As falácias de Nikolas não resistem ao debate com uma criança
Hoje, qualquer um com carisma, boa oratória e sensibilidade popular saca um smartphone e produz conteúdo

Em tempos de internet, redes sociais, cortes e edições de vídeos, e TikTok como plataforma de comunicação, é muito fácil ser político populista radical no Brasil, não é mesmo? “Ah, Ricardo, no mundo todo é assim”. Bem, não deixa de ser verdade. Mas, talvez, em Banânia, seja um pouco mais fácil. Ou eu apenas esteja contaminado pelo ambiente tóxico em que vivo. Não sei. Longe de querer parecer – ou ser – saudosista, mas antes, sei lá, 15, 20 anos atrás, não era bem assim. Ao menos desse jeito.
Hoje, qualquer um com carisma, boa oratória e sensibilidade popular saca um smartphone e produz conteúdo. Daí escolhe como distribuí-lo e o que ganhar com ele: fama, dinheiro, emprego, eleições. Neste caso, a depender da competência e criatividade, uma vez eleito, ganha-se tudo. Pouco importa o que irá entregar além de entretenimento e lacração. Propostas, planos, projetos? Bobagem. Nem “pão e circo” quer-se mais por aqui. Basta um pouco de motivos para atacar e odiar alguém ou alguma coisa.
Um dos expoentes desse novo mundo é o jovem deputado federal por Minas Gerais, Nikolas Ferreira (PL). Fenômeno de comunicação, o bolsonarista arrasta uma multidão de seguidores idólatras por onde se apresenta. Ultrapassou as fronteiras do estado e, hoje, é conhecido e admirado nacionalmente. Por quê? Pelo quê? Sei lá. Perguntem às dezenas de milhões de seus fãs. De minha parte, além de reconhecer seu mérito como tiktoker, não enxergo absolutamente nada de útil – no cidadão e no político.
Ó Minas Gerais
Não. Não é o único, claro. Em Minas Gerais há outros dois expoentes: André Janones (Avante), aquele que confessou rachadinha, mas não fez rachadinha – segundo ele mesmo. Mais vazio e rasteiro que um pires raso, o deputado federal, sedizente guru digital da esquerda, é incapaz – como Nikolas – de produzir algo útil ao país no parlamento. De novo: propostas, projetos, planos? Sem chance! Apenas mistificações baratas e ofensas. Como dá certo, aprimora-se na “arte” e ganha mais visibilidade.
O outro é o senador Cleitinho (Republicanos), eleito com mais de 4 milhões de votos. Este, então, é o rei dos vídeos sensacionalistas. Suas propostas bizarras incluem “furar” pedágio em uma estrada mineira, após conseguir com o proprietário de uma área adjacente a construção de uma via de terra batida. Assim, os veículos fazem um pequeno desvio e burlam a cobrança. Em algum dia, no futuro, o próprio senador irá atacar o governador – ou o presidente – pela precariedade desta mesma estrada.
Mas voltando a Nikolas, domingo, 6, na Avenida Paulista em São Paulo, durante mais uma manifestação em prol de Jair Bolsonaro, disfarçada de ato pela anistia dos vândalos de 8 de janeiro e, claro, dos próprios organizadores e financiadores da tentativa de golpe de Estado, o deputado, trepado em um carro de som, ladeado por probos e impolutos como Carlos Bolsonaro, Valdemar Costa Neto e Silas Malafaia, entre outros, disparou, em alto e bom som, para o delírio dos pouco mais que 45, 50 mil militantes:
Quanta cara de pau
“O Brasil quer uma coisa. Em 2026, bota pra torá! Sabe por quê? Porque a gente tá cansado de ver criminoso solto, traficante solto,corrupto solto, enquanto o que a gente quer nesse país é paz, a gente quer nesse país, como há tempos atrás, criminoso sendo preso de verdade. Cadê a Polícia Federal para fazer busca e apreensão em casa de corrupto, só vai agora na casa de deputado por crime de opinião. Esse país é nosso, não é de ditador”. Eu desafio o querido leitor amigo a encontrar uma única vírgula no lugar.
Atenção: o presidente do Partido Liberal, de Nikolas, é ninguém menos que Valdemar Costa Neto, condenado e preso no Mensalão. Carlos Bolsonaro é, em tese, vereador no Rio de Janeiro, mas sabemos bem que “pero no mucho”. O irmão, senador Flávio, foi denunciado pelo Ministério Público por rachadinha. O pai, Jair, bem… este a lista é extensa. “Este país não é de Ditador”. É sério isso, Nikolas? Seriam mentirosos, então, os comandantes do Exército e da Aeronáutica? Lembrando que o primeiro ameaçou Bolsonaro com prisão.
Semana passada, em Belo Horizonte, uma operação da Polícia Federal teve como alvo o secretário de Educação do município, indicado pelo União Brasil, de Ronaldo Caiado, parceiro de carro de som de Nikolas. Na casa dele foi encontrado um cofre com joias e euros. É ligado ao grupo do tal “Rei do Lixo”, da Bahia, preso no âmbito da operação Overclean. Ao que parece, então, a Polícia Federal, ao contrário do que mente Nikolas, faz mais do que perseguir deputados por crimes de opinião. Mas o que importa a verdade, certo?
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Comentários (10)
LUCIANA SOARES VIGA
08.04.2025 06:00José Mancusi Nao é a historia bonita de um parlamentar que vai mudar a realidade brasileira e a sua realidade, mas sim os projetos de lei que ele aprova, o resultado de seu trabalho é que conta! Alem da historia bonita e do discurso bacana q ele tem, conhece o trabalho dele no Congresso? Que projetos de lei ou PEC q ele ja aprovou ou relatou q efetivamente trouxe melhoria para os brasileiros?
LUCIANA SOARES VIGA
08.04.2025 05:55O que esperar do eleitor que nao conhece a sua própria constituição federal? Nos USA e na Europa, as crianças do ensino fundamental ja aprendem na escola a constituição do seu país, seus direitos, as competências dos poderes institucionais. No Brasil , politico é eleito pelo numero de seguidores q possui e o discurso bonito q faz. O Brasileiro sequer ler 2 livros por ano… mal conseguem interpretar um titulo de uma materia… Que fase trevosa, meus colegas, que fase trevosa!! Em 2026 outros Nicolas e Janones surgirão , infelizmente
Fabio B
07.04.2025 19:06Impressionante como o brasileiro tem essa tendência de venerar oportunistas baratos e caras de pau. O artigo mostra bem que esse Nikolas se encaixa bem nesse perfil. Até hoje, nada de concreto foi entregue por ele à direita, só vive de “Bolsonaro, eu te amo” e lacração vazia. E, afinal, o que ele entregou? Repito a pergunta: quantos projetos de lei aprovou? Quantas relatorias entregou?
Fabio B
07.04.2025 18:58Ari, você não quer material de qualidade e sem viés. Você quer viés, sim, mas desde que seja favorável ao político que você idolatra. O incômodo com o artigo não é pela falta de qualidade, é porque ele não bajula o seu “político de estimação”. Quando a crítica atinge o seu lado, vira “viés ideológico”. Conveniente, não?
Ari Bruno Lorandi
07.04.2025 17:42Concordo com a Mercedes. O Ricardo se acha, mas como muitos colunistas do Antagonista, enxergam de uma maneira atravessada e não conseguem conviver com quem não pensa como eles. Lamentável, e pior, pago minha assinatura para ter material de qualidade, sem viés ideológico, mas que nada.
Mercedes Santos
07.04.2025 17:23Boa tarde, como sugestão. Já que de acordo com sua análise o discurso do Nikolas não resiste a um debate como.uma criança, porque você e os demais antas ( é assim que os antagonistas sempre foram chamados, sou assinante antiga) não convidam o Nikoilas para um debate com gente adulta. Vcs o colocarão no parquinho e a audiência baterá records. Fica a sugestão de uma assinante que entende que direita e esquerda é uma questão de lateralidade. Abençoada semana de trabalho a todos.
Sérgio Luís stuchi
07.04.2025 14:28Acho muito oportuno seu artigo,oportuno? Acho que você deve estender,e bastante,certamente não faltará gente,e com esta mesma precisão e sutileza. Ou voltamos à tradicional imprensa chapa branca ,que estamos acostumados. Só para sinalizar ,não sou Bolsonarista,tampouco petista.
Pedro Boer
07.04.2025 12:37Petista pira !
Um_velho_na_janela
07.04.2025 11:52É isso Ricardo, desnuda essa farsa cínica e cruel, que hoje chamam de política, dominada por um conluio de "Cosa Nostra" tupiniquim, unidos na missão de enriquecer às custas da exploração e espoliação do alienado povo brasileiro.
Fabio B
07.04.2025 11:26José Mancusi, a "história bonita" do Nikolas se resume a dizer "Bolsonaro, eu te amo" em looping infinito. E nem digo isso de forma maldosa por ele ser um evidente homossexual enrustido, mas pelo oportunismo descarado. Ele é o típico político de palco, um "influencer" surfador fantasiado de deputado. Você gosta dos videozinhos, das lacradas vazias no Twitter? Ótimo. Mas e projetos de lei aprovados? Quantas relatorias ele assumiu e entregou? O que de fato e concreto ele fez para a direita, além de se autopromover e puxar o saco do Bolsonaro? Diferenciado? Nem na cara de pau...