto – à filósofa Marilena Chauí: “Já foi assim: os grandes intelectuais brasileiros estudaram em escolas públicas. Marilena Chauí, Florestan Fernandes e Paulo Freire são filhos de escola pública“. Para o pai do Ronaldinho dos Negócios, Chauí é “grande intelectual”. Mas o que ela pensa da classe média mesmo? “Eu odeio a classe média. É um atraso de vida, estupidez, é o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista. É uma abominação política porque é fachista. É uma abominação ética porque é violenta. É uma abominação cognitiva porque é ignorante. Fim”. 

Essa “grande intelectual”, ano passado, em uma palestra, atacou (se referindo) um motorista de aplicativo porque este – vejam que crime hediondo! – lhe disse, ao se despedir da corrida, “Fica com Deus”. Vai, Chauí, fala: “Fico muito agoniada: tomo o Uber e na hora que eu desço e digo muito obrigada, boa noite, o motorista diz: fica com Deus. Eu sei que ele é pentecostal, que é fundamentalista. Eu fico desesperada com essa ideia“. O motorista, de forma agradecida e gentil, tenta ser carinhoso e a “filósofa” se desespera porque ele seria “um fundamentalista pentecostal”.

Eis o que Lula quer e entende melhor para a educação pública do país. Escolas que transformem a “classe média” em Marilena Chauí, como, segundo aquele que vivia se orgulhando da própria ignorância e desdenhando dos títulos acadêmicos de seus adversários políticos, já foi feito no passado.  Aliás, é exatamente uma das razões do fracasso da educação brasileira e o motivo pelo qual temos políticos como Lula no poder: ou nossa classe média é odiada, ou simplesmente transformada nesse tipo de gente a partir das escolas públicas administradas pelo PT.