Bolsonaro e STF: entre tapas e beijos
Família do ex-presidente luta há 6 anos por impunidade e só reclama do conchavo alheio

Os Bolsonaro lutam há mais de 6 anos por impunidade.
Antes, em razão de “rachadinhas”. Agora, de tramas golpistas e 8/1.
Se nunca tivessem registrado funcionários fantasmas, nem incentivado ataques ao processo eleitoral, não precisariam.
No primeiro caso, tiveram apoio do sistema, compartilhando a blindagem que favoreceu Lula. No segundo caso, usado para fazer pose antissistema, não tiveram o mesmo apoio (como apontei em 10/8/2021, 17 meses antes do 8/1/2023).
Todas as oportunidades
O bolsonarismo teve todas as oportunidades para interromper os ataques ao processo eleitoral e desmobilizar os aloprados que acreditaram em suas lorotas sobre urnas eletrônicas.
Mas é da natureza bolsonarista esticar a corda e chorar quando ela arrebenta, posando de vítima de perseguição política à “direita” — campo ideológico usurpado e manchado pelo maior radical do Centrão.
Há politicagem em tribunais superiores?
Claro que há.
Os Bolsonaro se beneficiaram dela no STF e no STJ no caso de Flávio (à direita na foto); agora torcem para que a mudança no TSE em agosto de 2026 os beneficie de novo no caso de Jair (à esquerda na foto).
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Mas a politicagem nem sempre é a favor. E abusos decorrentes dela jamais eximem de responsabilidade quem teimou em aloprar, julgando ter as costas quentes.
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Kassio Nunes Marques, o primeiro indicado por Jair Bolsonaro ao STF, ajudou a blindar, entre outros:
- Lula;
- Flávio Bolsonaro;
- Fernando Collor de Mello;
- Aécio Neves e Eduardo Azeredo;
- Arthur Lira e Ciro Nogueira;
- Cristiano Zanin e Frederick Wassef;
- e o bicheiro Rogério Andrade.
Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski ajudaram Kassio a blindar Flávio com foro privilegiado retroativo na Segunda Turma do STF, enquanto Kassio ajudou os respectivos indicados dos governos do PSDB e do PT a blindar tucanos e Lula.
Na ocasião, Kassio votou contra o parecer da PGR pelo uso da delação de Antônio Palocci em processo contra Lula e a favor da validação em plenário do julgamento da Segunda Turma que declarou a suspeição de Sergio Moro — neste caso, apesar dos protestos de Luiz Edson Fachin contra a manobra de Gilmar de pautar o pedido de suspeição (que havia engavetado por mais de dois anos) após a perda de seu objeto.
Kassio também votou a favor do envio para a defesa de Lula da íntegra das mensagens de conteúdo jamais autenticado, roubadas da Lava Jato e exploradas com ilações para legitimar a blindagem do petista.
Kassio ainda votou a favor do orçamento secreto implementado durante o governo Bolsonaro e, no TSE, contra o mandato de deputado federal de Deltan Dallagnol, ajudando o sistema a retaliar o ex-procurador da Lava Jato com uma das maiores piruetas da história do Poder Judiciário.
No STJ, para anular quebras de sigilo que escancararam as práticas de Flávio em seu gabinete, a família Bolsonaro contou com João Otávio de Noronha, que o então presidente prometia indicar ao STF.
“A CPI foi engavetada num acordão”
Isto sem falar em Dias Toffoli, que colaborou paralisando a investigação por quatro meses, durante os quais Jair, Flávio e Eduardo atuaram para blindar o ministro do STF contra a CPI da Lava Toga.
Leia mais: 6 anos de inquérito das fake news: conheça sua verdadeira história
“A CPI foi engavetada num acordão, que envolveu PT, Bolsonaro e um pedaço do Centrão. O relator que deu o parecer dizendo que a CPI não deveria avançar foi o petista sergipano Rogério Carvalho, apoiado pelo amigo Flávio Bolsonaro. Juntos. Isso tudo está documentado, não adianta querer mentir agora, a essa altura do campeonato”, reiterou recentemente o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que encabeçava o pedido de criação da comissão para investigar Toffoli, inclusive pela abertura do inquérito das fake news; entre outros ministros, como Gilmar.
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Segundo Vieira, um militar que atuava no STF como ajudante de ordens de Toffoli havia cobrado dele a lista de signatários do requerimento, o que dera início à pressão pela retirada de assinaturas.
O bolsonarismo nunca repudiou esquemas e conchavos por princípios, mas, sim, quando beneficiam somente seus rivais e/ou prejudicam seus próprios líderes e integrantes.
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Comentários (1)
ISABELLE ALÉSSIO
07.04.2025 18:56Gostei da análise !