Crusoé: O concurso de censores e o fim da arte
Enquanto a direita tenta censurar o funk, a esquerda quer censurar o humor. Ao público, cabe escolher a censura favorita para desopilar

Por Newton Cannito*
O Brasil polarizado de 2025 vive um verdadeiro concurso de censores.
De um lado, tem a direita tentando censurar o funk. De outro, a esquerda, querendo censurar o humor. Ao público cabe escolher sua censura favorita para desopilar seu fígado com ódio aos artistas.Quem ganha com isso? Políticos populistas digitais. Quem perde?Os artistas e a sociedade que, com medo de uma piada ruim, abrem mão da liberdade de todos.
Para os políticos populistas digitais, defender a censura da arte é uma forma fácil de engajar sem precisar resolver as questões sociais reais. Em um ambiente de guerra cultural, ser censor de artistas virou capital eleitoral.
Tal como nas estratégias de marketing digital, cada lado ataca na dor de seu público. A direita foca na violência física, a esquerda na violência psicológica. Para a esquerda, a ofensa é o principal problema da humanidade. Um ativista de esquerda atual, contaminado pela pauta identitária, perdoa um assassino, mas não perdoa um humorista. Eles literalmente defendem que um humorista que fez uma piada ruim tem que ficar mais tempo na cadeia que um assassino. Para eles, a ofensa é um crime pior que assassinato. E, por incrível que pareça, esse delírio está virando realidade, pois conta com forte apoio do Judiciário. O resultado: os artistas brasileiros de hoje fazem autocensura e a arte se afastou do público.
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Censurar músicas
Já a direita capta a dor de quem está cansada de crimes sem punição, uma pauta justíssima. Mas, ao invés de cobrar do Judiciário melhores penas, gasta o tempo para censurar músicas.
Uma estratégia geral une a direita e a esquerda: é mais fácil censurar a arte do que resolver os problemas. E o mundo da linguagem: basta não tocar no assunto que ele não existirá. É o pensamento mágico: basta não ter a música que o crime desaparecerá.
O que une esquerda e direita é…
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*Newton Cannito é cineasta e fundador da Artistas Livres!
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