Lobbies entre Lula e STF corroem a democracia Lobbies entre Lula e STF corroem a democracia
O Antagonista

Lobbies entre Lula e STF corroem a democracia

avatar
Felipe Moura Brasil
4 minutos de leitura 15.12.2023 15:35 comentários
Análise

Lobbies entre Lula e STF corroem a democracia

Uma das características da República do Escambo é o uso de eufemismos para descrever os lobbies entre as cúpulas dos Três Poderes, que, em um Estado Democrático de Direito, deveriam ser separados e independentes...

avatar
Felipe Moura Brasil
4 minutos de leitura 15.12.2023 15:35 comentários 0
Lobbies entre Lula e STF corroem a democracia
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Uma das características da República do Escambo é o uso de eufemismos para descrever os lobbies entre as cúpulas dos Três Poderes, que, em um Estado Democrático de Direito, deveriam ser separados e independentes.

A notícia de que “Lula reunirá ministros do STF em jantar para estreitar diálogo com a Corte” — publicada no site da CNN Brasil com base em informação do jornal O Globo sobre o encontro a ser realizado na casa do presidente do tribunal, Luis Roberto Barroso (foto, à direita)— trata, na verdade, das tentativas do presidente da República de agradar membros do Poder Judiciário em troca de apoio a pautas de interesse do Executivo.

Lá no meio da matéria, sem destaque em título e subtítulo, aparece o exemplo mais ilustrativo:

“No caso de [Kássio] Nunes Marques, já existe uma aproximação em curso.

Em meados de novembro, Lula ligou para Nunes Marques para avisá-lo que o juiz João Carlos Mayer Soares seria nomeado para o cargo de desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Mayer Soares era apoiado pelo ministro.

Mais recentemente, num gesto ao Palácio do Planalto, Nunes Marques pediu vista — mais tempo para analisar o caso — do julgamento que analisa a constitucionalidade da Lei das Estatais, que veda a participação de políticos nessas empresas.”

Quem indicou o piauiense Nunes Marques ao Supremo foi Jair Bolsonaro e quem apadrinhou a indicação foi o senador conterrâneo Ciro Nogueira (PP-PI), velho cacique do Centrão, bloco parlamentar fisiológico interessado em receber de Lula (foto, à esquerda) indicações políticas para estatais em troca de apoio ao governo no Congresso.

Enquanto o julgamento não é concluído, vigora a decisão monocrática tomada pelo então ministro e atual parecerista do empresário Joesley Batista, Ricardo Lewandowski, que, ao suspender a exigência de quarentena de 36 meses, liberou, na prática, essas indicações.

Juízes da mais alta Corte do país, portanto, “apoiam” nomes de aliados para tribunais compostos por indicação do presidente, que “liga” para dar satisfação a eles e marca “jantar” em busca de “diálogo” e “aproximação”, enquanto o Palácio do Planalto recebe, em pleno julgamento, um “gesto” de boa vontade.

Quando o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), após nove horas inúteis da sabatina de Flávio Dino e Paulo Gonet, descreveu o ministro Gilmar Mendes, do STF, como um homem “carente do mínimo pudor ético”, “que não vê o menor constrangimento em juntar no mesmo festim investigados, julgadores e partes interessadas em processos em curso na Corte superior”, em colocar-se “de forma velada ou ostensiva como parte interessada em questões que são de competência do Executivo ou do Legislativo”, em “usar a força do cargo de ministro para pressionar parlamentares, inclusive desta Casa, conforme seus interesses particulares ou de terceiros”, Dino comentou o seguinte:

“Eu não vejo a vida com tamanha dramaticidade.”

Na véspera, o então indicado e agora aprovado ao Supremo já havia dito que atuará como um “facilitador do diálogo entre os Poderes”, o que significa que os conchavos apontados vão continuar.

Já Gonet, candidato apoiado pelo próprio Gilmar, a quem Lula retribuiu pelo “enfrentamento” à Lava Jato, passou um pano genérico para o ex-sócio, mostrando a quem deve fidelidade:

“O ministro Gilmar Mendes é um nome honrado, é um nome de pessoa dedicada ao bem e é uma pessoa que não merece especulações totalmente desfundamentadas.”

Reforçado por Bolsonaro e aproveitado por Lula, o sistema é este conjunto transinstitucional de lideranças camaradas, para as quais qualquer reação às suas articulações conjuntas simboliza apenas o “drama” de quem está do lado de fora, “especulando” sobre pessoas de “bem”, que só agem — imagine — em defesa da “democracia”.

Ao contrário dela, a República do Escambo não pressupõe a separação e a independência entre os Poderes. Seu maior pressuposto é o cinismo.

 

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Rússia envia mercenários do Iêmen para guerra na Ucrânia

Visualizar notícia
2

EUA condenam cerco de Maduro à embaixada da Argentina

Visualizar notícia
3

Emirados Árabes prendem suspeitos de assassinato de rabino israelense

Visualizar notícia
4

Rodolfo Borges na Crusoé: Mike Tyson e o mar

Visualizar notícia
5

Bill Maher diz que não vai "odiar previamente" Trump

Visualizar notícia
6

Pagamento extra do INSS (25/11): Entenda as regras e o calendário

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Pagamento extra do INSS (25/11): Entenda as regras e o calendário

Visualizar notícia
2

EUA condenam cerco de Maduro à embaixada da Argentina

Visualizar notícia
3

Rússia envia mercenários do Iêmen para guerra na Ucrânia

Visualizar notícia
4

Emirados Árabes prendem suspeitos de assassinato de rabino israelense

Visualizar notícia
5

Rodolfo Borges na Crusoé: Mike Tyson e o mar

Visualizar notícia
6

MBL fará prévia entre Arthur do Val e Cristiano Beraldo para 2026

Visualizar notícia
7

Os acertos e omissões do New York Times sobre STF, Lava Jato e fake news

Visualizar notícia
8

Josias Teófilo na Crusoé: Cultura de fim de semana

Visualizar notícia
9

JBS e Masterboi aderem a boicote ao Carrefour

Visualizar notícia
10

Hezbollah intensifica ataques com mísseis e deixa feridos em Israel

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Centrão Flávio Dino Lula Paulo Gonet STF
< Notícia Anterior

Crusoé: Milei, o Lula do avesso

15.12.2023 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Izabela Patriota na Crusoé: “A briga de titãs no coração de São Paulo”

15.12.2023 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Felipe Moura Brasil

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Os acertos e omissões do New York Times sobre STF, Lava Jato e fake news

Os acertos e omissões do New York Times sobre STF, Lava Jato e fake news

Felipe Moura Brasil Visualizar notícia
E Mujica não mudou o mundo

E Mujica não mudou o mundo

Rodolfo Borges Visualizar notícia
Como fazer amigos (no governo Lula) e influenciar pessoas

Como fazer amigos (no governo Lula) e influenciar pessoas

Rodolfo Borges Visualizar notícia
Os militares tiveram sua chance

Os militares tiveram sua chance

Rodolfo Borges Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.